31 de maio de 2015

(4) E eu que não vi você mudar

Eu falei que seria assim, mas confesso que eu mesmo não acreditei. Disse tudo tão alto e tantas vezes que acho que era para me forçar a acreditar nessa lógica simples - e, burrice a minha, cantei essa jogada há tanto tempo e demorou para chegar. Na verdade, não pus fé de que chegaria. E eis você aí, parada diante de mim, braços cruzados e tão irredutível nos seus dizeres. Justo você que me apaziguou tantas vezes, que pegou na minha mão, me sorriu e me olhou e disse que iríamos fazer dar certo. Dava certo, você fala, antes de você parar de confiar em mim, ou, melhor, antes de me subestimar. Te subestimar, querida? Como posso subestimar alguém que sabe até a diferença na maneira como eu pisco? Você pisca errado agora, tá nervoso porque sabe que não vou acreditar nesse seu discurso. Sabe que nunca acreditei. Sei. Mas você ficava... por que ficava se sabia que eu não prestava? Empilhar pedra sobre pedra para construir um lindo castelo. Sou pedras e você quis que eu fosse mármore. Não. Sempre soube quem você era, mas eu fiquei porque eu fui a única que você aceitou por perto. Ou é mentira que você me quis aqui também? Mentira que você não queria que eu estivesse fora?!

A mentira é que eu quero que você se afaste.
E você já foi embora.
E dessa vez acho que não volta.

O que eu vou fazer com esse  monte de pedra, querida?
Como fazer um castelo para você sem a mão-de-obra?


Querida?

25 de maio de 2015

3

Preciso te dizer, e dessa vez será a última: para mim, não dá mais. Ou a gente fica junto e eu finjo que ignoro todos os os seus erros e defeitos, ou a gente briga feio, vira a cara e viramos mera lembrança de um passado. Nem bom e nem ruim. Mas já te imploro, antes que você comece a de fato considerar as minhas opções, que não quero nenhuma delas, querida. Quero aquela em que você segura minha mão e me olha no fundo dos olhos e diz que vamos encontrar uma saída juntos. Que o jeito como você vê o mundo é muito mais amplo do que a minha visão e, então, por isso, vamos sentar e pensar numa solução juntos. E, de verdade, eu não quero mais brigar. Estou cansado desse ciúme que me invade e estou cansado de esquecer as suas palavras. Atitudes, você me diz, e me sorri, e fala que faz de tudo para eu ficar calmo mesmo longe. Carrego você comigo, você me conta, e jamais te deixo para trás quando me afasto. É que, veja, linda, te vejo caminhar embora toda semana. Te vejo entrar no carro e ir embora para uma vida que eu não participo, uma rotina que eu não conheço de cor e salteado. Quando você vai embora, quem fica sou eu, mesmo com você me dizendo que me leva... me leva de verdade! Me deixe ficar lá com você, conhecer cada passo seu por aquela cidade imensa, beber de cada cerveja que você compra. Vamos compartilhar mais que esse sentimento, quero compartilhar a sua vida que não conheço. E eu sei que você vai sorrir e dizer que preciso ter paciência, que já já você volta e que você sempre vai voltar. Eu sempre caminho em direção a você, querido. Não quero mais isso... não quero caminhar com direção, quero caminhar com você, seja por onde for. A gente vai brigar toda semana e eu sei que isso vai te cansar e, quando eu nem mais perceber, seu pensamento vai voar para tão longe de mim que voltar será apenas parte da rotina, até que esta também mude e eu seja, pois, sua lembrança de um passado. Nem ruim. Nem bom. Já te aconteceu uma vez, lembra? E você me diz que o nosso futuro depende de muitas variáveis, e que algumas é você quem controla e outras sou eu. Engraçado como tudo parece sereno com a sua voz e como eu entendo o que você quer de fato de me dizer. Chega de ciúme sem motivo. Chega de discussões nos nossos encontros. Vamos trabalhar na felicidade que é te receber em meus braços em todas as suas voltas, porque, veja, você sempre volta e eu sempre te recebo.

