31 de dezembro de 2008

2 gumes para um dia.



Quando ela fecha os olhos, algo muda. Não é a luz que perde sua teoria e nem o preto escuro que ganha essência. É apenas o que se passa por dentro. E o que se passa é a louca vontade de afundar a cabeça no travesseiro e chorar... chorar... soluçar. Borrar o tecido florido pelo rímel do dia, manchar a tez com o preto da maquilagem e perguntar-se por quê.

Mas ela, invariavelmente, prefere apenas fechar os olhos. Sua razão guiá-la-á e em algum lugar chegará. E, irredutivelmente, seus pensamentos voltam para o mesmo assunto, comparando o antes com o depois, visualizando quando havia reclamações, quando ele se sentia carente e precisava dela. Quando ele pedia por ela.

Quando ela conseguia sonhar com ele.

E, de várias formas, à noite, ela chora. Seja ao manter os olhos cerrados, abertos, presos à parede... ao teto. Chora porque não sabe como entendê-lo, porque as frases dele ecoam em sua cabeça. Doe, eu sei, mas ela já entende que não doma sua razão - e que possui sim um lado sentimental. E que não consegue ser tão alheia aos demais, que seu cinismo é tão fajuto quanto suas conclusões.

Isso doe mais - porém, ela ainda não sabe. Tem que passar por tantas coisas para chegar a esse ponto que eu bem tenho ciência de que ela não quer. Ninguém quereria. Ninguém, em sã consciência, gostaria de passar por esse caminho. Mas ela já escolheu - só falta consentir. E agüentar. E suportar. E solidificar - até não mais sentir muitas coisas.

Se houvesse outro, um outro alguém que a colocasse nas nuvens, seria mais fácil. Sim, ela e eu sabemos. No entanto, não há aquele que desperte seu ímpeto da mesma forma que ele lhe fizera. Quase um favor, verdade, mas, ainda dessa maneira, um feito. Um grande feito. Ela não quis e ele insistiu. E ela deixou que ele a conduzisse, que ele a abordasse. Que ele a conquistasse.

E conquistou.

Daquela forma estranha, tão oposta, sem charme, mas o fez.

ESTÁ FEITO.

Eu sei que é isso o que ela pensa. Ele deu-lhe aquela antiga inspiração poética, aquela antiga vontade de escrever e a capacidade de compor frases bonitas - mesmo que sem significância qualquer. Mas deu-lha. E agora não há volta... quer dizer, há uma singular possibilidade, mas esta; esta ela repudia. É o cheque-mate para sua tristeza - e para sua felicidade.

A faca de dois gumes posta entre a cabeça e o coração.

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