16 de maio de 2015

(2) Vamos ficar aqui?

Garota,
vou te dizer uma coisa vez por todas: não quero. Está me escutando? Não quero!!! E você só me olha, de braços cruzados e diz que não vai discutir comigo aqui. Que droga! Odeio como você pondera as palavras para cima de mim e ainda controla os humores. Você fala com a voz baixa e me olha estática, e o que eu mais quero agora é gritar com você. Apontar o dedo no meio da sua cara e dizer tudo o que você faz que alimenta a minha raiva.
Tô sim com raiva de você.
Te vejo virar e direcionar seus passos para a saída e eu a sigo. Faço isso porque quero sim bravejar na sua cara e te ouvir que eu tenho a razão e vamos fazer, a partir de agora, como eu decidir. O vento frio da noite me flagela no pescoço e eu encolho, mas você segue à frente fincando seus saltos na calçada com tanta força e elegância como se esse frio não a atingisse. Olha aqui, esse cara ficou em cima a noite toda e você deixou! E você só me olha, cruza os braços e me pergunta o que mais. O que mais? Ele não é sujeito para você ficar se vulgarizando... Não, linda, não foi isso o que eu quis dizer. Você só respira fundo e me pede para contar, uma vez por todas, o que está acontecendo e me pede para que seja extremamente sincero. Nada de encontrar desculpas no que você faz ou deixa de fazer.
A verdade? Eu quero te falar a verdade, mas dizê-la é assumir para você - e, antes de todo mundo, para mim - uma coisa que eu não sei ao certo o que é. Sinto raiva, respondo. Sinto raiva quando vejo que tem mais gente que se interessa por você. Não entendo o por quê de você rir; que coisa, menina! Tô aqui abrindo meu coração e você está rindo de mim?! E para a minha surpresa você abaixa os braços e relaxa os ombros e me sorri, dizendo que isso não é raiva, querido, é ciúme. Fico inquieto por uns instantes. Ciúme de você? Por que eu teria ciúme de você?! Por que eu sentiria algo assim em relação à você? Por que que eu...

 eu a beijo.
Instintivamente.

Sim, linda, é ciúmes.
Vamos ficar aqui?
Não quero mais voltar para lá.
Não quero voltar onde todos podem te ver.

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