3 de agosto de 2010

A mensagem que não mandei

Infelizmente, é assim mesmo. A gente nunca consegue ser totalmente coerente, totalmente bem entendido. Achei, de verdade, que se repetisse em todas as nossas discussões que gostava de você, você confiaria em mim – e nas coisas em que digo. Já passei por isso antes, de não ser compreendida e de tentar explicar como é que isso funciona.
A melhor maneira, talvez, deveria ter sido franca desde o começo: o que digo, em relação aos meus sentimentos, sempre é verdade. Potencialmente verdadeiro. Por quê?! Porque eu tenho vergonha. Tenho receio de me expor e não o ser. Demorei quase exatos quinze anos para dizer a minha mãe que a amava; já havia escrito isso diversas vezes, mas nunca disse – e lembro-me bem que, ao dizer, minha voz soou trêmula e houve um nó em minha garganta e uma vontade desesperadora de chorar.
E é sempre assim quando falo dos meus reais sentimentos, sem nenhuma tentativa de psicologia vã no meio. Tem esse nó na garganta, esse nó que faz tudo soar fraco demais, humano demais – e, geralmente, a revelação só vem depois de alguns segundos de silêncio, porque é o tempo que levo para achar uma brecha nesse nó.
Quando disse pela primeira vez que gostava de você, eu não sei, senti aquele nó e a minha veia do pescoço pulsar violentamente. E eu chorei, bem me lembro – porque ao mesmo tempo em que precisei te dizer isso, dei-me conta disso. Simultaneamente.
Mas, pensando um pouco melhor, não deveria nunca ter sido totalmente sincera com você e, talvez, nunca ter passado aquela barreira. O que a gente tinha era apenas carnal, e eu lidei com isso muitíssimo bem por alguns meses. Mas aí veio isso tudo, esse lado sentimental meu que bem sei eu que não ajuda em nada.
Veio em seguida o respeito. A vontade de estar junto. De te sentir perto de mim. De dizer o que fiz e por que o fiz, como foi e como deixou de ser. E sei que é bem aí que eu erro sempre. Ao me envolver sentimentalmente, tudo desanda e eu não sei lidar. O ciúme, que foi potencialmente controlado até certo ponto. Mas não foi o ciúme. Foi você.
Infelizmente.
Você nunca me entendeu, não é mesmo?! Nunca entendeu por que eu queria ser avisada se você estaria no próximo final de semana ou não, por que eu queria que você dissesse rapidamente que sairia comigo no sábado, por que eu tinha crise toda vez que tinha de escolher uma roupa para sair com você.
O aviso é pelo simples motivo de você, uma vez, ter-me dito que não sabia se voltaria no próximo final de semana, acabou voltando, eu liguei para você e mandei uma mensagem e você não deu sinal de vida, e, eis que, no meio da madrugada de sábado para domingo, você me ligou pedindo para buscá-lo. E a tonta foi. Você não apareceu ao local, não me atendeu e nem me deu uma única mísera desculpa depois. E nem absorveu nada do que eu te disse quando consegui falar com você às nove horas da noite.
Você se lembra do que eu disse? Não.
Eu disse que o mínimo que você deveria ter feito, em consideração a mim, era me ligar e dizer o que tinha acontecido – e de preferência que isso condissesse com a verdade. Que me ligar naquele horário não demonstrava qualquer respeito por mim, que a única coisa que passava pela minha cabeça era que você não tinha conseguido ninguém e lembrou de mim.
Você conseguiu me magoar algumas boas vezes, fosse me ignorando na balada, não me ligando no dia seguinte, nem ao menos respondendo uma mísera mensagem. Houve aquela vez em que eu fui para Ribeirão em uma festa. Eu te liguei antes de ir e disse que talvez voltaria do sábado para ficar com você. Você se lembra do que me disse? Disse para eu te ligar caso voltasse. E eu voltei. Você não me atendeu. E eu saí ao mesmo lugar que você naquela noite e você me ignorou. Disse-me um oi seco emendando um assim ta bom?!i e me dando as costas. E quando eu fui lá te chamar, você me olhou com aquele olhar, com olhar de desprezo e voltou a conversar com a loira.
