11 de julho de 2017

Olliver

- É muito estranho ter um amigo que você pode dar um google.

Essa é a sua frase gota de água para nosso copo extremamente cheio para a nossa relação. A ideia de que eu nunca te dou nada além do que todo mundo já sabe ou possa vir a saber sem nunca ter me encontrado pela frente te coloca uns dois passos atrás nisso. Você é diferente porque seu nome não está lá. Se estiver será na lista de aprovação da faculdade e no registro do Facebook (com suas próprias palavras), fora a busca cruzada com nomes de alguns familiares próximos.

Tão dramática.

Ou pelo menos assim por enquanto eu te acho porque, em verdade fria, não te conheço muito bem. Acredito em que em cada sentença sua dita muito rápido é para pontuar um certo humor e esconder uma certa verdade. É o que eu sei sobre você.

- A gente sai para jantar e eu_

- Você sabe que não posso jantar. Preciso trabalhar.

- Você trabalha muito.

- É isso o que as pessoas que precisam de dinheiro fazem para conseguir dinheiro.

- E você tá sempre falando que precisa de dinheiro! - Tiro a carteira do bolso e a abro na sua frente e antes mesmo de tocar as notas com os dedos vejo sua imagem recuar no limite do meu campo de visão.

- Esse é o seu problema. Isso não é mais importante para você e aí você acha que eu fico o quê?, disparando mensagens sublimares quanto a fazer você agir dessa maneira?

- Estou propondo uma solução para o seu problema - digo com um tom mais firme e alto enquanto volto a carteira para o bolso da calça.

E você começa a gesticular e falar tão alto quanto eu:

- Não é problema, é uma condição. Pessoas precisam de dinheiro o tempo todo. E pessoas ordinárias, normais, fora do deslumbre de um emprego que algum dia venha a pagar muito bem, precisam trabalhar para ter dinheiro, o mínimo que seja, mas precisam.

- Posso te arranjar um emprego melhor.

- Não quero um emprego melhor. Eu gosto do meu. Por hoje ele é suficiente. O que eu quero de você daqui para frente é que legitime minha condição.

Eu espero. Espero mesmo que você me dê as costas e vá embora, embarque em um avião qualquer e se aporte em outra cidade qualquer. Foi o que você fez com a sua família, por que não fará com alguém que conhece há poucas semanas?

- Estou aqui para mudanças, e se eu entrei na sua vida é porque você também precisa.

- Um café da manhã depois do seu turno então?

10 de julho de 2017

Se tu fossi nella mia anima un giorno

De olhos vidrados para um além que eu não via, sua imagem me assustou. De todas as pessoas, eu jamais apostaria em você. A reclusão. A ausência. A falta de informação. Não de você.

Besteira mesmo foi me ver naquela situação, meio ao desespero, meio à incredulidade, em que você, voluntariamente, se pôs e - pior! - não me incluiu.

- Estou exausta, é só isso.

O pijama amarrotado, uma meia de cada pé, os esmaltes dos dedos pelas metades e um brinco faltando na orelha. "Estava me incomodando", você me disse depois. Fazia anos que eu não via suas orelhas com um único brinco ausente. Fazia anos que você aportou nessa cidade e me tornou dependente dessa amizade - então, por favor, alimente meu vício.

- Você precisa descansar. Largar o pé e deixar que as coisas fluam um pouco sem você.

E de todas as pessoas no mundo, você era a última que eu achei que diria tais palavras. Você, a preguiçosa, a desleixada, a chorona pelos cantos porque o mundo não era bom o suficiente para sua falta de prática e vontade. Ah!, os lamentos sarcásticos com resquícios de uma mágoa mais profunda. Mas, ainda com os olhos apáticos, sem sorriso de brincadeira, sem tons irônicos e sem movimentar as mãos que estavam escondidas entre as pernas, você me deu a resposta. Precisava fazer, precisava fazer qualquer coisa, desde que o verbo se mantivesse e os predicados se seguissem pela cascata de peças de dominós.

- Estou exausta - você repetiu para mim, com um leve semblante menos petrificado e mais humano que a sua ânima lhe deu ao tocar meus dedos em seus joelhos, e o medo que me acometeu me fez desejar sua exaustão para os demais dias de nossas vidas desde que você estivesse viva o suficiente para então assim poder se sentir.

- Então se sinta assim, exausta.