3 de dezembro de 2008

Méritos de uma Derrota

A amarga derrota que ele experimentara tinha nome de mulher. Tinha cheiro de mulher. Tinha formas de mulher. As mais belas formas já providenciadas em terra, as mais genuínas formas tocadas por mãos. Eram formas delgadas, capciosas e tão ingênuas que ele só podia resguardá-las em memórias.

Tocá-las uma vez fora um erro, voltar a tocar, um mero desejo. Um descompasso sinuoso e desconhecido, de acordes desafinados e pouco refinados. Uma verdadeira epifania perante seus olhos, corpo e boca. Mãos trêmulas a contornarem cada recanto moreno, de cor de ébano - pura cor de um anseio oprimido atrás das janelas de sua infância.

Tocá-la, pela primeira vez, foi realização. Na segunda, desespero. Terceira, desespero. Na quarta...

Na quarta foi o destilo de uma alegoria pecaminosa que se apossou de sua virilidade. De sua sanidade. Uma rápida questão de devaneios que subordinaram a razão à paixão. A janela às mãos. Tocá-la teria se não fosse a vidraçaria. Uma quarta vez, pedira entre sua libertação solitária de tão apertada luxúria.

Curvas. Caminhos. Percorridos por três vezes. Rompimento da possibilidade e junção de sonhos. Erotização da púbere imaginação de um garoto escondido atrás das cortinas de um quarto próximo à casa da mulher. Sim, desde então - desde a primeira vista - ela era mulher. E se ele soubesse que seria derrotado naquele dia, teria tardado a descobrir a sensualidade libidinosa e teria, por correspondência, sobrevivido por mais alguns anos a fim de presenciá-la mais vezes.

Sonhá-la mais noites.

A derrota. Esta veio na quarta tentativa, ao bater à porta, ao vê-la olhá-lo de cima, com asco preso aos olhos, com repulsa em seus poros. Ele não a amava - ela sentia. Era apenas mais um corpo masculino encarcerado em sua porta, esperançoso de parte de sua carne, de seu êxtase. Parte de alguma coisa que ela já estava cansada de entregar.

Ele fora derrotado pelos próprios desesperos noturnos, alimentados desde a transição da infantilidade para a malícia. Ela fizera-o vívido, alimentado, guloso. Isento de capacitância para discernir o limite do abuso prazeroso. Mas não o fizera. Esquecera-se de ler tais proposições e partiu ao seu destino que o próprio escolhera, sem questionar se deveria.

Tocou-a.

Desejou-a.

Satisfez-se.

Três vezes e não mais que isso - quando perto dela.

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