18 de maio de 2015

(-1) Beira de piscina

E quando eu percebo tô com a minha mão na sua e quando eu percebo tô ausente desse dia inteiro e quando eu percebo você não fala mais nada e quando eu percebo seu rosto está entre os meus dedos e quando eu percebo sua pele é tão quente para mim e quando eu percebo tô ali. Parado. Olhando. Te partindo. Te apreciando em pedaços. E quando eu percebo tem um coração acelerado que parece pertencer ao meu peito e quer ir de encontro ao seu e quando eu percebo acho que esqueço de respirar e notar se ainda estou acordado, vivo, dormindo. E quando eu percebo a sua boca já está na minha (e a minha já estava na sua há muito antes) e quando eu percebo de fato o que está acontecendo entre a gente... é familiar. Familiar estar tão afoito ao seu lado e familiar é te beijar. Familiar fazer meu corpo e mente relembrarem de como eles reagiam diante de você. E quando percebo você se afasta, olha para abaixo, morde o lábio e meu coração acho que para de vez. Por favor, menina, sorria para mim nesse instante para eu saber que está tudo bem! Pisque duas vezes se gostou, três se foi ousado demais, uma se quiser me esquecer.
Mas você não faz nada.
Me dá um beijo no rosto, levanta com cuidado, arruma a saia do vestido e


me estende a mão.
Qual seu celular?
Onde você mora?
Casa comigo?

16 de maio de 2015

Você.

Denomino assim um outro sujeito próximo a mim, assumindo certas condições implícitas neste ato tão humano de verbalizar um som para uma pessoa. Você. Assumo que seja um ser; assumo que seja passível de compreensão de que é com você com quem converso. Assumo que você sabe de quem estou falando. E estou falando de você.

Sempre estou falando de você.

E por "sempre" quero sim me referir a todos os espaços de tempos contínuos e, sim, eles são sempre seus. Falo de você o tempo todo dentro da minha cabeça, imaginando minhas inseguranças e as suas e tentando não imaginar quando você vai pular fora deste barco. Navio. Sim, sou um transatlântico. Se eu pudesse, também cairia fora.

Vá, pule, e nade nesse oceano... que também é a mim.

(2) Vamos ficar aqui?

Garota,
vou te dizer uma coisa vez por todas: não quero. Está me escutando? Não quero!!! E você só me olha, de braços cruzados e diz que não vai discutir comigo aqui. Que droga! Odeio como você pondera as palavras para cima de mim e ainda controla os humores. Você fala com a voz baixa e me olha estática, e o que eu mais quero agora é gritar com você. Apontar o dedo no meio da sua cara e dizer tudo o que você faz que alimenta a minha raiva.
Tô sim com raiva de você.
Te vejo virar e direcionar seus passos para a saída e eu a sigo. Faço isso porque quero sim bravejar na sua cara e te ouvir que eu tenho a razão e vamos fazer, a partir de agora, como eu decidir. O vento frio da noite me flagela no pescoço e eu encolho, mas você segue à frente fincando seus saltos na calçada com tanta força e elegância como se esse frio não a atingisse. Olha aqui, esse cara ficou em cima a noite toda e você deixou! E você só me olha, cruza os braços e me pergunta o que mais. O que mais? Ele não é sujeito para você ficar se vulgarizando... Não, linda, não foi isso o que eu quis dizer. Você só respira fundo e me pede para contar, uma vez por todas, o que está acontecendo e me pede para que seja extremamente sincero. Nada de encontrar desculpas no que você faz ou deixa de fazer.
A verdade? Eu quero te falar a verdade, mas dizê-la é assumir para você - e, antes de todo mundo, para mim - uma coisa que eu não sei ao certo o que é. Sinto raiva, respondo. Sinto raiva quando vejo que tem mais gente que se interessa por você. Não entendo o por quê de você rir; que coisa, menina! Tô aqui abrindo meu coração e você está rindo de mim?! E para a minha surpresa você abaixa os braços e relaxa os ombros e me sorri, dizendo que isso não é raiva, querido, é ciúme. Fico inquieto por uns instantes. Ciúme de você? Por que eu teria ciúme de você?! Por que eu sentiria algo assim em relação à você? Por que que eu...

 eu a beijo.
Instintivamente.

Sim, linda, é ciúmes.
Vamos ficar aqui?
Não quero mais voltar para lá.
Não quero voltar onde todos podem te ver.

