Se você tem mesmo que partir, então apenas o faça. Deixe-me aqui, neste quarto de motel, enrolada no nosso lençol sujo e com as minhas roupas espalhadas pelo chão. Você já arrumou as suas, já as vestiu e já sustenta a maçaneta entre seus dedos. Dedos calejados que persuadem o meu corpo a doar-se para você, a dar-se por você - a ser tão seu quanto meu ele não pode ser.
Por favor, deixe ali, no canto do quarto ou sobre a mesa a minha dignidade, felicidade e capacidade de importar-me com mais alguém. Coloque dentro de minha bolsa o meu prazer, a minha maquiagem que se desfaz quando estamos juntos e os meus sorrisos libidinosos. Mas vá de uma vez - sem acreditar que vai querer voltar. Mas vá de uma vez, sem querer me tocar. Não encoste em mim. Estou bem. Ainda nem chorei por você, nenhuma vez desde a primeira. Apenas se vá e deixe-me aqui, neste quarto onde passamos tantas noites.
Não vou ligar. Não vou escandalizar e nem tentar me matar - eu nunca faço isso.
Quando alguém parte da minha vida, eu sempre sinto que, na verdade, não é uma decisão própria da pessoa, mas o meu poder de convencê-la de que é melhor que ela parta antes que eu a abandone. O meu poder de fazê-la desistir não por si mesma, mas por mim.
Apenas vá embora e deixe-me aqui sozinha. Sempre fiquei melhor na minha companhia e, por educação, espero que tenha compreendido até aqui as minhas ironias.
Passar bem.
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