Em teus olhos vejo parte da sombra que está envolta de ti, e pergunto-me se ela sempre esteve ali. Apenas um contorno que nos afasta e que me impede de ver o teu real eu.
Talvez seja exatamente porque sei que tu conheces a tua verdadeira face e, ao me permitir vê-la, saberás também que a conheço, que eu vejo o seu não-ser.
Mas tu também estás a saber que o que é é e o que não-é não existe, então, por que temes? Não somos crônicas de um cotidiano, somos apenas seres deste. Nada mais. Nada menos - mesmo que acreditamos ser os ícones principais de tudo isso.
Pare de uma vez de acreditar em que não estamos inertes às circunstâncias, porque és tu quem as faz - e eu nem consigo me importar.
Ao ver essa quase sombra em teus olhos, vejo parte de algo que eu só descubro o nome agora. Mas tu já perguntaste a mim por que quero tanto nomear tudo. Não, não quero, mas tu me obrigas a fazê-lo.
Molha teus lábios com o sorver ínfimo de teu tinto, e, se queres mesmo me entender, prossigo dizendo que não quero que me entenda. Só quero que compreenda que eu, mesmo sendo este ser tão ignóbil que tu dizes que sou, só consigo ver em teus olhos essa penumbra estranha.
Entende? Eu só vejo limites, meros contornos de um ser. E tu tens uma essência implícita neste olhar, no entanto, eu não a conheço. E não a quero conhecer. Tu, por outro lado, tens necessidade de me permitir ter conhecimento. Na verdade, é uma falha de teu caráter. Um modo de apaziguar todo este ressentimento que sentes - e perceba que eu ainda não me importo.
Só quero notar.
Teus olhos possuem a verdade, teus olhos conduzem mentiras. A antítese de teu ser - e você também não se importa. Será que é por que sabes que isso sempre esteve contigo? Espero que sim, no entanto, isso me soa contraditório.
Somos, os dois, seres paradoxais, porque, enquanto digo que não quero te entender, quero saber o porquê de todos esses contornos. Sua alma é um contorno, uma limitação.
Isso também é contraditório em ti.
O ilimitado está limitado. E isso é injusto.
Então, por quanto tempo ainda iremos nos enganar mutuamente?
Beba teu vinho e olha-me. Para mim, isso é o suficiente.
18 de abril de 2008
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