30 de abril de 2008

As cores de todas as cores

Ela queria uma cor; uma única cor que pudesse se destacar diante das outras, roubando a visão e chamando atenção. Uma cor que rimasse com os "as" e com os "is", que fosse mais que um reflexo, mais que uma diatância. Um tom diferente que significasse mais que uma luz, mais que um efeito.
Uma simples cor que não fosse de efeito físico.
O que na verdade ela ansiava era pela cor que pudesse realmente se identificar com o que a repulsou, que tivesse, em sua íntegra, alguma significação que a tornasse única. Ela apenas esperava pela parede de cor sem nome, pela repetição antes não percebida. Ou apenas uma refração que fosse etérea.
Ela queria ver uma coisa que seus olhos não pudessem se enganar, que suas mãos pudessem mais que tocar. Tudo o que ela queria era ver. Talvez possuir, talvez guardá-la dentro de si. Protegê-la. Uma cor que fosse de algo porque este queria tê-la para si, para ser identificado por ela - e que até exalasse o odor dela.
Que fosse azul. Que fosse rosa. Que fosse amarelo. Que fosse a cor dos olhos nunca vistos. Ela queria uma cor, mas que jamais fosse o preto que não a permitia ver.

Metáforas para o Sol.

O Sol é essencial em certas tardes - principalmente naquelas em que a janela engana os olhos com os seus vidros, permitindo que os orbes possam deliciarem-se com a imagem lá de fora, tão falsa aqui dentro.
E era o que ele pensava, o que ele sentia. Buscava naquela ilusão o equívoco de seus sentidos, acreditando que o que via em nada existia. Nunca existiria... tudo o enganava. Tudo era abstrato e inalienável para si. Quando chegaria o momento? Em breve teria de vê-la, teria de tê-la, aos beijos e pontas entre seus braços, enganando-o sucessivamente, arduamente, congelando-o com suas máscaras.
Mas ela era sol. Ela era luz. Podia em seu singular fazer todas aquelas coisas com ele, podia matá-lo afogado sem água, sufocá-lo com ar ou apenas envenená-lo com um encostar de lábios. Era a faceta que ele queria; as conseqüências seriam ínfimas diante da momentânea felicidade que receberia. E ela prescreveria todos os atos dele, declarando, aos silêncios, que o conhecia e que o mataria por não saber evitar.
Tinha perfeita ciência que seu corpo roubava a vitalidade dele, mas seu coração simplesmente necessitava de seu abraço e calor. A malévola sina do não-amar alguém que podia retirar de seu ímpeto a surrealidade das palavras bonitas. No fim, ele amaria mais um código de expressão do que o batom borrado após um beijo.
E ela roubar-lhe-ia a vida sem realmente querer.
O sol invade a sala sem realmente saber o que há ali, mas ele entra, espalha-se e sempre volta.

26 de abril de 2008

Decepção Estudantil

Após várias quintas-feiras ouvindo a um professor de Geografia falar sobre notícias da semana e, de quebra, pedidos para que os alunos leiam os jornais, tudo o que estes nunca poderiam fazer é sofrer uma decepção.
E é isso o que eu senti hoje após o meu professor ter dito que descobriu onde o Padre dos Balões (matérias muito interessante sobre ele aqui em "vagalume", no cantinho direito inferior ali do lado) estava: na ilha do Lost.
Agora eu sei onde saem as notícias da semana, professor.*

Saiu no site do Kibe Loco que o site é o primeiro no ranking de blog visitados por universitários brasileiros... Depois da minha descoberta, acho que não somente universitários.

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Foto retirada do site Kibe Loco.
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Nome do professor retirado por segurança do corpo e alma do dono deste blog.

Tango à Noite

Já era tarde - muito tarde - e eu ainda não havia dormido. Havia tentado, mas não conseguido. Um fato ignóbil para os outros, mas, para mim, uma ânsia. Há tempos que eu não dormia, pelo menos não da forma que me convinha. Eu simplesmente não podia me desconectar.

E naquela noite, nem conseguia fechar os olhos. E nem sonhar.

Naquela tarde tinha obtido o meu mais novo objeto de desejo: um caderno; um lindo caderno de capa cor-de-rosa e de dimensões pequenas (como deveria de ser). Ele poderia passar despercebido pelos olhares alheios e, ainda, ser carregado para todos os lugares. O caderno era perfeito se não fosse por um engano meu: com o que preenchê-lo?

As idéias surgiam a cada piscada. Poderia ser com frases que encontrava pelos livros e não tinha onde anotar, ou, talvez, com coisas que surgiam dentro de mim mesma. E essas idéias em muito me instigavam - mas não me cessariam. Aquele caderno deveria ser mais, algo além da importância que eu o denotaria - além da importância que ele merecia.

