12 de maio de 2008

Seus olhos eram grandes e um tanto desproporcionais para seu rosto. E mesmo que eles ostentassem duas íris de extremo azul celeste, ninguém se importava se ela estava ou não ali.
Na verdade, ela era estranha.
Não conseguia ser um destaque em absolutamente nada e vivia a não prestar atenção em nenhuma aula. Enquanto para muitos o colégio era a única realidade existente, ela possuía uma particular - uma que ninguém podia entender.
Eram raros os momentos em que mantinha os dois olhos esbugalhos presos à lousa, porque, na maioria, vivia por escrever com discrição naquele caderninho cor-de-rosa que mantinha dentro da bolsa. A maioria dos alunos riam desse seu comportamento alheio - e alguns até ousavam julgá-lo como desdém.
Nenhum professor realmente se importava com a presença dela e suas dúvidas não eram boas e suas perguntas não eram interessante. Era sempe um "não entendi" ou "mas por que é assim mesmo?". Ela era exatamente o que denominavam de aluno não interessante. Mas, sinceramente, a garota também não ligava para isso. Em sua cabeça continham muitas coisas a fazer para dar qualquer atenção ao que os outros faziam.
Uma vez, para o trabalho de grupo, reuniram-se na casa dela. Uma casa engraçada, uma vez que a menina parecia ter uma biblioteca e não um lar. O pai era um livre docente pesquisador e a mãe uma sensata doutora em advogacia. E o que ela era? Apenas um aluna, dizia.
Ela não tinha conhecimento, mas os professores, quando falavam sobre os alunos, utilizavam de codenomes como estranha ou aquela que senta no canto da primeira fileira para referirem-se a ela. Eles não coseguiam compreender o que ela tanto escrevia enquanto suas notas decaíam quase que em uma velocidade exponencial.
E foi em meados a tanta curiosidade que um - apenas um - criou coragem para aproximar-se e perguntar a ela o que tanto escrevia. A garota apenas sorriu, cobrindo as tantas folhas rabiscadas com os braços, e respondeu que eram apenas pensamentos. O professor sorriu por educação e julgou aquilo um ato infantil, afinal, ela já tinha dezessete anos para ainda manter um diário.
A notícia espalhou-se pelo corpo docente e, não se soube se por querer ou não, a conclusão do corajoso professor chegou às rodinhas dos alunos e a garota estranha ganhou o apelido de bebê.
Só que ela continuou não se importando...
Foi no meio do ano que tudo mudou. Ela não era mais estranha. Não era mais uma aluna medíocre. E não possuía um diário.
Foi no meio do ano que foi anunciado para todos que uma das empresas mais ricas do mundo iria patrocinar uma garota em sua publicação de seu primeiro livro, que seria escrito durante um nada breve tour pela Europa. E essa garota era a estranha.
Ela falava inglês, francês, italiano, alemão, russo e entendia um pouco de japonês. Conhecia muito da história da maioria dos países europeus e de muitos costumes. Já lera vários livros em diversos idiomas e seus cabelos não eram ensebados como julgavam.
Só então a estranha percebeu que deveria ter se importado com os outros só para notar a nítida diferença entre verdades e hipocrisias. E julgava que todos eram hipócritas.
No final do ano, seu livro saiu, e na noite de autógrafos em seu país, em sua cidade, aqueles que tanto debocharam da sua cara estavam lá. Mas ela só assinou o livro do professor que perguntou a ela sobre o caderno.
O nome do livro? Caderno cor-de-rosa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita, deixe seu comentário :D