31 de dezembro de 2015

Ladi Di

O telefone tocava insistentemente. Chamada seguida de chamada, sem tempo notável. Parecia uma chamada longa e única que penetrava no seu sonho e ele atendia e diziam coisas horríveis. O susto de se ver acordado com o pesadelo o levou até a cozinha, descalço mesmo, com a perda de calor dos pés para o piso gelado. Aquela dor de cabeça leve porém insistente, como se tentasse alertá-lo de que era algo mais profundo e quase esquecido. Escolheu o copo comprido já em cima da pia e o encheu de água gelada. Tomou tudo em um gole só, apoiou as mãos sobre a pia e encarou o granizo ainda com a vista meio desfocada. Olhou seu reflexo então no vidro da janela e depois para o céu escuro daquela madrugada. Uma noite tão linda e ele acordado, com pesadelos, descalço e dor de cabeça. Estranho que havia no prédio da frente alguns cômodos ainda com luzes acesas, salas com televisões ligadas e pessoas paradas, em pé, diante delas. A dor de acbeça aumentou e ele apressou os passos até o telefone. Outras luzes lá fora começaram a se acedenrem rapidamente e ele quis correr até o telefone e atender aquela única chamada longa. O salto da boca ao dizer alô e não reconhecer a voz do outro lado da linha. Senhor. Chamavam-no de "senhor", perguntando se aquele era o número certo e as paredes rodavam em torno dele de uma forma não lógica e o deixavam tonto, nauseado, e tinha aquela sensação de falta de ar e dor na boca do estômago como se algo o pressionasse ali com muita muita força. Queria vomitar, queria correr para o banheiro, ajeolhar no ladrilho e enfiar a cabeça na louça até quase sentir a água bater na ponta de seu nariz e queria levar consigo o telefone para não perder o time da confissão daquela madrugada, uma confissão que sua mente já entendia e seu coração pulava em negação. O acidente não fora culpa dela mas, que coisa, aconteceu mesmo assim. O culpado não era ela e estava sendo operado naquele mesmo instante com grandes chances de se recuperar e voltar para sua casa feliz e ver seus parentes felizes e continuar sua vida medíocre - enquanto toda a matéria dela estava fadada ao abstrato.
Ela, agora, seria essência.
Lembrança.

29 de dezembro de 2015

Knocking, knocking.
Foi lido
e vai bater por um tempo.

9 de novembro de 2015

Líquido.
Fluido estado que se tem todas as formas de qualquer recipiente.
E que,
na temperatura certa,
evapora.

28 de setembro de 2015

De um dia até o mesmo, um ano depois, as mudanças correram. Incrível como mudanças sempre acontecem, como estar em movimento é natural mesmo quando tudo parece ser tão apático. E o movimento, e não outra coisa, outro estado, leva a fluir pelos dias até chegar aqui: 365 dias depois.
Pasmem. Fiz 25 anos. Pasmem. Não sou mais criança, adolescente... passiva. Devo ser agito, fazer muitas oportunidades aparecerem e crescerem, fazer uma rota-ativa de sortes conquistadas para então estar aonde devo estar.
A verdade que cheguei sobre mim é que as coisas acontece em delay, comigo. Descobrir o que se quer, o que fazer, mudar e repensar é sempre em delay. Fazer o quê? O que não dá mesmo é ficar estagnado. Então as rodas vão rolar e girar; sempre no mesmo eixo, mas em outro lugar.
Ser 25 anos e girar.

