1 de maio de 2008

Abstração

O mesmo erro de antes. Hoje ele é repetitivo e tachado como clichê em minha vida, mas na primeira vez ele era inédito e todos diziam-me que era perdoável. E até aceitável. Mas hoje, ele é repugnante - e todos repulsam o prólogo dessa história.

Tornei-me alguém além das expectativas, alguém além das previsões. Fiz de mim uma abstração e perdi meu corpo para o inexistente. Adjetivos não existem. Claro que agora dou risada disso e acho tudo uma grande tolice - quase ingenuidade. Mas o certo depende de cada um, não é? Depende da razão, daquilo que se julga bom para si e para os outros, não é?! Ou seria algo inerente ao homem?! Bem, se fosse, eu teria interceptado-me.

Fui inocente até quando já conhecia os motivos, mas, por favor, me entenda: eu tinha um legado para manter, uma fama para estruturar e um desejo para alimentar. Eu tive medo. Tive desespero. Quando ele surgiu, todos os meus alicerces tremeram, rachando a minha estrutura. Tudo poderia desabar nesse mundo, menos isso - a única coisa que me sustentava e que eu deixava me sustentar.

Eu repeti por dias a fio o mesmo erro: eu alimentei a minha inveja e corroí as ponderações. Fui juvenil desde a descoberta até a execução. Fui um trouxa qualquer lutando por razões quaisquer e gritando por palavras inúteis que ninguém escutaria. E ninguém escutou. Ninguém soube interpretar os meus olhares, a minha acidez. Ninguém chegou aos meus pés quando fora necessário e possível - por isso, ninguém pôde interceptar.

Todos julgaram algo natural e involutivo. Estável. E eu deixei-me enganar por essa visão. A culpa não é minha, porque não houve alguém capaz de ter o meu brilhantismo para me deter. Nem mesmo ele, que se julgava meu amigo. É claro que eu nunca me deixei influenciar pelas palavras que ele me dizia, porque elas eram tão irreais quanto a sua excelência.

Sim, ele não possuía absolutamente nada que o destacasse, porque todas as suas virtudes eu já possuía. Tudo o que ele era, eu o fui antes. E, um dia, ele teria a mesma ruína que a minha - e teve, mas não por conta própria. Ah!, nem mesmo isso ele pode fazer sozinho, nem mesmo se arruinar. Incapacitado. Eu o chamaria assim, com essas letras, porque assim o era.

Nada podia fazer sozinho, e eu fui obrigado a ajudá-lo. Eu tive de fazer isso para provar que a mediocridade a todos pertence, mas o que torna alguém distinto é o que só este pode fazer. Ele nada fazia e eu tive de fazer por ele, pô-lo no verdadeiro lugar que deveria ficar. No segundo patamar enquanto eu poderia acariciar seus cabelos em cima do primeiro.

Não tive culpa; apenas fui solidário. Ele não aprenderia sozinho. Ele nunca aprendia sozinho. Era um medíocre. Todos são. Eu era fulgurante, sempre possui o diferencial, o destaque. Enquanto todos brilhavam em azul, eu iluminava-me em vermelho. E ele apenas brilhava em uma cor similar a minha, mas nunca poderia sê-la. Compreende?

O mesmo erro que no começo era inédito. O que posso mais dizer? Eu não encostei um único dedo nele. Eu abstraí-me. Eu não possuía formas físicas mais. Tentei ajudá-lo da mesma forma que desejei destruí-lo.

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Acho que, por enquanto, isso é apenas uma idéia. Mas um dia será mais.
E antes que perguntem o porque de estar em pernilongo, explico-me dizendo que isso vem fazendo parte do meu cotidiano por longos dias.

Um comentário:

  1. dói qndo percebemos q os erros são sempre os mesmos.
    Tudo o que ele era, eu o fui antes.
    parece tão perigoso e tão errôneo, quase como envenenar a si mesmo... não sei, mas isso me parece muito mais do que um simples post...

    =**

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