15 de maio de 2015

(1) Diga-se, de passagem, a respeito

Eu tô meio bêbado sim, e devo dizer que nunca te vi mais linda. Essa mistura dos pontinhos reluzentes das luzes dos postes com o contorno do seu rosto, e eu sei que você sorri agora ou está rindo de mim e, na verdade, tanto faz. Que seja para ou de, não me importa, desde que seja eu o foco.
Por mim, sentava aqui mesmo no meio fio, tirava meu casaco, estendia na calçada para que então você se sentasse. Ficava aqui, percebendo o chão se inverter e a cabeça doer, com você sentada ao meu lado dizendo que me leva embora. Sim, linda, eu quero ir embora. Vamos então? Mas, toma! Aqui tá a chave do meu carro. Não me importo que você o dirija, você faz isso com tanta delicadeza que prefiro só te olhar, mesmo que jogado no outro banco. Estou apenas meio bêbado, querida. Ainda posso andar sozinho, pensar sozinho e conversar com você - só que eu quero apenas te olhar por esse resto de noite. Você abaixo o som da música, deixa quase ambiente, e ainda cantarola baixinho e eu finjo que é para mim. Te pergunto aonde você está me levando, se vai me sequestrar e você ri, diz que está indo para minha casa e que jamais me sequestraria. Que coisa, adoraria sumir por esse mundo com você. Me leva, linda? E eu tenho o dom de te fazer rir de madrugada. Que dom mais único, porque seu senso de humor é muito diferente do meu. Tão alto, tão elevado. Você ri de coisas trágicas, de sarcasmos, de entonações diferentes, mas não ri do que eu falo quando sóbrio. Seria esse o motivo de eu beber? E você diz que eu bebo por convenção, não porque eu gosto de vê-la assim, tão relaxada ao meu lado. Seus dedos longos me chamam atenção, sua unha esmaltada em preto brilha em cima do volante. Pára, eu te peço. Pára, vamos parar aqui, vamos andar na rua, vamos sentir o frio da noite, vamos? E, para a minha surpresa, você estaciona o carro e diz que sim. Eu abro a porta e me ponho de pé, praticamente são, porque esse momento, minha linda, eu quero sentir e guardar. Você vem até mim e eu estico a mão. Quero andar de mãos dadas contigo - coisa que a gente não faz em público. A gente não dança, a gente não se olha, não se beija, não se toca. Eu só queria poder andar de mãos dadas às suas quando bem quisesse, e - dita essa verdade bem alta - eu quero a todo momento. Você aceita e a gente anda... Caramba, menina, você me faz feliz demais com tudo isso.

13 de maio de 2015

Tava tão frio que seu nariz já estava todo vermelho. Parada, estática, com as mãos cobertas pelas luvas enfiadas dentro dos bolsos. Você nem queria vir para começo de conversa, mas te convenci ao implantar a ideia de que perturbaria seu sono com ligações e mensagens até que eu fosse embora do show e passaria na frente da sua casa, subiria até a sua varanda e só sossegaria enquanto abrisse a janela e me desse um beijo.
Perturbar seu sono de várias formas até que ficasse enraizado na sua mente o quão mais simples seria aceitar meus convites.
- Tá gostando do show?!
Eu queria rir de você. Nada ali combinava muito com você, mas ali estava, agasalhada até a cabeça, com 3 meias grossas e bota, estática, me odiando um pouco, verdade.
- As duas músicas que eu conhecia já foram tocadas.
Você estava num péssimo humor.
- Quer ir embora?
Me aproximei de você e a envolvi com os meus braços, segurando seu corpo perto ao meu. Você levantou os olhos para mim e me encarou por alguns segundinhos.
- Não. Eu consigo esperar.
E então me sorriu.
E eu sorri, imaginando se você não via a hora daquilo tudo terminar, eu te deixar em casa, talvez ganhar um beijo e poder dormir sossegada, sem quaisquer tipos de interrupção da minha parte.
Te achei ainda mais linda.

4 de maio de 2015

Ironias à parte, que se parta o que partiu.

Agora é a minha vez de te contar como a nossa história teria sido.
Querida, você não foi meu "e se". Te descartei logo de imediato e nunca mais pensei em você. E eu nem sei ao certo o porquê. Acho que tudo passa mesmo, esquecemos das pessoas quando menos percebemos. Eu não percebi. Você simplesmente sumiu da minha cabeça e do meu coração. Disse que te amava, mas hoje sei que não. Nossa história terminou na catástrofe de como começou - e dissipou.
Se hoje a vejo tão perto de mim e absolutamente nada me faz querer dar esses 4 passos que nos separam, sei que acabou mesmo. Mas você vem até mim, meio tímida, e eu acho que você não me esqueceu. Meu ego se inflama e sei que você ainda pensa em mim. Que coisa! Que ironia, justo a mim que no começo tive de fazer de tudo para você me querer por perto e agora você não aguenta.
- Moço, roubaram sua carteira.
E isso eu também não percebi. Nem senti. O filhodaputa enfiou a mão no meu bolso e eu não percebi nada, mas você viu. Me deu a notícia e depois voltou para a companhia do seu namorado.
E eu não percebi mesmo.