Ele deveria ser um segredo.

Engoli em seco, dedilhando o amassado do lençol sob as cobertas. Não estava frio, mas as expectativas de minha mente tornam o ambiente gélido. Sempre era assim quando eu me encontrava naquele estado de aflição. (E se alguém descobrisse que eu me rendi ao caderno? E se meus pais desconfiassem que eu não conseguia dormir porque tinha aquela dúvida cruel impregnada em mim? Por que diabos isso tanto me incomodava?).

Duas e triste e sete; o celular acusava para mim. Eu tinha de dormir, tinha aula no outro, tinha de manter os olhos abertos... mas eu sempre soube que meus olhos nunca ficariam tão abertos como estavam naquela madrugada. Eu precisava preencher aquele caderno com coisas minhas e dele. Algo que nos tornassem íntimos mesmo que ele pudesse ser visível para os olhares das outras pessoas. Mesmo que essa idéia em nada me agradasse.

Aquele caderno era meu!!!

Eu tinha tanta coisa para escrever, tantas coisas para não esquecer. E eram coisas minhas e que ninguém conhecia. Um segredo.

Todos possuem segredos, e eu eventualmente achava que, para um ser só, possuía muitos - e boa partes destes me atormentavam e não me permitiam dormir tranqüila. Bem, isso nunca me incomodou, pois acreditei por algum tempo sem escala que aquilo era uma mescla de sina e maldição - e isso me ascendia como ser humano.

Sempre me orgulhei disso até o dia em que descobri a minha arrogância e prepotência. Duas palavras que meu pai sempre me dizia e que nunca compreendia o significado. Um bloqueio mental de minha parte, pois, se entendesse tão cedo, me derrubaria. E quando eu entendi, eu me vi.

Aquele caderno aprendeu a me ver e a me deixar ver-me mais. Era por isso que não conseguia dormir; eu sabia o que aquele caderno implicaria assim que permitisse escrever os meus segredos, aquilo que eu não tinha idéia se existia ou não. Meus pensamentos.

No entanto, decidi por fazê-lo. Eu não sairia perdendo em nenhum momento exatamente porque tinha noção de como tudo transgrediria. No máximo, eu iria me decepcionar mais uma vez comigo - e descobrir mais uma qualidade corrupta de meu ser.

Resolvi dormir sem me desligar do meu mundo das idéias. Se Platão estiver correto, se as idéias e o que conhecemos realmente forem inerentes a nós, eu encontraria tudo o que precisaria para seguir em frente com o caderno ali. E, quem sabe, tornar-me-ia ébria com o éter de lá.

Uma hora fracassaria.

É, eu deveria ouvir um tango.

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Hoje eu acordei relativamente cedo, li um livro, comprei um novo marcador de texto, jornal, um livro de Sócrates a preço de banana e aluguei um dvd. E hoje à tarde eu devo escrever uma crônica.

21 de abril de 2008

Puro Ecstase.

