14 de fevereiro de 2010

Sei que seu peito chora


Eu sei que, ao fechar os olhos à noite, bem antes do horário do sono, ela revive os anos. Ela se joga na cama, olhando para o ventilador preso ao teto, e fica quieta - e ela não é de ficar quieta, não quando tem a oportunidade de me dizer sobre os seus demônios ou de tentar expôr o que não sabe se sente.

Ela é assim, quieta, na verdade. Não é de falar e guarda muita coisa para si, mas, às vezes, e geralmente à noite, ela gosta de falar um pouco, com a voz baixa, rouca, quase como se entrasse em transe. Eu até acredito que ela entre em um, porque só assim consegue dizer exatamente o que quer; mas não gosto quando ela faz isso, de se jogar e ficar olhando para as hélices rápidas do ventilador.

Eu sei o que ela busca na memória. Se houve um tempo em que os beijos e as transas eram a saudade, hoje sei que ela sente falta da voz, do olhar, da risada e até do modo como ele segura uma lata de cerveja. Ela busca algum resquício dele dentro dela, aqueles míseros detalhes que passavam despercebidos quando juntos.

E só sei que tudo vai ficar bem quando ela pára de fitar o objeto no teto, vira a cabeça e me olha. E tudo volta a ficar bem, ela me diz. Mas ela não compreende que bem é um estado que só existe quando sabemos o que é mal.

Eu apenas aceito o bem dela porque entendo que assim, de uma maniera que não cabe a mim buscar por motivos, ela realmente fica bem.

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