5 de agosto de 2015

7 a 1

Que coisa, querido!
Que coisa hoje fechar os olhos e ter a plena sensação de que foi assim que estivesse por todos aqueles meses. Queria poder te mostrar essa sensação de escuridão que me abateu, te mostrar como foi ficar perdida dentro de mim mesma sem entender muito bem nada do que eu sentia ou filtrava sentir.
Eu tinha fechado a porta, lembra? Tinha trancado todo mundo lá fora e acho que girei a chave na fechadura, joguei-a fora e depois sodei a fechadura, joguei cimento no batente e assisti secar. Também apaguei a luz. Apaguei a luz para me camuflar dentro desse recinto. Apaguei a luz para não ver nada - assim como eu já não via há muito. Tranquei a mim dentro de mim, com medo de que me tocassem tão no âmago como você fazia... eu era tão sem camadas, tão sem ser cebola, tão Ser com você.
Achei que jamais poderia ser tão franca, verdadeira e carne viva com alguém de novo.
Percebe por que tão cega?
Você tava lá fora, analisou a situação, atirou a pedra, quebrou a vidraria e surgiu pela janela. Caiu no escuro e sabe Deus como me encontrou no meio dali.
Ou fui eu que te enxerguei em toda aquela escuridão, me guiou até a janela e me fez me jogar contra o vidro e cai no seus braços, ali do outro lado, meio que no acaso, então, me carregou no colo? Assim mesmo, como eu escrevi ali atrás, no acaso. Você mesmo me disse que não tava tentando nada - só para se entender como fluí para você, não precisando de nada de muito especial. Foi aos poucos, com uma mão dada no meio da multidão, um corpo em febre querendo meia atenção, uma calça nova a ser experimentada, um beijo recusado no meio da madrugada, aquela rápida mão que no show tocou a cintura, cada olhar aberto em insônia achando que era raiva. Cada olhar no celular para ver seu nome, cada pontinha de ciúme encobertada por uma raiva (ou será que eu chamei de raiva para não me explicar o que tava acontecendo?). Cada dia pensando em um presente, cada dia pensando no seu aniversário e o que essa data um dia significou. E hoje significa algo novo, algo ainda maior.
Você arremessou pedregulhos na minha janela na total aleatoriedade. Fechava os olhos, girava o corpo e jogava na direção em que sua mão parava. Quis o Acaso que fosse sempre na minha janela. Quis o Acaso que primeiro eu ficasse enfurecida com o barulhinho. Quis o Destino que eu pensasse que fosse o Acaso e fui lá ver. E vi você.
Na naturalidade do Destino eu me senti em você.
Sim, me atirei contra o vidro.
Sim, torci para que caísse no seu colo.
Sim, torci para que você não se assustasse muito.
Sim, torci para que me abraçasse forte.
(Num íntimo medo de que você me abraçasse uma última vez).
Nem sei como agradecer, para ser bem sincera, por não ter me expulsado. Mas agradeço na mais pura Gratidão por ter-me deixado segurar sua mão com tanta frequência, e por ter-me feito enxergar que ainda restava coberturas em mim diante de você. Grata por fazer fluir essa Confiança em você, não apenas como namorado, mas como eterno guardador dos meus segredos tão frios e nus. Dessa vez, meu querido, garanto que não tenho medo de despir minha alma diante dos seus olhos, que sei que você vai fazer bom uso de cada coisa que te digo e que o ciúme bobo logo logo evaporará.
Afinal, querido, é olhando nos seus olhos que posso sentir tudo fluir livremente; é procurando sua mão para caminhar que sei que estamos bem e vamos nos fazer ser bem porque o certo é eu estar com você, e a recíproca é tão verdadeira que faz da mutualidade de ambos algo totalmente desnecessário de se escrever aqui. Agimos e sentimos juntos.
Somos juntos, e dessa vez, querido, seremos ainda mais. A fragilidade que sinto em seu abraço é o suficiente para que eu queira ganhar força igual para te abraçar de volta. E tudo nessa última sentença é um elogio a você.

Entende o que eu tô tentando te dizer?!
Vamos mirar nossa felicidade crescente, e o nosso Amor transcendente.
Vamos mirar em nós de mãos dadas.

1 de julho de 2015

Se fôsse para não-ser/ser?

Ela me contou que eu preciso me decidir logo, que você não vai ficar à mercê da minha indecisão esperando que um dia ela se desfaça. Ela me pediu para escolher logo de uma vez o que eu vou fazer, se entrego essa carta do jeito que escrevi da primeira vez ou mudo o final. Você precisa concluir, ela me disse e ninguém imagine o quanto. E me pesa essa indecisão por não conseguir entender nada e saber que algumas coisas simplesmente não mudam e outras eu não consigo entender por que mudaram tanto, e só agora. Que coisa!, eu vou gritar, numa mistura não fundamentada de raiva, rancor e nostalgia. Podia ter sido tanta coisa diferente, poderia ter sido tanta coisa que não a mesma. Mas, aí sou eu pensando livremente e sem linearidade nenhuma, jamais teria sido diferente porque já aconteceu - e se não tivesse fim, talvez nada do que hoje anda e acontece seria. Nada do que hoje somos estaria. Seria. Vai permanecer? Uma promessa calada feita algumas vezes que não se cumpria. Um pedido feito numa noite na frente do portão. Queria a mudança completa, e não só a transição. De transição já basta eu, que quando chega o ponto de ser irredutível, me jogo para trás e mudo de direção. Acho que a minha indecisão circunda a transição - e uma calada dúvida de não compreender o que é esse momento repleto de sentimentos confusos e contraditórios, que por muitas vezes batem de frente um com o outro numa força tão absurda que essa energia liberada e propagada chamei, carinhosamente, de dor-de-cabeça. Eles estão disputando espaço com espadas de ferro e estão sem escudos, aptos a ferir e se machucarem. E aí dói. Aí eu não durmo. Aí eu já não sei de mais nada.

Ela me disse que eu também mudei, e concordo. Mudei-me para o meio do olho do meu próprio furacão.

28 de junho de 2015

Zoombies

Ela tava ali dirigindo até você imaginando um punhado de coisas, sem tirar os olhos da estrada, fazendo as contas de quando fora a última vez que percorrera aquele trajeto e quando fora a última vez que as borboletas se debateram no estômago.
O que seria que teria acontecido com elas? Se debateram tanto antes que agora estavam todas mortas devido ao espaço limitado do estômago? Foram todas corroídas pela acidez interna do órgão? Ou foram esmagadas pelo consumo diário de comida? Quem sabe até mesmo afogadas...
Ela parou na frente da sua casa, quase que silenciosamente, segurou firme o volante entre os dedos e respirou fundo três vezes sem saber. Quis sair correndo e largar o veículo ali mesmo, mas optou por ficar. Ela precisava te encarar. E quando ergueu a cabeça e te viu sair do portão, caminhando em meio às sombra e luzes da noite, talvez alguma borboleta tenha sobrevivido a todas essas catástrofes naturais e físicas. Você entrou pela porta do co-piloto e não percebeu quando ela não te sorriu. Estava atenta às possíveis mudanças internas para não perder o ressucitar das asas das borboletas. E quando você a beijou tão na saudade da última vez em que se viram, nada no estômago mudara.
Elas estavam, de fato, mortas.

