A menina de olhos grandes me encara. E encara também aquele cara sentado do outro lado do parque. Praça. Não sei ao certo. É um lugar repleto de passarelas e árvores antigas, altas, de troncos largos. Eu olho e apenas consigo pensar quantos xilemas e floemas elas devem ter, pois elas são largas e altas. Muitos nutrientes, penso eu. Muita luta pela sobrevivência. O moço está parado entre elas e ele nem nota tudo isso; o quão difícil deve ser para aquelas árvores conseguirem se manter tão perto no mesmo espaço.
Elas estão confinadas a ficarem ali, afinal, foram plantadas nesse parque. Praça. Não entendo o por que desse moço não se levantar e não ir embora. Todos levantam e vão embora depois de uns quinze minutos. As árvores ou crescem, ou morrem, ou são cortadas - o que é praticamente morrer, um assassinato. Elas são tão imperadoras neste parque que ninguém ousaria um homicídio aqui, afinal, notariam facilmente que alguém fez isso. Ele não se movimenta muito; às vezes troca a posição da perna, muda a folha de jornal em questão, olha um pouco para os lados, mas volta sempre na posição inicial.
Eu notaria se alguma delas sumissem, principalmente Mercedes. Mercedes, acredito eu, deve ser a mais velha de todas. Ela é alta e sua folhas são final e cumpridas, e sempre tem algumas outras coisas penduradas. Seu tronco é todo retorcido e isso, acho eu, são suas rugas. Mercedes é bonita.
Ela está encarando ao homem mais intensamente. Ela segura alguma coisa entre as mãos. Ela aravessa a rua sem movimento, se coloca entre as passarelas, passa por Mercedes e eu estendo as minhas mãos.
A menina estendeu as mãos e o que ele encontrou ali jamais contou. Mas o fez continuar a voltar ao parque. Mercedes cresce a cada dia. E o parque talvez nem seja uma praça.
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