5 de janeiro de 2012

Dear, I am not titanium¹

Muitas pessoas não entendem o porquê de eu ser tão obcecada pela busca de um corpo, por assim, dizer, perfeito. Não há como culpar, muitos buscam também e muitos desses muitos pregam a aceitação física. Tudo bem, eu também concordo que todos deveriam se aceitar, procurar melhoras saudáveis e por aí vai.

Mas, para mim, é a busca pelo o que eu nunca tive.

Desde pequena escuto as pessoas ao meu redor dizerem que eu sou gorda (quando pequenininha, eu era gordinha, fofinha, apertável. Depois dos oito anos, era defeitivamente gorda). Desde pequena percebo o que nunca tive: nunca tive a oportunidade de olharem para mim e apenas comentarem que estava bem. Nunca tive a chance de ser apenas magra na minha vida - nem mesmo quando nasci - e talvez nunca tivesse consciência de que não o era se ninguém tivesse me dito o contrário uma única vez.

Aí eu cresco e decidi por tentar me mudar. E mudei. Emagreci ao longo de um ano o suficiente para nunca mais voltar naquele estado mórbido em que estava aos onze anos. Triste. Fato. Esquivei-me - mas nunca alcancei o que eu quis.

E o que eu quero?!

Quero poder usar uma calça jeans sem ter de me preocupar se ela me aperta, se fechará na minha cintura ou terei de puxá-la logo após me levantar. Usar uma que não limite as combinações de blusas, podendo ser elas largas, justas ou até mesmo curta. Quero poder comprar aquele vestido justo que todas possuem sem pensar em quantos quilogramas terei de emagrecer para que ele fique bem em mim, sem marcar algo, sem marcar aquela maldita curva entre o quadril e a cintura. Poder usar meias-calças que não me apertem ou não marquem por debaixo do vestido ou shorts, legs que não me sufoquem ao sentar, saias... Quem pode condenar alguém por querer ter um corpo que possibilite todos os usos de roupas?!

O problema é que no meu caso a genética não me favoreceu. Veja: meu pai é magro e não tem tendência a engordar. O mesmo acontece com o meu irmão, magro de porte atlético que sempre jogou bola. Isso, infelizmente, não acontece com mamãe, que era uma tripa seca em sua juventude e hoje... bem, hoje não é mais. As mulheres da família do meu são todas magras. As de minha mãe não. Meu irmão é magro. Meu pai é magro. Minha mãe já foi.

Todos já foram um dia.

Menos eu.

(E, sim, eu herdei a genética de mamãe - e não, não nunca como ela em seu tempo de ouro).

A verdade também é que depois de dez ano em dieta, na busca, lutando contra aqueles quilogramas que ganhei de volta, eu cansei. Cansei de ter de pensar no que eu como, de chorar toda vez em que ingiro algo em que não deveria, de ficar remoendo por longos cinco dias o meu final de semana. Cansei de ter de sempre lutar, de sempre controlar, de sempre ter de ser saudável, de ter de fazer exercícios físicos cinco vezes na semana porque meu metabolismo é lento. Cansei de tomar chás e mais chás para acerelá-lo. Cansei de ver a todos a minha volta conseguir o que eu sempre quis com a maior facilidade de todas (claro que não tão simples assim, afinal, todos sofrem em dieta).

E tudo piorou quando eu decidi ser vegetariana. E hoje não posso voltar atrás nesta decisão, porque estou feliz como vegetariana. E só como vegetariana.

Ninguém pode me culpar por querer ser como minhas amigas (sim, todas magras). Ninguém pode apontar o dedo na minha cara e dizer que eu não tento, porque todo dia é uma luta, e o dia tem 24 horas e, às vezes, à noite, não tendo nada para fazer, você acaba comendo (não porque quer, porque é assim que é) e tudo o que você fez naquele dia vai embora.

É como perder um jogo de futebol de virada nos cinco minutos finais do segundo tempo.

Não é fácil mirar e seguir nisso por mais de cinco dias. Não é fácil porque eu sei que, em algum ponto, vou desistir e mandar tudo pro espaço.

É estranho pensar em que todo mundo pode ceder aos impulsos e eu não. Todo mundo pode tomar bebidas alcoólicas e eu não. Todo mundo come e fica por isso - e quando eu como, me sinto culpada. Independente do que seja - independente se estava com fome.

Tem alguma coisa errada e eu sofro todo o dia por isso. Não há um único minuto que em minha cabeça não tenha um pensamento quanto ao meu corpo, a dieta, a alimentação, o que eu comi, o que deixei de comer, o que não corri... Não há. O espelho no quarto me mata a cada vez em que troco de roupa. As minhas roupas me matam a cada vez em as ponho.

Eu me mato a cada dia pensando no que nunca tive - e que é quase nunca terei.

Sinceramente não sei como nesses dez anos não desenvolvi algum disturbio alimentar. Talvez seja muita consciência para uma pessoa como eu - ou muita covardia.

Eu sou covarde e fraca.

You shot me down and I´m not titanium¹.

¹paródia com a música Titanium, David Guetta feat. Sia.

(Nem mesmo você, Amour, pode me culpar por ter odiado o show da Paula Fernandes por ela ser perfeita fisicamente, porque eu quis sair correndo quando vi a sua cara ao se deparar com ela vestida de preto).