42

E se fechasse, por um segundo, os olhos e pudesse redimensionar toda a sua linha tempo, ainda assim você escolheria tudo isso que lhe aconteceu? Seria cada passo do seu passado a predição do seu futuro? E se a partir de agora você só tivesse a ilusão da capacidade da escolha quando, na verdade, aqui, nesse agora, já se foi então sua última chance de ter um bom futuro?

Você correria o risco de mudar o passado que já conhece para tentar um outro novo sem a certeza de futuro nenhum?

7 de junho de 2015

A little patience.
"all we need is a little patience".

Hey,

queria poder agora correr até você só para me aninhar debaixo do seu braço, deixar toda a minha raiva ser expurgada pelos olhos, levantar a cabeça e ir embora. Estou nessa inércia desse sentimento tão perigoso, que ora se acalma e coisas bobas se tornam irrelevantes ora volta a toda me querendo fazer atirar facas em todos os peitos.
Desculpa, mas o seu é um deles.
Nessa mira à laser tá quase todo mundo e isso, às vezes, me deixa com medo.
Outras, me deixa poderosa - com o sangue a ferver e o campo de visão diminuído. Focado.
Quero machucar vocês - e então, não quero mais.


31 de maio de 2015

(4) E eu que não vi você mudar

Eu falei que seria assim, mas confesso que eu mesmo não acreditei. Disse tudo tão alto e tantas vezes que acho que era para me forçar a acreditar nessa lógica simples - e, burrice a minha, cantei essa jogada há tanto tempo e demorou para chegar. Na verdade, não pus fé de que chegaria. E eis você aí, parada diante de mim, braços cruzados e tão irredutível nos seus dizeres. Justo você que me apaziguou tantas vezes, que pegou na minha mão, me sorriu e me olhou e disse que iríamos fazer dar certo. Dava certo, você fala, antes de você parar de confiar em mim, ou, melhor, antes de me subestimar. Te subestimar, querida? Como posso subestimar alguém que sabe até a diferença na maneira como eu pisco? Você pisca errado agora, tá nervoso porque sabe que não vou acreditar nesse seu discurso. Sabe que nunca acreditei. Sei. Mas você ficava... por que ficava se sabia que eu não prestava? Empilhar pedra sobre pedra para construir um lindo castelo. Sou pedras e você quis que eu fosse mármore. Não. Sempre soube quem você era, mas eu fiquei porque eu fui a única que você aceitou por perto. Ou é mentira que você me quis aqui também? Mentira que você não queria que eu estivesse fora?!

A mentira é que eu quero que você se afaste.
E você já foi embora.
E dessa vez acho que não volta.

O que eu vou fazer com esse  monte de pedra, querida?
Como fazer um castelo para você sem a mão-de-obra?


Querida?

25 de maio de 2015

3

Preciso te dizer, e dessa vez será a última: para mim, não dá mais. Ou a gente fica junto e eu finjo que ignoro todos os os seus erros e defeitos, ou a gente briga feio, vira a cara e viramos mera lembrança de um passado. Nem bom e nem ruim. Mas já te imploro, antes que você comece a de fato considerar as minhas opções, que não quero nenhuma delas, querida. Quero aquela em que você segura minha mão e me olha no fundo dos olhos e diz que vamos encontrar uma saída juntos. Que o jeito como você vê o mundo é muito mais amplo do que a minha visão e, então, por isso, vamos sentar e pensar numa solução juntos. E, de verdade, eu não quero mais brigar. Estou cansado desse ciúme que me invade e estou cansado de esquecer as suas palavras. Atitudes, você me diz, e me sorri, e fala que faz de tudo para eu ficar calmo mesmo longe. Carrego você comigo, você me conta, e jamais te deixo para trás quando me afasto. É que, veja, linda, te vejo caminhar embora toda semana. Te vejo entrar no carro e ir embora para uma vida que eu não participo, uma rotina que eu não conheço de cor e salteado. Quando você vai embora, quem fica sou eu, mesmo com você me dizendo que me leva... me leva de verdade! Me deixe ficar lá com você, conhecer cada passo seu por aquela cidade imensa, beber de cada cerveja que você compra. Vamos compartilhar mais que esse sentimento, quero compartilhar a sua vida que não conheço. E eu sei que você vai sorrir e dizer que preciso ter paciência, que já já você volta e que você sempre vai voltar. Eu sempre caminho em direção a você, querido. Não quero mais isso... não quero caminhar com direção, quero caminhar com você, seja por onde for. A gente vai brigar toda semana e eu sei que isso vai te cansar e, quando eu nem mais perceber, seu pensamento vai voar para tão longe de mim que voltar será apenas parte da rotina, até que esta também mude e eu seja, pois, sua lembrança de um passado. Nem ruim. Nem bom. Já te aconteceu uma vez, lembra? E você me diz que o nosso futuro depende de muitas variáveis, e que algumas é você quem controla e outras sou eu. Engraçado como tudo parece sereno com a sua voz e como eu entendo o que você quer de fato de me dizer. Chega de ciúme sem motivo. Chega de discussões nos nossos encontros. Vamos trabalhar na felicidade que é te receber em meus braços em todas as suas voltas, porque, veja, você sempre volta e eu sempre te recebo.

