11 de novembro de 2010

the way we both used to look foward




Pai,

Nesse exato momento - e esta exatidão perdura há pelo menos dois anos -, gostaria que o senhor me dissesse quais eram os planos de quando eu nasci, que o senhor me segredasse quais foram as suas expectativas de quando me ouviu chorar pela primeira vez aqui em casa. Eu adoraria ouvir ao senhor me dizer que me olhou e viu em mim um futuro brilhante, onde caminhar com as minhas próprias pernas fosse além de um sentido denotativo.
As minhas expectativas, confesso, sumiram. Transformaram-se em frustrações - e, sabe de uma coisa?, eu aprendi a lidar com elas e por isso nem sofro mais. Sofrer não. Apenas sinto sobre meus ombros um grande peso, o peso do fracasso. E não me faz sofrer, mas me machuca - machuca-me pensar todos os dias em que eu vou me frustrar em tudo e em tudo vou optar por não sofrer e, ao fazê-lo, o peso só vai aumentar.
Pai: eu não tenho um plano. Eu não sei por onde caminhar. Não sei por onde decidir. Todas as minhas certezas, todos os meus desejos sumiram - e eu não sei mais qual passo dar. Os meus ombros doem de tanto peso, minha cabeça não me deixa dormir sem um único pesadelo - mas me habituei a isso, a dormir sem descançar.
Por favor, Pai, me diga: por onde você sonhou que eu caminharia? Eu olho para trás e vejo aos meus rastros se apagando mediante a neblina que tudo encombre. Estar perdida é um completo desnorteio, e tudo pesa... tudo pesa agora que eu não sei o que fazer, o que escolher, qual rumo dar a isso que eu chamo de vida. Eu não sei lidar com isso, com a quebra de expectativa minha, dos outros.
Sim, Pai, os outros pesam sobre meus ombros também. Eu era brilhante, lembra? Para você eu sempre fui brilhante - mas, na verdade, nunca fui. Eu nunca tive as melhores notas e nem uma constância nelas, oscilava de conhecimento e interesse constantemente, o que, por si só, é irônico. Nunca mereci uma atenção mais centrada ou um dom que me fizesse especial. Todos os outros tiveram esses dons, todos os outros acertaram em suas escolhas - por que eu não poderia ter acertado também?!
Por que justo eu tive de falhar?! Em tudo?! Será que forças maiores não entendem o que isso ocasonaria em mim? JUSTO EM MIM?!
Pai, por favor, me coloque de volta no berço e conte mais uma vez a história do Pequeno Polegar. Dei-me sua mão para poder atravessar a rua com segurança (eu não quero mais ter de fazê-lo sozinha). Aninha-me entre seus braços e coloque a manta sobre mim - por favor, Pai, eu não quero mais ter de viver assim, crescida.

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