19 de abril de 2010

edge of the whole thing


A carta dela começava mais ou menos assim:



"Tá chovendo e pela primeira vez não me importo com o barulho insuportável que essa água faz contra a janela. E pela primeira vez também notei que aquela luzinha que adentra ao quarto por deibaixo da porta ainda me incomoda profundamente - e sabe o porquê? Porque ela desvia meus pensamentos.

Eu gosto de mentalizar, como você bem sabe, tudo o que gostaria de fazer e, por muito tempo, imaginava meu futuro profissional e minhas gastanças culturais e meu sossego no parque. As fotografias que eu poderia tirar se entrasse em um curso decente de fotografia e a luminosidade que seria capaz de capitar; a roupa para o final de semana e as expectativas das festas. Uma futura confraternização com os amigos, uma foto que poderia tirar de mim mesma ou até mesmo programar um estímulo falho para arrumar meu quarto na manhã seguinte.

Eu costumava ser assim, ver a todas essas coisas com facilidade, mas a chuva, quando havia uma, me incomodava profundamente, e a luminosidade não me permitia dormir e até mesmo aquele barulhinho de algum inseto lá fora me tirava a concentração. Eu mal conseguia pestanejar, mal conseguia regular minha respiração. Mas... sabe o que aconteceu?! Eu mudei. E notei que parei de imaginar o futuro e comecei a fechar os olhos, virar para o lado mais escuro do quarto e lembrar de cada momento de um passado especial - e, minha amiga, quando você imaginou ver-me nessa situação?! Você bem sabe quem está nessas lembranças, quem está nos constantes flashes da minha memória e das minhas sensações. Dos toques. Beijos. Abraços. Vontades. Suspiros. Tudo voluntário. Você bem sabe... e eu, hoje, também sei que se tivesse tido meia certeza de que ele estaria aqui comigo, teria esperado, teria ficado intocável, teria nunca ter gostado de outros. E hoje me sinto assim, como se nunca tivesse gostado de ninguém e nem ao menos direcionado um olhar com mais volúpia, porque meus olhares de volúpia são mais intensos com ele, meus beijos são mais vívidos, mais existentes, mais condizente com ele.

Mas não vou mais falar sobre ele - porque ele pertence a minhas noites..."

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