18 de maio de 2015

(-1) Beira de piscina

E quando eu percebo tô com a minha mão na sua e quando eu percebo tô ausente desse dia inteiro e quando eu percebo você não fala mais nada e quando eu percebo seu rosto está entre os meus dedos e quando eu percebo sua pele é tão quente para mim e quando eu percebo tô ali. Parado. Olhando. Te partindo. Te apreciando em pedaços. E quando eu percebo tem um coração acelerado que parece pertencer ao meu peito e quer ir de encontro ao seu e quando eu percebo acho que esqueço de respirar e notar se ainda estou acordado, vivo, dormindo. E quando eu percebo a sua boca já está na minha (e a minha já estava na sua há muito antes) e quando eu percebo de fato o que está acontecendo entre a gente... é familiar. Familiar estar tão afoito ao seu lado e familiar é te beijar. Familiar fazer meu corpo e mente relembrarem de como eles reagiam diante de você. E quando percebo você se afasta, olha para abaixo, morde o lábio e meu coração acho que para de vez. Por favor, menina, sorria para mim nesse instante para eu saber que está tudo bem! Pisque duas vezes se gostou, três se foi ousado demais, uma se quiser me esquecer.
Mas você não faz nada.
Me dá um beijo no rosto, levanta com cuidado, arruma a saia do vestido e


me estende a mão.
Qual seu celular?
Onde você mora?
Casa comigo?

16 de maio de 2015

Você.

Denomino assim um outro sujeito próximo a mim, assumindo certas condições implícitas neste ato tão humano de verbalizar um som para uma pessoa. Você. Assumo que seja um ser; assumo que seja passível de compreensão de que é com você com quem converso. Assumo que você sabe de quem estou falando. E estou falando de você.

Sempre estou falando de você.

E por "sempre" quero sim me referir a todos os espaços de tempos contínuos e, sim, eles são sempre seus. Falo de você o tempo todo dentro da minha cabeça, imaginando minhas inseguranças e as suas e tentando não imaginar quando você vai pular fora deste barco. Navio. Sim, sou um transatlântico. Se eu pudesse, também cairia fora.

Vá, pule, e nade nesse oceano... que também é a mim.

(2) Vamos ficar aqui?

Garota,
vou te dizer uma coisa vez por todas: não quero. Está me escutando? Não quero!!! E você só me olha, de braços cruzados e diz que não vai discutir comigo aqui. Que droga! Odeio como você pondera as palavras para cima de mim e ainda controla os humores. Você fala com a voz baixa e me olha estática, e o que eu mais quero agora é gritar com você. Apontar o dedo no meio da sua cara e dizer tudo o que você faz que alimenta a minha raiva.
Tô sim com raiva de você.
Te vejo virar e direcionar seus passos para a saída e eu a sigo. Faço isso porque quero sim bravejar na sua cara e te ouvir que eu tenho a razão e vamos fazer, a partir de agora, como eu decidir. O vento frio da noite me flagela no pescoço e eu encolho, mas você segue à frente fincando seus saltos na calçada com tanta força e elegância como se esse frio não a atingisse. Olha aqui, esse cara ficou em cima a noite toda e você deixou! E você só me olha, cruza os braços e me pergunta o que mais. O que mais? Ele não é sujeito para você ficar se vulgarizando... Não, linda, não foi isso o que eu quis dizer. Você só respira fundo e me pede para contar, uma vez por todas, o que está acontecendo e me pede para que seja extremamente sincero. Nada de encontrar desculpas no que você faz ou deixa de fazer.
A verdade? Eu quero te falar a verdade, mas dizê-la é assumir para você - e, antes de todo mundo, para mim - uma coisa que eu não sei ao certo o que é. Sinto raiva, respondo. Sinto raiva quando vejo que tem mais gente que se interessa por você. Não entendo o por quê de você rir; que coisa, menina! Tô aqui abrindo meu coração e você está rindo de mim?! E para a minha surpresa você abaixa os braços e relaxa os ombros e me sorri, dizendo que isso não é raiva, querido, é ciúme. Fico inquieto por uns instantes. Ciúme de você? Por que eu teria ciúme de você?! Por que eu sentiria algo assim em relação à você? Por que que eu...

 eu a beijo.
Instintivamente.

Sim, linda, é ciúmes.
Vamos ficar aqui?
Não quero mais voltar para lá.
Não quero voltar onde todos podem te ver.