Eu não olhei mais na sua cara desde aquele dia.
Chegou seu aniversário. Mandei uma mensagem de parabéns, você retribuiu e eu disse que tinha saudades. Achei que a gente ia voltar ao que era, mas aí veio o baque. Enquanto eu recebi a um obrigado, a loira, a mesma, recebeu um convite para ir ao rodeio de Ipeúna. E eu desisti de você de novo.
Para que me importar com alguém que não está nem aí para mim?! Segui bem assim, de verdade, com saudade, de verdade, mas bem.
Porém, na sexta-feira santa, você veio até mim, perguntando por que diabos eu não tinha te cumprimentado e eu respondi sincera que era porque eu não quis, porque estava com raiva de você ainda. E você falou dessa menina, dessa Daiane, que disse que eu havia convidado-a para ir a um barzinho e logo em seguida disse que eu a xinguei. Ali eu fiquei com raiva de você, com raiva porque eu jamais seria capaz de fazer algo assim. O meu melhor argumento eu jamais poderia dar, porque, por infelicidade do destino e da genética, você é primo dele. Eu gostei muito dele, apaixonei perdidamente por ele e levou muito tempo para me desconectar dele – só o fiz quando ele apareceu com ela. E se eu não fiz nada para com eles, por que eu faria com você?! Eu já tinha desistido. Já tinha te descartado de mim. Não era nem para conversarmos, mas aquilo me deixou possessa de raiva, ser acusada de algo que não fiz.
Nunca senti tanta raiva. Já senti muito ódio. Mas raiva e ódio são diferentes.
Pedi para conversar com você e você aceitou, no entanto, por causa de uma formatura e de um ônibus quebrado, não deu certo. Voltamos a nos falar e as coisas estavam indo certo. Até o dia em que provavelmente nos reconciliamos e esse dia coincidia com a comemoração de aniversário da sua ex. Você não quis ficar comigo com ela ali, eu entendi, me afastei e soube que não poderia nem chegar perto de ti naquela noite. Depois você me procurou, fomos embora...
Na semana seguinte veio o churrasco. O mesmo churrasco que me fez perder o sono. Você me levaria no meio dos seus amigos e eu deveria estar linda porém não chamativa. Apesar de você não ter me levado e pedido para que eu fosse sozinha, eu estava feliz por estar ali com você. Mas doeu, doeu quando você foi buscar as suas amigas. Doeu. Mas quando você me disse, antes de eu ir embora, que tinha adorado passar aquele tempo comigo ali, achei que jamais dormiria de novo.
E aí veio a sua semana de prova que te deixou estranho. O final de semana que você não voltou e a ligação em que você me contou que provavelmente não voltaria no próximo porque seus pais estariam viajando.
O que aconteceu no seguinte eu já contei aqui.
Veio o rodeio em que eu fiquei absurdamente bêbeda – de raiva de você. O que fiz lá, não sei. Saímos na sexta-feira seguinte, tudo lindo, tudo lindo. E você foi ao rodeio no sábado. Por mais que você me dissesse que não fez nada, conheço esse ambiente. Seu primo pertence a ele – e eu nunca confiei nele. No ambiente. E no seu primo.
Você havia me dito que sairíamos no domingo e você nem ao menos me ligou. Chateada pela segunda vez em menos de quinze dias. É um recorde e tanto.
Com o tempo aprendi a aceitar seu jeito quieto, de nunca dizer nada, nem que gostava de mim, nem que sentia minha falta. Mas estava tudo bem. A gente saía, conversava sobre trivialidades, ficávamos juntos e eu voltava para casa sozinha.
O respeito que eu tive por você nasceu no exato momento em que notei que não queria mais ninguém. O respeito que tive por você era, antes, conseqüência do respeito que tive por mim, a partir do momento em que nós dois não éramos apenas beijos, abraços e mãos dadas.
