Eis o que eu queria contar.
A cigarra não tinha um futuro bem definido, mas o que importava? Não era para viver o presente? De que adiantava as linhas tracejadas em seu caminho se, no final daquele caminho, somente a carcaça sobraria? Mas ela tinha um sonho: conseguir mudar tudo isso.
O louva-Deus que surgiu em sua vida não era de verdade. Ele era fruto de sua imaginação, mas ela o aceitou bem mesmo achando ser louca e ter perdido os poucos resquícios de sanidade que a vida conseguira lhe poupar.
Ele possuía em si uma postura inquisitora do século XV e a essência das tão famosas guerras santas. E tudo o que ele queria era purificar a pobre cigarra. Mas ela era cega para ajudas e não conseguia entender que algo estava errado. A questão não era viver o agora, mas viver sem sonhos.
"Cigarra, querida...". Ela já conhecia o discurso, as metáforas a serem usadas e o final. Não mudava e talvez fosse por isso que não o ouvia. A repetição da ordem a incomodava.
"Você fala para eu mudar, mas você mesmo não consegue fazê-lo". Foi seu ápice, sua libertação. O louva-Deus apenas sumira dos olhos da cigarra, mas voltava todas as noites, em seus sonhos, para lembrá-la que os antigos já haviam dito que o presente nunca existira. Seria o término do passado e já o começo do futuro.
Mas a cigarra não se importava - muito pelo contrário, aquilo só lhe dava mais argumentos para dizer que então possuía um futuro.
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