15 de maio de 2015

(1) Diga-se, de passagem, a respeito

Eu tô meio bêbado sim, e devo dizer que nunca te vi mais linda. Essa mistura dos pontinhos reluzentes das luzes dos postes com o contorno do seu rosto, e eu sei que você sorri agora ou está rindo de mim e, na verdade, tanto faz. Que seja para ou de, não me importa, desde que seja eu o foco.
Por mim, sentava aqui mesmo no meio fio, tirava meu casaco, estendia na calçada para que então você se sentasse. Ficava aqui, percebendo o chão se inverter e a cabeça doer, com você sentada ao meu lado dizendo que me leva embora. Sim, linda, eu quero ir embora. Vamos então? Mas, toma! Aqui tá a chave do meu carro. Não me importo que você o dirija, você faz isso com tanta delicadeza que prefiro só te olhar, mesmo que jogado no outro banco. Estou apenas meio bêbado, querida. Ainda posso andar sozinho, pensar sozinho e conversar com você - só que eu quero apenas te olhar por esse resto de noite. Você abaixo o som da música, deixa quase ambiente, e ainda cantarola baixinho e eu finjo que é para mim. Te pergunto aonde você está me levando, se vai me sequestrar e você ri, diz que está indo para minha casa e que jamais me sequestraria. Que coisa, adoraria sumir por esse mundo com você. Me leva, linda? E eu tenho o dom de te fazer rir de madrugada. Que dom mais único, porque seu senso de humor é muito diferente do meu. Tão alto, tão elevado. Você ri de coisas trágicas, de sarcasmos, de entonações diferentes, mas não ri do que eu falo quando sóbrio. Seria esse o motivo de eu beber? E você diz que eu bebo por convenção, não porque eu gosto de vê-la assim, tão relaxada ao meu lado. Seus dedos longos me chamam atenção, sua unha esmaltada em preto brilha em cima do volante. Pára, eu te peço. Pára, vamos parar aqui, vamos andar na rua, vamos sentir o frio da noite, vamos? E, para a minha surpresa, você estaciona o carro e diz que sim. Eu abro a porta e me ponho de pé, praticamente são, porque esse momento, minha linda, eu quero sentir e guardar. Você vem até mim e eu estico a mão. Quero andar de mãos dadas contigo - coisa que a gente não faz em público. A gente não dança, a gente não se olha, não se beija, não se toca. Eu só queria poder andar de mãos dadas às suas quando bem quisesse, e - dita essa verdade bem alta - eu quero a todo momento. Você aceita e a gente anda... Caramba, menina, você me faz feliz demais com tudo isso.

13 de maio de 2015

Tava tão frio que seu nariz já estava todo vermelho. Parada, estática, com as mãos cobertas pelas luvas enfiadas dentro dos bolsos. Você nem queria vir para começo de conversa, mas te convenci ao implantar a ideia de que perturbaria seu sono com ligações e mensagens até que eu fosse embora do show e passaria na frente da sua casa, subiria até a sua varanda e só sossegaria enquanto abrisse a janela e me desse um beijo.
Perturbar seu sono de várias formas até que ficasse enraizado na sua mente o quão mais simples seria aceitar meus convites.
- Tá gostando do show?!
Eu queria rir de você. Nada ali combinava muito com você, mas ali estava, agasalhada até a cabeça, com 3 meias grossas e bota, estática, me odiando um pouco, verdade.
- As duas músicas que eu conhecia já foram tocadas.
Você estava num péssimo humor.
- Quer ir embora?
Me aproximei de você e a envolvi com os meus braços, segurando seu corpo perto ao meu. Você levantou os olhos para mim e me encarou por alguns segundinhos.
- Não. Eu consigo esperar.
E então me sorriu.
E eu sorri, imaginando se você não via a hora daquilo tudo terminar, eu te deixar em casa, talvez ganhar um beijo e poder dormir sossegada, sem quaisquer tipos de interrupção da minha parte.
Te achei ainda mais linda.

4 de maio de 2015

Ironias à parte, que se parta o que partiu.

Agora é a minha vez de te contar como a nossa história teria sido.
Querida, você não foi meu "e se". Te descartei logo de imediato e nunca mais pensei em você. E eu nem sei ao certo o porquê. Acho que tudo passa mesmo, esquecemos das pessoas quando menos percebemos. Eu não percebi. Você simplesmente sumiu da minha cabeça e do meu coração. Disse que te amava, mas hoje sei que não. Nossa história terminou na catástrofe de como começou - e dissipou.
Se hoje a vejo tão perto de mim e absolutamente nada me faz querer dar esses 4 passos que nos separam, sei que acabou mesmo. Mas você vem até mim, meio tímida, e eu acho que você não me esqueceu. Meu ego se inflama e sei que você ainda pensa em mim. Que coisa! Que ironia, justo a mim que no começo tive de fazer de tudo para você me querer por perto e agora você não aguenta.
- Moço, roubaram sua carteira.
E isso eu também não percebi. Nem senti. O filhodaputa enfiou a mão no meu bolso e eu não percebi nada, mas você viu. Me deu a notícia e depois voltou para a companhia do seu namorado.
E eu não percebi mesmo.

29 de abril de 2015

Eu só perdi o jeito.
De dizer sim, de sorrir.
De me deixar permitir.
Perdi esse jeito de querer abraço
E doar sorrisos
Diante do medo não escasso
De não ter um paraíso.
Desculpe pela guilhotina.
Mas quando vi,
Sua cabeça já era parte da minha sina.

26 de abril de 2015

Vou te recortar.
Passar a tesoura
por qualquer linha que seja
e se ficar bom
ficou.
Se te cortar
a cabeça,
que pena,
cortei.

