30 de junho de 2011

Tem algo nisso tudo que me impede de escrever. Sinto tanto aqui e não consigo transpôr para cá. Uma mínima parte que seja, uma fração do que se passa em um segundo... qualquer coisa que seja. Mas não. Isso tudo é meu e cabe a mim sentir.

27 de junho de 2011

Redundância

Ela abaixou a cabeça e se sentiu menor do que realmente era. Algo ali dentro desejava que estivesse chovendo, mesmo que ela tivesse repulsão por clichês, mas, naquele instante, seria o melhor a acontecer. Se chovesse, teria seu corpo encoberto por alguma coisa além da vergonha.
            Não, não se sentia arrependida. A vergonha era pela admissão – admitir que tinha algo extremamente errado em sentir falta de um abraço que nunca fora seu. Deveria ser apenas seu tudo aquilo que lhe dava proteção.
            Deveriam ser todos seus aqueles abraços que a abraçam do jeito certo em que ela deve ser abraçada.
            (E assim ela não se sentia – porque era no abraço em que tudo dentro dela passava a ser compreendido, sem necessitar explicar, nomear e tornar seus sentimentos meros nomes, passíveis de definições).
            Talvez o que a acometia agora fosse uma pequena porção de egoísmo. É, era. E cadê a chuva nessas horas em que ela mais precisava sentir-se coberta?! A chuva abraçaria da mesma forma, acolhendo e compreendendo o quão estimado esse simples ato era?!
            Não. Não seria a mesma coisa. A chuva abraça a todos igualmente porque gosta de abraçar – e aquele abraço a abraçava porque era ela quem estava sendo abraçada.
            Então que não chova.

(27/06/2011 – bvollet).

25 de junho de 2011

Faz todo sentido. Pensando desta maneira, desta correta maneira, faz todo sentido cada uma delas que caíram de mim.

23 de junho de 2011

Os Meros Detalhes Dela.
(publicado aqui)

Existem nela séries e séries de detalhes em que muito me chamam a atenção – a minha tão especializada atenção, de que nada sabe sobre presenciar detalhes, que apenas nota ao todo sem me instigar a mais nada, sem precisar destrinchar esse todo para me persuadir.

Persuasão é algo que me convida – nela. A ela. Por ela. Arrasto-me sobre aquele corpo de formas que sinto sobre meus dedos mesmo sem antes tocá-las. Dedilho sua pele, sua cintura, acompanho seu donaire com uma faminta vontade de possuí-lo para mim. Sinto seu cheiro, sinto seu gosto – ela tem gosto de café. De chocolate amargo. De morango mergulhado em doce. De tequila, sal e limão.

Ela tem gosto de olhar de lince, de Capitu – e talvez ela me traia sem saber que eu a vejo. A persuasão escorre deliberada pelos lábios, boca, palavras, e ela me persuade a ficar estagnado neste momento, neste peculiar momento em que a espreito dentre a multidão.

Ela caminha, foge, persegue, vira, retorna, desiste e dança... ah!, e como me dança. Leva-me daqui a ali, em passos firmes, machucando o chão com seus saltos, seus passos concisos. A coerência escorre pelos dedos, me matando de longe, com tiros de sedução e charme – sua boca, sua tão formosa e rubra boca. Sorrindo sem a mim. Sorrindo não para mim.

A boca sorri muito, mas são as séries de detalhes que me fazem perspicaz para os seus traços. Não aprendi a lê-la, mas a decifrá-la. Ela fala bonito, argumentando, afirmando, sem nunca perguntar – mas eu decifro suas narrações, posso capturar em minhas mãos a carne sem armadura, sem cascos, toda traumatizada.

Posso feri-la com meus dedos.

Posso machucá-la com meus beijos.

E ela me maltrata. Marca-me em fogo e em brasa em cada beijo distribuído a amores inventados... Sei que nela está guardado a mim ainda – e disso ela não pode se desvencilhar.

Não quer largar.

Os olhos, marcados em traços pretos, são castanhos, de castanhos mais escuros, mais capazes que aos meus. Os meus não atraem. Os dela me cativam. Não consigo. Não desvio nem para sorver do meu Scott. Não desvio nem quando ela some – sinto sua presença, sua lascívia ardendo contra minha vontade.

A posse.

A diferença está na posse – ela nunca quis me possuir, me chamar de seu. Sempre dizia em estar e sentir-se minha: companhia, amada, cara amiga. E o tempo que passou desproporcional para nós dois me fez decifrá-la – e ardem de dor a cada aproximação.

