O Sol é essencial em certas tardes - principalmente naquelas em que a janela engana os olhos com os seus vidros, permitindo que os orbes possam deliciarem-se com a imagem lá de fora, tão falsa aqui dentro.
E era o que ele pensava, o que ele sentia. Buscava naquela ilusão o equívoco de seus sentidos, acreditando que o que via em nada existia. Nunca existiria... tudo o enganava. Tudo era abstrato e inalienável para si. Quando chegaria o momento? Em breve teria de vê-la, teria de tê-la, aos beijos e pontas entre seus braços, enganando-o sucessivamente, arduamente, congelando-o com suas máscaras.
Mas ela era sol. Ela era luz. Podia em seu singular fazer todas aquelas coisas com ele, podia matá-lo afogado sem água, sufocá-lo com ar ou apenas envenená-lo com um encostar de lábios. Era a faceta que ele queria; as conseqüências seriam ínfimas diante da momentânea felicidade que receberia. E ela prescreveria todos os atos dele, declarando, aos silêncios, que o conhecia e que o mataria por não saber evitar.
Tinha perfeita ciência que seu corpo roubava a vitalidade dele, mas seu coração simplesmente necessitava de seu abraço e calor. A malévola sina do não-amar alguém que podia retirar de seu ímpeto a surrealidade das palavras bonitas. No fim, ele amaria mais um código de expressão do que o batom borrado após um beijo.
E ela roubar-lhe-ia a vida sem realmente querer.
O sol invade a sala sem realmente saber o que há ali, mas ele entra, espalha-se e sempre volta.
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