11 de abril de 2015

Por você

O equilíbrio de energia é tão tangível agora. Te vejo a cada segundo abrir um sorriso que bem eu sei - e consigo ler nessas entrelinhas esse pequeno instante em que ele te ganha na mente. Uma lembrança de algo que ele sabe que você é assim, desse jeito, singular que além de te fazer única como ser, te faz
única como conjunto. Um conjunto de coisas que a muitos é igual e junto em você é tão particular. Um particular momento de segundo naquela passado que você olhou e não viu o que ficou suspenso no ar. Seria o tempo isso? Mais que unidade, mais que físico, mais que universo, que vai se movendo e entendendo o invisível que ficou cravado e caminhou pelo espaço para chegar nesse instante?! Esse instante em que você recolhe a mão da mesa poque teme que o verdadeiro e legítimo contato mais íntimo de uma menina seja feito? As mãos são nossas magias. Com as mãos transferimos nosso cuidar para o físico, tocando e fazendo carinho, puxando alguém para caminhar junto com a gente. (Se ela estiver para trás, puxamos para apressar ou para não perder as pegadas; se ao lado, seguramos para sermos juntos. Se à frente, empurramos). Com as mãos secamos lágrimas, compadecemos, enchemos nosso coração de Amor e tocamos a face, o ombro... ou, ainda, trazemos para perto do peito num confortável abraço. Deixe ele segurar sua mão, querida. Deixe que esse invisível mais concreto aos olhos seja sustentado pelo tempo, se propague, dilate e se encaixe - e eu não me importo com o equilíbrio de força se você assim continuar feliz.

Para a Queridinha Indie
da minha vida

9 de abril de 2015

esqueci quem era

a gente esquece.
esquece que hora acordou, que hora foi dormir.
esquece do sonho assim em que se levanta,
esquece que foi embora,
que horas era a psicóloga.
esquece do que comeu
e tem gente até que esquece se bebeu!
a gente esquece do presente, do aniversário, do restaurante em que a gente foi naquela noite, do passado.
esquece se já foi, se não voltou, se deveria nem ter ido.
esquecemos das piadas, das risadas, das palavras viradas.
e eu esqueço de você.

progressivamente.

um pouco mais de esquecimento para um pouco menos de sentimento.

6 de abril de 2015

"Uma vaga promessa da certeza de que futuro nos encontrará juntos"

É uma segunda-feira repleta de emoções, minha cara. Sei que a amo e sei que não a tenho. Pois bem, meu querido, também sei disso. Um coração que explode ao mínimo toque dos seus olhos dentro da minha alma não pode ser um sentimento preso ao tempo. Precisamos de mais espaço, de uma dilatação. Precisamos de algum resquício de certeza de que outros tempos, para nós, então virão. Você consegue sentir minhas mãos? Suam quando você se aproxima... E eu danço ao seu lado para que você me veja no ar em que respira, para que me sinta nesses olhos que tanto sei de cor cada traço de cor. São castanhos os meus, querida, e assim são os seus - e tão diferentes eles nos fazem ver. Te vejo numa roda de ciranda procurando a minha companhia. Te vejo perdido sem a mim em seus dias. São longos. Não somos agora. Tem espaço para tudo, meu amor, tem espaço para uma vida, mas agora - e você me sorri enquanto eu choro sem perceber - não há dilatação de nós. Precisamos ser únicos a sós. Mais do que ambos possamos imaginar.

Para vocês,
meus queridos.

31 de março de 2015

Cartas de um Futuro Bom

Sabe, Filho,

essa dor aí uma hora passa, viu?! Vai durar ainda por alguns dias e haverá outros em que você se sentirá estranho porque todos aqueles sentimentos não existirão mais. Uma vaga lembrança. E aí, se você for como eu, vai poder analisar a situação e ter conclusões lógicas e lineares, mas já aviso de antemão que podem demorar alguns anos, como uns 5 ou 8 anos.
Eu sei, é muita coisa, só que outras tantas coisas acontecerão com você nesse período - e tudo bem se você não estiver atento. O que nos é importante sempre brilha mais aos olhos desaguçados.
Filho, hoje você é jovem e assim o será por muito tempo, mas conforme nós caminhamos nessa juventude, vamos aprendendo qual pedra deve ser atirada e quais delas devem ser guardadas. Existe uma natural evolução nesse negócio de ser jovem. Aos 15 somos muito jovens e todos os sentimentos à flor da pele, queremos nos entregar de cabeça em todas as relações - amizade, amor, sexo, família, lazer - e, depois, a gente mergulha em outras - futuro, planos, faculdade, trabalho, dinheiro. E, sim, visamos o encontro com aquela pessoa, aquela única pessoa que nos fará ser exponencialmente melhores do que já somos. Aquele ser unique que nos fará transbordar e nos ensinará a ser cautelosos em nossos riscos. Por que ela vai nos travar? Não. Porque aprendemos a ser prudentes para não ferir o outro.
Não ferir seus sentimentos. Suas expectativas. Sua liberdade.
E isso não é se anular, querido. Isso é perceber a amplitude do Ser. O quão grande somos quando encontramos o par - e se em algum momento o sentido disso tudo acabar, quando você não mais se ver transbordando, apenas tentando chegar no limiar da felicidade, então tudo bem recuar. Tudo bem dizer que não tem mais motivos; você pode mudar a direção sozinho. Sim, às vezes pode ser que o outro saia ferido, mas que sentido há quando não mais dão as mãos porque querem, e sim porque é convencional?
Seja feliz, meu Filho. Aproveite cada etapa, cada caminho, cada escolha. Batalhe, sim! Mas não se permita a infelicidade por uma promessa de que o objetivo será seu auge. Quando atingimos algo, procuramos outros - e se assim somente for a felicidade, então nunca seremos felizes. O ser humano não foi feito para estar satisfeito durante a vida.
Minha satisfação é ver você e seus irmãos crescendo e se realizando, sendo gente com os outros e gentis. Seja gentil, meu Filho.

