5 de novembro de 2010

please, take all this missing away from me


No meu quintal chovia.
Chuva por si só é nostálgica, mas, para mim, era um pouco depressiva. Eu sou um clichê para dias como estes, mas, apesar de estar sentada no parapeito da janela, remoendo meus amores perdidos e as paixões negadas a cada gole do meu chá quente de hortelã, ainda estava faltando algo para aquele dia ser um completo clichê.
Unhas roídas. Sem esmalte. Sem tratamento. Meu cabelo todo sujo, desmanchado, descabelado. Casa sem limpar. Desorganizada e meu Ipod tocando a mesma melodia romântica que apertava meu peito a cada minuto. (Não que durasse muito). As pessoas lá fora pareciam felizes ao sentirem as gotas da chuva sobre seus corpos. Por que eu não poderia me sentir feliz? Por que eu não podia estar feliz?
­- Quando você ia me contar isso?
Tinha tanta coisa que eu queria esquecer de mim naquele momento. Naquela vida.
- Quando você me contasse que ia partir.
Sem pensar. Eu o amei sem pensar. Sem levar em contra os precedentes. E esqueci de mim. Na verdade não. Devo ter levado tanto em consideração a mim mesma que acabei, às vezes, esquecendo dele. Do ser humano que ele nunca demonstrou ser.
- Mas você preferiu não me contar.
- Mas isso tudo são segredos seus e você sempre me disse que era o mais sincera comigo.
Talvez eu devesse conviver com isso para o resto de minha vida. Escrever livros, desenhar, tomar vinho e morrer de ópio. No fim, seria isso o fim trágico da garota de família que tinha um futuro brilhante. Tinha e não teve.
- Talvez eu estivesse esperando que você compartilhasse algo comigo que não fosse suas aulas de cálculo ou quão eu fico em cima de você.
A verdade? Eu não conseguia sentir a falta dele. Meus anos de análise me disseram que eu, por fim, aprendi a lidar com frustrações e criei minha maturidade sentimental, não deixando que o que desse muito errado interferisse nos meus planos mais importantes. Estranho, porque ele sempre foi meu plano importante.
­- Talvez eu estivesse esperando que você me dissesse uma vez por todas que não gosta de mim e que, assim que sua ex pedir, você voltará para ela sem pensar uma única vez em me deixar para trás!
- Por que você sempre discute?!
Eu não consigo sentir saudades. Mas sinto, todos os dias, desde aquele dia, a ausência. Ele não conseguiu agüentar a pressão, a pressão dos antecedentes. Eu o olhava e o via como aquele que eu estava escolhendo para me doar sem me importar. Não me importava a sua quietude. Não me importava seu jeito taciturno de ser. Simplesmente não me importava que ele nunca pronunciasse nada quanto a nós – eu o achava encantador por ser observador.
Enganei-me.
Tudo aquilo não era idiossincrático a ele, mas a mim. Ele apenas não se importava comigo e estava ali por comodismo, carência ou seja-lá-o-que-na-época-foi. Estive ali por ele porque assim eu escolhi, estar ali por ele.
- Eu não discuto. É sempre um monólogo e eu cansei de discursar para o vento.
Ele foi embora, e eu precisei ir também.
Eternamente responsável por aquilo que cativas. Eternamente. Eternamente. Eu não sou o Pequeno Príncipe. Não sou loira. Não sou sozinha. Não tenho uma flor. Não tenho um carneiro. Nem a uma raposa que me pede para que eu a cative.
Eu abro mão da minha responsabilidade.

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