“Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?”¹
É exatamente como machuca, ela pensa consigo. E tenta se lembrar quando foi que perdeu a sensibilidade ao gostar de alguém; onde deixou esquecida a vontade de estar sempre junto dele.
Sente dentro do peito o coração bater com ele, e sente a falta dele, e sente a saudade, a carência e até a ausência da voz. Mas sentir não é exatamente o mesmo que querer que ele volte, querer que ele esteja ali. É apenas um estado de percepção, uma sensibilidade diferente.
Uma anotação.
Ela não está ponderando se deveria voltar. Não. Ela apenas pensa que talvez não haja nada de tão errado ao não querer, de fato, a presença de uma outra pessoa perto de si. Uma presença física – e que apenas a presença na memória lhe baste. Desta maneira não há danos e nem perdas, não há falhas e enganos.
Não há um amor que fere.
Que cutuca.
Apenas a doce sensação de lembrar e até poder sentir o cheiro, a voz e o olhar. E ela sente o olhar dele sobre seu corpo, tentando imaginá-la em uma dança duradoura, em uma piada sem muita graça. Um olhar que prende e afunda, arrasta e mergulha. Um olhar de homem, de desejo, de carinho. Atenção. Um olhar de curiosidade.
Talvez o certo fosse mesmo que ele tivesse sempre muita curiosidade a respeito dela, pois rotina e cotidiano são coisas que seu ser, instintivamente, repulsa, amassa e joga fora sem nem ao menos notar onde está caindo.
O plano, desde o início, era ficar bem. E isso, infelizmente, para ele, implicava tirá-lo o mais rápido da vida dela. Fisicamente.
É impossível permanecer a mesma depois que uma pessoa conturba a sua vida, ela pensa. É impossível fingir que nada aconteceu quando o acaso lhe pede para vestir novas armaduras, ela conscientiza. É impossível esquecer do que aconteceu quando você hoje é resultado desse período, ela pondera.
É impossível ser quem era no antes, pois esta é a única de mim que poderia ter sobrevivido depois dele.
Ela entende.
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