9 de novembro de 2010

do you believe in miracles or in wine?

Talvez parte de mim, essa solitária e não sozinha parte de mim, deseje intimamente uma noite de frio e neve e uma caminhada. Uma noite de tanto frio que eu me faça por encolher em meus cachecóis e casacos grossos, sentindo a temperatura baixa tentar trincar meus dedos mesmo que encobertos por luvas.
Uma caminhada que me faça perder, um pouco apenas, o sentido de meu corpo e me transcenda para uma outra sensação de mim mesma.
Posso ver-me andar em passos curtos perto do Tamisa ou do Sena, e apreciar parte de tudo isso que eu peço. O frio é arrebatador mas eu agüento. Por que não agüentaria? Foi o que pedi, certo?
E parte de mim sempre vai querer isso de novo e de novo, sempre assim, porque foi nesta noite em que ele se aproximou de mim no caminho oposto ao meu.
Logo eu, a sua Colombina, que o abandonara em meados à nossa querida Veneza. Logo você, feito de um Pierrot por mim. Sinto ainda o toque aquecido de suas mãos sobre as minhas, noite após noite, como haveria de ser. Você sempre foi mais quente que a mim, desde aquela outra época em que fugimos um do outro e, nessa fuga, nos encontramos de novo.
Você nunca se surpreende quando eu vou embora. Você me olha em complacência e me entende, acenando a cabeça e não me impedindo de partir.
Eu o fiz Pierrot.
Eu fui sempre a Colombina.
O mágico disso tudo – de nós dois – é que você sempre soube o momento de vir me buscar. E foi assim naquela noite diante do Tamisa, do Sena, do Pó, Danúbio... de todos os nossos favoritos, de toda a nossa Europa.
Eu parti por ela e você me fez por esses caminhos todos, e, a cada encontro, fui percebendo que, quando perto de você, essa necessidade de correr em direção oposta a sua é falha. Porque eu falho sempre que tento, porque eu sempre vou me deixar ser encontrada por você.
Essa minha parte solitária porém não sozinha busca nas minhas fugas uma única coisa: o seu encontro.
Por isso decidi fazer de outra maneira, ir embora de um outro jeito. Decidi partir sempre que fechar os olhos para dormir e, quando abertos, você me encontraria ali, encarando-me, do outro lado da cama.

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