3 de novembro de 2009

"Lucky I´m in love with my best friend"


Ele tinha me dito que a gente ia ser para sempre, sabe?!, como aqueles bons e velhos amigos que são chamados por tio/tia pelos filhos e que são tratados pela família como se fossem parentes. Ele era divertido e ele adorava me dizer que se era assim era porque eu o fazia divertido. Concordava, sempre, pois eu sempre seria a mais divertida. As coisas engraçadas e absurdas aconteciam sempre comigo, ele estando junto ou não. E ele adorava quando eu tomava a liberdade de aumentar o volume do som do carro e escolhia a música que eu mais gostava de ouvir.

E a gente seguia cantando, com toda a potência de nossos pulmões, e fazíamos a maior farra. Carro estacionado no posto onde a galera se reunia antes da balada, e a gente cantando, segurando um cabo de vassoura roubado da dispensa e uma garrafa de cerveja na outra - e a gente sempre, sempre, compartilhava a garrafa. E os nossos amigos se animavam e cantavam alto comigo, com ele, com nós dois. E os nossos amigos davam risada e distribuiam sorrisos, e todos pareciam felizes.

Todos estavam felizes.

E a gente era amigo. Um do outro. Outro do um. Sempre. Depois da festa, da balada, ele me levava embora como prometera para minha mãe, e fazia questão de sempre me olhar um pouco cansado, dar um beijo na minha testa, desejar uma boa dormida e prometer que me ligaria dali algumas horas para combinarmos algo para fazer. E a gente sempre fazia. Ele me ligava, me acordando, como sempre, e dizia estou afim de conversa fora hoje; vamos sentar num bar e daqui meia hora estou passando aí. Ele sabia que gostava de acordar, tomar um banho e fazer as coisas sem pressa... e ele acabava demorando duas horas ou três pelo gosto de me ver ligando louca atrás dele.

E eu achava tudo isso divertido, porque a gente era amigo.

Ele comentava das meninas e eu falava dos homens... a diferença era sempre que os meus eram homens, mais velhos, com outro assunto, com outra postura. Ele dizia a respeito de meninas, da minha idade e que não gostavam de mim. Nunca liguei para esse fato, para ser franca, afinal, desde que você não termine a nossa amizade por causa de uma namoradinha que me odeie. E ele ria alto, bagunçava meu cabelo, me abraçava e dizia que o término da amizade seria outro e não uma briga ou um namorado enciumado.

E eu acreditava, vendo que não haveria nenhum outro motivo para a amizade terminar. Ele e eu éramos parceiros, amigos, confidentes. Ele, três anos a mais que eu, e eu, sua confidente em potencial. Dormíamos escorados um no outro quando o filme era chato, comíamos pipocas de jeitos diferentes, mas dava certo. Eu gostava das últimas e do sal que ficava e ele adorava as primeiras e com muito sal. Ele gostava de sertanejo e eu também, mas ele da moda de viola e eu, universitário. Aprendemos a gostar do gosto do outro com a convivência, com os telefonemas em madrugadas de insônia e do ciúme que às vezes surgia.

Ele era o meu complemento. E ele me fazia muito bem. Tão bem que achei que não precisava de mais ninguém na minha vida para me sentir completa. Eu tinha um amigo de verdade, uma pessoa que eu amava e que me amava.

Eu achava que a gente tinha a mais linda amizade de todas. Até eu entender que aqueles minutos em silêncio no carro depois da noitada era o momento em que ele se concentrava nas palavras árduas que queria me dizer. O momento em que ele pedia, baixinho, para Deus, que eu dormisse pensando nele e acordasse assim, pensando nele. O momento em que se perguntava o por quê de não ter sido o meu escolhido naquela noite e o que faltava para tudo aquilo virar pure amour.

Até eu entender que a felicidade dele estava entrelaçada comigo...

E aí eu notei, senti, que os meus filhos nunca poderiam chamá-lo de tio. Uma vez que não dá para ser pai e tio.

E numa noite, após cantarmos junto, bebido poucas, termos nos divertido com nossos amigos, ele me deixou em casa e ficou cinco minutos quieto. E eu também, olhando para ele, decorando os traços de cor indefinidas dos olhos dele e sorri, abertamente, amplamente, sinceramente e esperançosamente. E ele continuou quieto, ligou o carro de novo e, ao chegar na casa dele, pediu para a mãe colocar dois colchões na sala.

A gente dormiu escorado um no outro, quietos, sonolentos, sem nenhuma vontade real de dormir. Mas dormimos. E, ao acordar, com o Sol a nos esquentar na sala de estar dele, estávamos abraçados e ele me deu um beijo na testa, desejou boa dormida e me disse que ligaria para fazermos algo.







E me beijou à boca.






E me abraçou.






E me disse que era exatamente assim que ele idealizava naqueles cinco minutos iniciais.
E me beijou.

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