Acaso.
Ela parou ali por causa de alguma coisa no olho. Eu estava na calçada, criando coragem para simplesmente ir embora sem se importar com nada. E aí ela saiu do carro e a vi blasfemar com todos os palavrões que jamais achei que ela pronunciaria. Calça jeans, camisa xadrez, chinelo Hawaina - simples, básico e estranho para estar assim às 3 da manhã a um quarteirão da balada.
- Tá tudo certo?!
Ri quando ela parou de tentar limpar algo em sua roupa com um olho fechado e virou-se com tudo em minha direção com cara de espanto.
- O que aconteceu?
- O que aconteceu?! Aconteceu que eu tava dirigindo, um bicho entrou no meu nariz, no que eu fui espirrar meti a unha no olho e derrubei toda a minha coca-cola na minha calça, o que é bom porque não caiu nada no banco. É isso o que aconteceu.
Fui até ela, tirei-a do meio da rua e pedi para se acalmar e fazer uma coisa que cada vez. Ela abriu o olho e perguntou se estava vermelho. Cheguei mais perto para ver se havia algum machucado e ela arregalou o olho. Nunca notei. Os olhos dela são tão bonitos. Mais escuros que os meus. Mais expressivos. E agora um pouco avermelhados.
- Tá tudo bem com o seu olho. Agora, quanto a roupa_
- É inútil tentar secar assim, vai secar mesmo daqui a pouco. Eu só me desesperei. - Ela se afastou de mim e sorriu. Fazia tanto tempo que seus sorrisos não se direcionavam a mim que não pude conter o meu sorriso grande e surpreso. - Eu vou embora agora.
- É, você deveria... as pessoas podem falar mal de você caso te vejam assim.
- Não que eu esteja preocupada, mas já não sei quantos dedos tenho no pé. Estão congelando!
- Entra no carro então. - E ela entrou. - Eu posso entrar?!
Ela se assustou, bem pude notar. Encarou a mim por alguns segundos e abaixou a cabeça logo em seguida.
- Por quê?!
- Porque tá frio e porque_
- Por que você tá falando comigo?!
A voz.
Aquela voz.
Voz de tristeza.
Voz de culpa.
De dúvida.
- Não sei.
Pelo olhar dela, eu sinceramente achei que ela me deixaria entrar no carro e conversar sobre trivialidades, mas, enquanto girava a chave entre os dedos, algo me disse que nada seria desta simplicidade toda.
- Acho melhor a gente continuar a não se falar.
Foi um choque. Achei que seria fácil. Que ela me aceitaria ali de novo, perto dela.
- Por quê?
- Boa noite.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigada pela visita, deixe seu comentário :D