2 de fevereiro de 2009

O Ápice do Crescimento Humano



A gente cresce, amadurece e muda os pontos de vistas. A gente cresce, desrespeita, grita e fica mais chato, mais irredutível. Fica sem graça, sem grandes esperanças, sem vontades para mudar. A gente cresce, esquece e consegue solidificar alguns parâmetros, não aceita novas opiniões e dificilmente vai dar o braço a torcer.

A gente cresce e vê que o racional é a pior escolha. E que ser muito sentimental é corrosivo e desgastante. Tentar conciliar os dois é impossível e que é melhor se agarrar em alguma ponta, e, então, inexplicavelmente, essa ponta é a que mais cutuca porque parece muito mais fácil agir de acordo com a outra.

Só que a gente cresce.

E aprende que agir de forma viavelmente fácil nunca coincide com o que a gente pensa. E tornamo-nos tão hipócritas quanto julgávamos os outros. A hipocrisia, de certa forma, faz parte de nós - e queremos negá-la por todos os confins.

A gente cresce e quer pensar, analisar, encontrar as saídas. Só que a gente cresce e encontra todos os meios, mas nunca aceitamos, pelo simples fato deles deixarem passar os sentimentos dolorosos. As saídas são portas para materiais, mas o abstrato atravessa essa porta junto de nós, e ele fica conosco no lado de lá também - o que torna muito difícil esquecer que a porta é um marco de mudança, e não apenas um obstáculo.

A gente cresce e aprende que obstáculos não existem. O que existe são marcas páginas, que depois de virada, a gente esquece aquela página. Mesmo que haja um quote relativamente bom. E o marca página continua conosco até o fim do livro, e, terminado este, partimos para outros.

A gente cresce e quer entender, quer fingir que sabe como pensar e sabe como agir. Que a gente sabe exatamente como ser ponderado e que não nos apegamos às coisas. Somos seres soberbamente desapegados, que nada pode nos atingir e que nosso ego é inabalável.

Perfeitamente solidificado.

E a gente continua a crescer e a perceber que dez anos é muito pouco para construir uma vida, e se pergunta como nossos pais conseguiram. Em dez anos eles se conhecerem, casaram e tiveram um filho, e a gente nem consegue se ver livre da vida acadêmica em dez anos... e eles deram os primeiros passos para nos ter. E a gente cresce e pensa em primeiro se estabilizar financeira e profissionalmente e esquece que não é só isso o importante.

A gente sempre cresce, e sempre vai agir como se estivéssemos descalços e sem nada para se preocupar, como se o que somos é o bastante para nós e que o mundo é superfluo demais para nos atingir. Nada e nem ninguém pode nos tirar do eixo de equilíbrio.

No entanto, há um porém. Tudo tende ao equilíbrio, mas nada o atinge. Nem reações químicas, nem as imagináveis leis econômicas capitalistas. A mão invisível sempre tende para um lado, e nós, seres que crescemos, sempre achamos estar do lado errado.

O lado de lá sempre será melhor visto daqui.

A gente cresce e só crê, ainda mais, que estamos o fazendo para nos ratificar. Mas nós nos negamos, porque o óbvio é simples demais.




O ser humano é mais vil e interessante do que ele pensa ser.

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