Ela tem olhos azuis e penetram fundo em mim. Ela remexe com todas as coisas que eu deixo guardadas, e ela é sábia, esperta e sabe me conduzir. Não gosto disso, de sair do meu auto-controle, que a minha retórica soe falha. Mas ela sempre encontra os erros, as falácias de meus argumentos - coisas que eu mesma não vi. E é esse o maior baque.
Pelo que noto, diz-me arrumando os óculos meia-lua, é como se fosse tudo folhas. Alguns são meros rascunhos de duas ou três linhas que você amassa e joga fora. Outros, um rascunho inteiro, de página frente e verso, mas que você não quer colocar no meio da obra final - e acaba por ter o mesmo fim que o outro. Há aqueles em que você escreveu meia dúzia de coisas, mas eram versos tão simples e ritmados que você os guardou. Aqueles que mereceram entrar no livro, mas tornaram-se as famosas páginas viradas... mas este, ela me diz este, ela me diz, este sim!, ela me diz, este não é uma ou três páginas, é um livro todo, uma história inteira que está vindo em volumes. Sabe como aquelas sagas em que quando se termina as pessoas querem imaginar o que aconeteceu depois ainda? É isso. Este, para você, é uma saga, mas você está no terceiro livro e os empilha, lado à lado, na sua estante, cabeça, coração. E você não vai terminar até que acredite que é melhor terminá-lo do jeito que está.
E você não vai terminá-lo.
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