São meros detalhes de sua desdenha perante a mim. Ela ficou charmosa, desenvolveu suas belezas e talvez eu mate uma por uma, tornando-a, assim, desta cruel maneira, crua.

Acredite em mim, ela é linda assim – em seu puro estado natural, uma menina medrosa, desprotegida, que chora à noite nas suas controvérsias de sentimento. Amo-a assim; desejo-a em qualquer condição.

Você me arde, querida, arde a minha alma em ciúme quando brinca deste jeito com os meus ânimos, quando dança de ventre e sorrisos com outros, aproximando seu corpo até o ponto em que eu bem conheço: exato limite do atordoamento. Não nota que eles também a querem?!, deitar o seu corpo, que eu bem já decorei em suas formas e simetria, sobre uma cama de motel qualquer?! Eu a levo para casa, deixo-a em seu portão e espero-a entrar (todas as madrugadas em que você se atreve a cortar meus dedos em suas andanças noturnas. Um shot de tequila para animar, um outro para degustar e só mais um para esquecer – e temo que seja a mim).

Ela sai de noite em noite, procurando-me. E ela não encontra. Não percebe que estou sempre aqui, apoiado nos bares mais próximos para acudi-la em suas bebedeiras – as tantas em que espero ansioso e que nunca chegam. O controle é nato, não pode escorregar.

(E quando escorrega, chora e se ausenta para mim).

Fique. Capitu, fique. Aceito. Condeno-me. Mas aceito. E deixe-me aqui, à paisana, fingindo a todo instante que não é por você que meus olhos se persuadem a uma saudade e ao ato de comprimir o que senti tanto por você.

E aqui, comigo em minha face, ainda arde o estalo de seus dedos violentamente enciumados.



(bruvollet 23/06/2011)

18 de junho de 2011

"teve uma hora que parecia que ia dar certo."
(caio fernando abreu)
Não há beleza que você não possa enxergar, mas há algo além daquilo ali. Você percebe?! Tem um quê a mais que deveria chamar somente a sua atenção, porque ela só pensa em você quando deseja ser charmosa. O olhar sedutor é seu. A curva do pescoço é sua. O dedilhar de uma cintura seria sempre somente seu. Você não percebe as marcas, as mágoas, o arrependimento. O peito batendo contra o coração para controlá-lo. A oração dentre um coração.
Não há nada ali que você já nao saiba - aliás, foi você quem a fez se descobrir como pessoa feminina, com curvas, desejos, sonhos e sorrisos em seu donaire meio desajeitado. Você a fez se esquecer que era uma mera menininha perdida e a fez mulher presente, tornando-a, nos próprios sentimentos, uma criança medrosa. Você foi quem a fez crescer e recuar. Você fê-la mais capaz com receio de se mostrar.
Existe, então, alguma beleza nela em que você ainda não tenha desenvolvido para depois matar?!

13 de junho de 2011

Tenho uma confissão a fazer: estou mentindo.
Não há paixão dentro de mim, não há amores. Não. Perdi todos, mas tenho vergonha de assumir que estou vazia. Não sinto a falta dele(s), quero que a mais nada aconteça entre a gente. Não quero porque me ausentei das reais companhias, criando vínculos com os meus ideais, meus platônicos. Idealizei demais a tudo, eu, eles, vocês, carros, festas, vestidos, livro, jornais, inspiração.
Vivo da minha idealização, e todos vocês estão contidos. Mas sinto em dizer que os meus de vocês são melhores, mais condicentes, mais meus.
É apenas uma confissão a fazer, e você nem vai sentir a ironia no texto inteiro -  a ironia de uma vida inteira.

4 de junho de 2011

Tem todas essas coisas que são carregadas comigo. Eu as carrego por certa vontade - carrego-as por serem intrinsecas. Simultâneas a mim. Há os sonhos substituídos, amores arrependidos, tapas distribuídos, beijos desperdiçados, toques indesejados. Vontades reprimidas, loucuras esquecidas, gostos perdidos.
E há tudo aquilo que abandonei por outras causas - aquilo tudo que abandonei por causa nenhuma. Apenas deixei para trás e é este deixar para trás que vem comigo, devido à quantidade de coisas em que deixei pelo caminho.

Gostaria de não o ter deixado também, para não precisar carregar a sua saudade comigo.