27 de março de 2015

Da potência de estar com você

Devo dizer que eu odiava a grama, aquele Sol forte na minha cara e aquele monte de bichinho que chegava perto da gente. O pinicar debaixo das minhas costas, as formigas que eram atraídas pela nossa comida e ficar sem sapatos perto de você. Meu cabelo que ficava sujo, minha roupa que ficava cheia de grama, suas costas que ficavam cobertas de lama.
Odiava com todas as forças.
Com toda a leveza dos seus dedos passeando sobre os meus cabelos. Com toda delicadeza do seu respirar debaixo da minha cabeça, com todo o aconchego que você fazia meus olhos se fecharem. Com toda a paz que sua voz me dava, com aquela melodia que a gente cantava, com a sua tácita adimiração em me ver entretida com uma revista que você julgava chata. Com toda atenção que me dava quando eu falava do Francês; com todo calor que me fazia sentir só por me falar, ao pé do ouvido, que eu era demais - por todo o mês.
Com todo o calor que me fazia aquecer mesmo em dias de frio, mesmo em noites quentes, mesmo em tardes amenas.
Devo dizer que te amava com toda a intensidade que você me olhava, com toda a propulsão de correr quando você não mais estivesse ali.
Corri sem nunca olhar para trás.

24 de março de 2015

Sobre o que adiante nunca vai acontecer

A gente se topou meio em tropeços numa tarde já meio fria daquele meio de junho. Em meios há tantos anos já passados. Fiz as contas meio por cima, meio que para saber se você já estava meio que perto daquela idade que outrora eu tivera quando nós dois, ambos, meio que nos gostamos. A sua barba ainda era meio rala e podia ver meia tatuagem sua escapando pelo braço. Seu cabelo estava despenteado inteiramente igual àquele tempo. Meio estranho que você ainda me parece meio com aquele garoto-homem que tanto me pôs no meio dos meus preceitos.
"Tô sem tempo, super atrasada, mas, toma" estendo o cartão "me liga, por favor".
Estranho que você ainda continua meio que ansioso e, sete passos depois, meu celular começa a tocar tanto freneticamente que eu esqueço que tô partindo.
Anos voaram e alguns outros entraram aonde você meio que estava. Onde exatamente você estava enfim? Meus planos, cumpriram-se todos e tenho meu nome em alguns livros, alguns artigos e até escrevo mensalmente em um jornal. Corro de canto à canto para dar conta da agenda, minha casa fica fechada a maioria dos dias da semana, meu gato hoje mora com os meus pais e sinto no olhar dele o ressentimento do abandono. Meu cachorro já não: se abana todo para mim, querendo me lamber, me morder, me pôr debaixo de suas quatro patas quando chego para levá-los para casa.
Não, meu caro, não casei, não namoro, tenho alguns pretendentes. Fechei-me dessa vontade quando te vi me partir e me deixando no meio termo de uma relação que prometemos ser promissora.
Mas tudo bem. Eu meio que sei lidar hoje com toda essa carga sentimental, e às vezes eu meio que lembro de você e meio que imagino em que ponto dos seus planos você deve se encontrar. Achou a garota certa no momento certo? Porque essa garota certa aqui, hoje já mulher, hoje já estabelecida, continua no momento errado no seu time de vida. Não, ainda não sei jogar sinuca, mas me entretenho ainda mais com Sudokus e problemas de lógica. Tenho estudado Física Mecânica para meu próximo livro e hoje já sou faixa preta em jiu-jitsu, além de também pintar, desenhar e rabiscar algumas paredes do apartamento.
Desculpa, mas eu meio que tenho pressa. A vida me pôs a pressa que eu quis tirar de você. Agora vou assim, de aeroporto em aeroporto, de cidade em cidade, meio que tendo uma meia-vida, meio que conseguindo um meio tempo, meio que fingindo que ainda falta alguma coisa.
Bonita a sua tattoo.
Passe bem.

22 de março de 2015

Um segredo.
Guardar tão profundo que ficasse longe da zona atingida das expectativas.
Trancar tão no íntimo que ficasse longe da minha própria influência.
Um segredo em rota de colisão.

20 de março de 2015

Are you okay, Annie?¹

Estive pensando sobre a gente e em como tudo mudou.

A mim não parecia haver mudanças; era como se conseguíssemos, ao longo de todo esse tempo, ir aumentando e afrouxando o cotidiano e a amizade. Como se fôssemos hábeis o suficiente para tornar qualquer eixo de mudança nossa nova zona de conforto.

Só que longos anos se passaram, outras pessoas surgiram e se fizeram tão importante quanto e nossos encontros se tornaram sazonais, às vezes quase que antecipados a um eclipse. Raros acontecimentos da natureza. O eclipse, a gente junto, a gente andando no mesmo compasso da vida.

Em muitos momentos vocês estiveram alguns passos à minha frente e mudaram de direção sem nem ao menos esticarem as mãos para me puxarem. Bobagem a minha pensar em que vocês deveriam me levar junto. Ingenuidade a minha acreditar em que sempre teríamos os mesmo caminhos.