A questão é que você sempre teve a imagem de uma menina de recém dezoito anos feitos em sua cabeça. Naquela época eu era ingênua e potencialmente enciumada. Nesta outra época, eu moro sozinha, faço minhas compras e tenho de acordar na marra para não perder aula. Nessa época eu já sofri muito por estar apaixonada, tive de reconsiderar algumas ações e algumas características. Perdi amigos, me afastei de alguns e criei próprios pensamentos.
Ao me deparar com você, achei mesmo que você jamais me conquistaria. E sabe o por quê?! Porque achei que estava anestesiada disso tudo, que você fosse exatamente como ele era, que você agiria exatamente como ele agiu. Por serem homens. Por serem de meu interesse. Por serem parentes.
Quando as palavras não vieram, tentei ver o lado bom. Ele me dizia que me amava e que não conseguia ficar longe de mim. Ele me dizia que eu era linda, que sentia saudades e me pediu em namoro duas vezes – duas vezes nas quais eu recusei. E tudo aquilo era mentira. Eu achei que a gente – você e eu – ficaríamos simplesmente juntos, sem pedidos formais de namoro, sem a necessidade de determinar um dia. Apenas juntos. Recíproca e mutuamente juntos.
Era lindo na teoria.
Mas aí você me chateou de novo, naquela festa, em que você nem ao menos me deu oi. Cumprimentar a alguém apenas implica estender as mãos ou não mas necessariamente em uma pronuncia clara de oi. Nada de beijos, abraços, vamos sair daqui. Você não fez isso. E quando eu te chamei, você me lançou aquele mesmo olhar de quando você me ignorou por causa da loira alta. Olhar de desprezo. Fiquei com tanta raiva de você. Com tanta raiva e que me senti sim na posição de te alertar.
Você me veio com a desculpa de que não ficaria comigo por causa dele, porque ele era a sua família, porque você tinha consideração por ele, porque você não me colocaria diante da sua família. (Coisa que eu jamais ousaria pedir). Aí passou pela minha cabeça: o mesmo cara que você chamou de mentiroso para mim, sem caráter. O mesmo que estava no churrasco dos seus amigos e que esteve presente nos momentos em que nos beijamos, abraçamos e até mesmo saímos de lá juntos. O mesmo que você se designou como meu amigo, e não seu primo.
Uma desculpa esfarrapada que me deixou com pena dele. De verdade. Porque, em uma semana, você me apareceu com outra desculpa, sobre a ir ou não quando eu te chamei. Mas você não foi. Você estava tão bêbado que você não conseguia nem organizar seus pensamentos argumentativos e usufruiu do seu primo. E sabe qual é a única informação que essa desculpa esfarrapada me deu caso ela fosse verdade?! Que o Caio ainda se importava comigo.
E eu tive de voltar atrás, né?! Eu tive de perguntar se você estava bravo – e como eu quis gritar com você quando respondeu um talvez não. Mas eu me contive, fui boazinha, compreensiva, te liguei, disse gostava de você e não conseguia ficar com outros. Disse que não levaria adiante aquela história da festa e a sua desculpa. E o que mudou depois disso tudo?! Absolutamente nada.
Você continuou não me entendendo, continuou sem me dizer nada, continuou achando que eu deveria adivinhar as coisas. E a nítida declaração de que você dá ouvidos a sua ex, quando você mesmo já havia me dito que ela pedia para voltar e era você quem não queria. Quando me disse isso?! Naquela noite da reconciliação, na comemoração de aniversário dela. Ela te disse que eu a provocava, mas sabe qual o pior?! O pior é que não tenho nem idéia de quem seja essa garota, nem idéia das afeiçoes dela, nem idéia de como ela poderia vir a ser. E você não acredita em mim quando digo isso, e me chamou de hipócrita.
Eu ainda quero que você volte, mas vou respeitar o tempo que você pediu, para que a gente não se visse por um tempo. Mas estou começando a ponderar se quero estar mais uma vez com você, porque nada vai mudar, não é mesmo?!
Você nunca entendeu as coisas.
É, a minha maior falha com você foi ter sido sincera desde o começo.

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