Eles olhavam-se com ínfima curiosidade. Não queria admitir um para o outro que tinham vontade de examinar, com cautela, cada traço de seus rostos. E mutuamente.
Mas continuavam a olharem-se.
Os olhos dele dividiam a atenção com a tela do notebook e os olhos verdes distantes. Tinha de acabar de escrever, tinha de entregar o texto à redação até aquela tarde, no máximo até às seis. Na verdade, tinha de fazer muitas outras tantas coisas e talvez conseguisse caso desistisse de gravar a intensidade exata dos olhos verdes do ser na outra mesa. No entanto, ele não queria dissipar a boa curiosidade e apenas concentrá-la na sua coluna ainda pela metade.
A sensação de ser observado também lhe agradava. Era como ser o ápice da árvore de natal e, ainda, ostentar a maior estrela de todas.
Do outro lado, o jornal já não possuía mais letras e imagens. Era tudo um grande borrão devido à euforia que o invadiu. Ser observado de longe é enervante, quase como tomar dois esctase de uma vez. E o calor dessa curiosidade que nascera em uma tarde qualquer em Paris poderia proporcionar deveria ser exatamente a mesma de dois comprimidos.
Um calor que nasce não se sabe onde mas que atinge todos os cantos. É a boca seca e a louca vontade de aforgar-se em galões de água. E ele julgava que aquele par de olhos cinzas do outro lado possuiam os mesmo efeitos.
Ou até melhor.
Tentava concentrar-se no jornal, afinal, teria de relatar algo de interessante para seus alunos - e não poderia mentir mais uma vez como fizera nos programas de combate a drogas. Esctase era a melhor sensação que alguém poderia ter - e deveria ter! Mas ser politicamente correto diante de outros olhos não permitia que ele dissesse tudo o que pensava e cria.
E aqueles olhos cinzas, relutantes em olhá-lo constantemente, deveria ser o puro esctase. Ou até melhor.
O texto não podia passar das linhas determinadas, mas ele queria escrever tudo muito rápido para averiguar se realmente estava sendo olhado, se era ele o verdadeiro alvo dos olhos verdes. Releu o texto e notara que esqueceu o tema, misturando uma notícia sensacionalista com sua inquietude interna.
E se os olhos verdes não eram o que pensava ser? E se ele não estava o olhando?
Jamais fora tímido, mas estava sendo agora. E não compreendia os motivos - mas algo pulava dentro de si, dizendo que sim, os olhos cinzas eram o mais puro esctase e ele deveria consumi-lo o mais rápido possível para que não fosse degustado por nenhum outro organismo.
E, assim, os dois quebraram a barreira de espaço, ar e sentimentos controversos.
Os dedos correram rápidos pelo teclado do notebook e os olhos passaram a não ver o que na tela se formava.
A cabeça estava inclinada para o jornal, mas os olhos verdes estavam fincados nos cinzas.
Era agora o grande momento. Ele fechou o aparelho e chamou o atendente.
"Excuse moi, Je veux une tasse de thé". O atendente sorriu e logo trouxe a xícara de chá. Educamente, pediu para que levasse uma outra para o rapaz do jornal.
"Oui, monseur".
O chá chegou até ele e, rapidamente, buscou os olhos cinzas do outro. Fez um aceno em agradecimento e sorveu um gole. Do outro lado, houve um sorriso.
Ah!, com certeza ele era melhor que êcstase.

Meu Bebe



Eu vos apresento Dominique!!! A mais linda hamister deste site (e não, não havia nenhum vagalume para ser adotado). Ela vai ficar aqui no cantinho inferior direito do blog e você podem brincar com ela sempre que quiserem.

18 de abril de 2008

Imagem


Em teus olhos vejo parte da sombra que está envolta de ti, e pergunto-me se ela sempre esteve ali. Apenas um contorno que nos afasta e que me impede de ver o teu real eu.
Talvez seja exatamente porque sei que tu conheces a tua verdadeira face e, ao me permitir vê-la, saberás também que a conheço, que eu vejo o seu não-ser.
Mas tu também estás a saber que o que é é e o que não-é não existe, então, por que temes? Não somos crônicas de um cotidiano, somos apenas seres deste. Nada mais. Nada menos - mesmo que acreditamos ser os ícones principais de tudo isso.
Pare de uma vez de acreditar em que não estamos inertes às circunstâncias, porque és tu quem as faz - e eu nem consigo me importar.
Ao ver essa quase sombra em teus olhos, vejo parte de algo que eu só descubro o nome agora. Mas tu já perguntaste a mim por que quero tanto nomear tudo. Não, não quero, mas tu me obrigas a fazê-lo.
Molha teus lábios com o sorver ínfimo de teu tinto, e, se queres mesmo me entender, prossigo dizendo que não quero que me entenda. Só quero que compreenda que eu, mesmo sendo este ser tão ignóbil que tu dizes que sou, só consigo ver em teus olhos essa penumbra estranha.
Entende? Eu só vejo limites, meros contornos de um ser. E tu tens uma essência implícita neste olhar, no entanto, eu não a conheço. E não a quero conhecer. Tu, por outro lado, tens necessidade de me permitir ter conhecimento. Na verdade, é uma falha de teu caráter. Um modo de apaziguar todo este ressentimento que sentes - e perceba que eu ainda não me importo.
Só quero notar.
Teus olhos possuem a verdade, teus olhos conduzem mentiras. A antítese de teu ser - e você também não se importa. Será que é por que sabes que isso sempre esteve contigo? Espero que sim, no entanto, isso me soa contraditório.
Somos, os dois, seres paradoxais, porque, enquanto digo que não quero te entender, quero saber o porquê de todos esses contornos. Sua alma é um contorno, uma limitação.
Isso também é contraditório em ti.
O ilimitado está limitado. E isso é injusto.
Então, por quanto tempo ainda iremos nos enganar mutuamente?
Beba teu vinho e olha-me. Para mim, isso é o suficiente.

16 de abril de 2008

Antetéticas Levezas

Leve é o pássaro:
e a sua sombra voante,
mais leve.