Hoje um ponto a mais se abre e se ilumina diante de mim e entendo, na taxa absurda de compreensão imediata, que nada é assim. Um tempo-espaço-realidade foi então necessário coincidir para que todos nós nos conhecêssemos, rirmos, chorarmos e criarmos a mutualidade tácita da lealdade profunda. Foi necessário apenas um instante na vida de cada um para que ocorresse a improvável colisão de vidas e invariavelmente a aceitação intrínseca para ficar.

Um único instante dentre tantos que acontecem na vida de todo mundo a todo segundo para que a amizade fosse laçado, entrelaçada e atada. Pois, atamos. E só isso. Nada mais é necessário para que ela prossiga. Hoje não precisamos mais de espaço físico rotineiro. Não precisamos mais de dia-a-dia para saber se estamos em mesma instância bem.

O caminho em trilhas separadas gera a diversidade de momentos que nos fazem livres para seguir longe, bem longe, mas ligadas sempre por aquele instante hoje já perdido nos nossos 10 e poucos anos. Lembram da nossa prepotência? Das nossas certezas acerca da Vida, Homem e Liberdade? Álcool, Meninos e Nós Mesmas?! Das nossas metafísicas tão óbvias, certas e retas?!

A Mudança começou aos poucos e fomos nos moldando a cada uma dela. Em alguns momentos eu estive lado a lado, em outros, para trás e hoje em outra direção. Vejam: estou seguindo para aquele lado, ok?



¹ Smooth Criminal, Michael Jackson - ao som de 2cellos.
Photo from weheartit.com

17 de março de 2015

About Hawking

"...era exatamente assim. Você me apertava aos poucos pelos olhos e me consumia num ato só até me minimizar a um único ponto sólido no espaço. Fazia assim sob a chance de sentir o puxão, a gravidade em sua máxima que atrai tudo ao seu redor para um único ponto sólido. Você me diminuía... não em minha personalidade, pensamentos ou coisas parecidas. Não era negativismo. Não era abusivo.
Era físico. A Física. Você e eu entrelaçamos essas nossas metas para que orbitássemos sempre um no outro, um sugando o outro para dentro de si.
Você e eu nos fazíamos, mútuo e silenciosamente, buracos negros".

16 de março de 2015

É uma avalanche.
Você ainda não sabe porque são os pequenos e miúdos flocos de neve que descem pela encosta.
É uma avalanche.
E você não sabe porque não vê o rolar de acontecimento em concordância.
É uma avalanche,
Porque eu vejo grande. Vejo o que tudo isso pode vir a ser.
Tornar-se.
Eu sou a avalanche.

7 de março de 2015

Say Something: I´d have killed both of us.

Preciso contar uma coisa. Uma coisa que eu não deveria contar - nunca.

Você se livrou de uma espiral de coisas profundas e devastadoras. Você se livrou de um karma que sabe Deus por que existe. Você se livrou de uma bagunça danada, de uma bagunça que não tem nem como arrumar.

Uma bagunça obsessiva.

Eu ia te engolir junto, te colocar lá no fundo e te asfixiar. Eu ia arrancar o ar de seus pulmões e então te colocaria na mesma posição - te abandonaria pouco a pouco porque preciso me sufocar sozinha e aquele espaço você já teria tomado.

Eu te livrei de morrer da pior forma - matando seus sentimentos um por um, e distanciando os meus para uma coisa ruim. A autodestruição, obviamente, pertence só a mim - e faria tudo isso para que ela voltasse a ser só minha.

Te livrei de mim.
Assim é melhor; acredite.

15 de fevereiro de 2015

"... as mãos dadas que não demos tantas vezes e eu podia sentir seu frenesi fluir pelos dedos longos. E finos. Você odiava tudo aquilo, aquela formalidade desenfreada de pessoas amantes e enamoradas. Você queria algum tipo diferente de romance que não envolvesse segurança, mãos dadas e olhares de cumplicidade. Você queria o jogo. A defesa, o ataque e a tática. Queria o mistério, o enredo e os detalhes. A imagem caótica repleta de objetos e tentativas vãs de encontrar algo diferencial. E eu só queria poder fazer aquilo: segurar sua mão, mesmo com todos os seus êxitos em se esquivar."

29 de janeiro de 2015

Eu sabia que ela gostava de mim.
Sabia porque ela segurava minha mão tão rápido quando assistia aos filmes românticos que me distraia. Seus dedos longos cingiam a minha palma com tanta delicadeza que sentia ali, pelo leve movimento circular de seu dedão, que ela gostava de mim.

Sabia porque ela se emocionava. Muito. Quando qualquer casal perto de nós fizesse qualquer gesto de carinho - e imediatamente meus olhos buscavam os dela só para vê-los marejados e seu sorriso expandir e, invariavelmente, eles estavam me encarando com um brilho especial. Ali eu sabia que ela gostava de mim.

E também tinha o fato de ela saber de cor cada gosto meu e ter uma criatividade infindável para me apresentar cada coisa de uma maneira nova, com o mesmo sorriso, com o mesmo olhar fulgurante, com a mesma mania de me dizer, instintivamente, que gostava de mim.


19 de janeiro de 2015