Costumam dizer que crianças não sabem sobre o mundo.
A gente sempre acreditou que o céu era um lençol azul manchado de branco que impedia que o ar fosse embora e que os postes e prédios o sustentavam. A gente costumava achar que o pirulito da esquina era do dono da venda; que a bala que você mordia um pedaço e estendia o outro já sabendo que eu recusaria por nojo era a única que a gente gostava.
Como a gente era bobo. Chegamos até mesmo a pensar que o Sol era algo menor que a bolinha de gude que você tanto tentou ensinar-me a jogar - e acreditamos que a nossa cidade era a única no mundo inteiro.


E a cascata aérea
de sua garganta,
mais leve.


Costumávamos assistir à tv sem entender o motivo das imagens cinzas (para quê mesmo? A gente não estava lá e aquilo em nada afetava a nossa vidinha pueril!). Dizíamos um para o outro que seríamos amigos para sempre - e você costumava cuspir na palma da mão na esperança de que fizesse o mesmo. Mas eu sempre disse que tinha nojo da sua saliva.
E tenho. Continuo a ter.
A gente era tão pequeno e inocente que, quando descobrímos que um beijo na boca é mais que um colar de lábios, juramos nunca fazer isso. Ah! Mas a gente já jurou tanta coisa...
prometemos jamais correr um do outro, jamais pisar na grama do vizinho, nunca tomar o sorvete de morango (porque você não gostava!), não brigar, não nos distanciar, não fazer um furo na orelha. Tanta coisa que cumprimos anos a fio.

E o que lembra, ouvindo-se
deslizar seu canto,
mais leve.

Porém, as coisas nunca foram como a gente imaginava. O Sol é muito maior que a Terra e nem é concisa e indestrutível como a bolinha de gude. O pirulito da esquina não era do dono da venda, e sim de uma impresa muito maior que esta. O céu não é um lençol e tão menos azul; ele é apenas o infinto inalcançável que tem a cor azulada por causa da atmosfera e dos raios vindos solares. Os postes e prédio são o nada perto do universo e nossa cidade era a menor que havia.
A bala que você comprova e que eu nunca aceitei um dia seria aceita e a gente poderia repartir o gosto dela - e assim, quebrar um de nossos juramentos, tornando o aperto de mão uma
metáfora para nossa escolha para selar os acordos.
Você cresceu e eu também. Você furou a orelha e eu também. Você pisou na grama do vizinho todas as manhãs quando volta para casa depois das noites fora. Eu pisei na grama para ajudá-lo a chegar em casa. Você tomou o sorvete porque ela quis - e eu não o tomei porque ela quis. E aí a gente brigou.

E o desejo rápido
desse mais antigo instante,

mais leve.


Você distanciou-se e eu tive de ir mais longe. E aí a gente brigou. Você pediu que ficasse e eu pedi para que não partisse. E aí a gente selou.
Mas você ainda precisou ter que ir
- e eu tive de ficar, por causa de você. E aí a gente chorou. Quando você voltou, havia crescido mais um pouco e já não tinha mais o furo na orelha. Eu, por outro lado, estava mais magra, mais feliz e com ele no colo.
Foi exatamente aí que você quebrou o único juramento que eu acreditei ser perpétuo: você correu de mim.
Eu tenho e continuo a ter.

Poema de Cecília Meireles
Texto: Moi ;P
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Texto mui antigo, mas é bonitinho.

11 de abril de 2008

Estou brava:
1º O pc está mais lerdo que (por motivos de segurança, o nome foi retirado).
2º Passei a tarde fazendo exercícios de químicas (¬¬)
3º Hoje à tarde, eu estava sentada em um bando de uma ponte em Paris com uma ótima visão de uma inverno francês, com um notebook sobre minhas pernas, e meus dedos corriam rápidos pelas teclas do aparelho... e acordei ¬¬
4º Eu não existo no cadastro do Enem
5º o que diabos é uma crônica?
6º Por que simplesmente as coisas não fluem?
EU AINDA NÃO EXISTO NO CADASTRO DO ENEM!!!!!!!!!!

10 de abril de 2008

Sinceramente, eu não sei o que dizer - só que eu fiquei decepcionada. Juro que tento, que usufruo das minhas mais geniais aritimâncias, mas parece que nada dá certo. As coisas não fluem - e isso vai contra os princípios filosóficos platônicos. Não que Platão estivesse certo ou errado, é só que, agora - na verdade antes - isso parece correto e veridico.
Será que dá para entender que eu tive de superar o medo e o receio para tanto?! Não, não dá - porque nem mesmo eu sou passível de tal compreensão. Mas a gente luta e reluta contra os demônios mesmo assim, como uma forma de insistência e teimosia mesmo - e o faço até quando nada é real.
Eu temo.
E quase odeio.
Maldito Maquiavel.