5 de dezembro de 2013

Universo meu Paralelo

Essa banda pode ser qualquer uma que se encaixe dentro do seu vocábulo de "melhor banda da minha vida". Pode ser sua, minha, de qualquer um que um dia sentiu-se próximo de pessoas que viu uma vez, dez metros de distância, tentou camarim e foi barrado pelo segurança.

Quem nunca tentou entrar no camarim, para ser só mais um fã querendo um pouco de atenção num afã secreto de ser notado, não sabe o que é ser barrado por um segundo, uma fita, dois cones e uma corrente. Eu fui barrada por um segurança mesmo, que me expulsou não só da fila, mas do salão.
Obrigado você porque graças a sua atitude tive uma bela volta para casa com o namorado, pensando e refletindo um bocado sobre tudo.

Mas esta banda aqui pode ser de qualquer fã. Para mim, pode se encaixar perfeitamente ao Queen (uma pena que eles não são mais uma banda) e o fator que movimenta a vontade pode ser Radio Ga Ga. Pô, eu gosto desta música e me arrepia os pelos ouvir o Fredd movimentar aquela multidão no ao vivo em Wimbley.

Só que não é o Queen. Não nesse momento. Há algum, teria sido. E teria sido também o Capital Inicial.
E, se é verdade a teoria de universos paralelos, vejo que tem um eu meu muito feliz fazendo a ideia que eu tive nesse plano: rodando a estrada e registrando momentos, pensamentos e brincadeiras de uma banda - afinal, cabe aqui qualquer banda. E me deixa um pouco conflituosa imaginar que também haja um eu meu cantando (minha memória para música é péssima; não sei uma letra de cor. Mas, vai saber, talvez este eu tenha desenvolvido um mecanismo de memorização, por que não um igual aquele do The Mentalist, envolvendo o palácio de memórias com um lugar em que muito bem conheço?!).

Esse eu tá quieta nos poucos degraus de uma casinha singela do Rio de Janeiro. Tá olhando a noite que se faz quente e tenta pegar no rosto algum resquício de brisa fria. Não vem. Mas o laptop no colo ferve. Escrever, escrever, escrever. Hoje eles fizeram uma entrevista para um site de música independente,  e se bem entendi começou agora e os caras queriam um grande começo com grande estilo.
Eu concordo que eles escolheram a melhor banda.

Faz tão pouco tempo que estou aqui que nem parece certo estar aqui, invadindo o espaço de criação deles. Mas prometi ser quieta e cautelosa - e o tenho sido com tanta precisão que às vezes eles realmente conseguem esquecer que estou ao lado deles. Isso é ótimo, pois consigo captar cada um deles em seus momentos quase ínfimos.
Vezes em quando eles me perguntam como está indo, como estou encaixando as coisas; estão preocupados. Eles se completam tão bem um com o outro que, secreta e inconscientemente, têm medo de que outros os enxerguem de outra maneira senão aquela do mundo deles. O mundo dos quatro. Se minha visão é diferente? Sim. Distorcida? Acredito em que não. Não há como distorcer uma esfera - seu centro equidista de qualquer ponto.

Na entrevista, quiseram saber se eles possuíam a noção da projeção deles como banda pelo Brasil. Eu queria ter respondido por eles, contado a minha história e feito as contas de probabilidade daquilo ter acontecido, e aí sim chegaríamos a conclusão do tamanho do que são enquanto banda. Eles se entreolharam por algo que eu poderia dizer ser a menor fração de tempo registrada. Cumplicidade. Ali conseguiram conectar todas as vias de pensamentos deles em uma única e fluída que fosse congruente a todos.
Não vou contar o que eles responderam. Que busquem o site e leiam a entrevista!

Saímos de lá com fome - eles com fome. Paramos em um restaurante de selv serf. Tem-se os vorazes e o equilibrado, me perguntando sobre sinergismo dos alimentos e qual componente inibe outro. Falei de alguns porque, assim, de cara, não me lembro de todos. Ele me disse que andava cansado e que estava preocupado, afinal, precisa-se de disposição para ser compositor. Para ser quem a mente dele comanda.
Ele é um grande "expressador", de qualquer coisa. Ele diz que eu também sou, mas acho que de uma maneira bem mais branda, afinal, a sonoridade não me é importante. Eu só vou escrevendo, escrevendo e como for, veio e ficou. Raramente mudo algo. Volto atrás. Teimosia, eu acho.  Ele já me deixou dar uma boa observada nos seus cadernos de rascunhos. Senti-me em êxtase segurando e podendo desvendar aquelas folhas: eram as coordenadas da mente dele. Toda a caótica organizada em linhas.

Lindo.
Quase chorei. Não o fiz. Achei muito inapropriado.

Depois do almoço quiseram dormir e irem à praia. Nunca contei a eles que não gosto de praia. Muita areia para pouca área corpórea. Fiquei na casa com a desculpa que tinha muita coisa para escrever.
"E tem lugar melhor para escrever do que vendo o mar, gata?"

Eles me chama assim não porque seja bonita, mas pela minha cara de menosprezo, que nem dos gatos, e acho que pela independência que criei deles. Fiz amizade com a Dona aqui do lado, a vizinha que é praticamente a mãe de todo mundo aqui da vila. Ela me contou histórias bonitas deles, de quando ela estava doente e não tinha condições de ir ao hospital e um deles a levou.
A noite é quente aqui no Rio. Não me lembro mais das minhas expectativas quanto a cidade maravilhosa. Me lembro um pouco daquelas que trouxe na bagagem e do medo de começar esse projeto. Que coisa. Que pena. Não contei ainda para eles, mas está acabando. Em pouco ou menos tempo não terei mais o que escrever sobre estes rapazes (meninos. Homens?! Homens).

Aprendi tanto sobre amizade e Amor. Encontrei pessoas que me permitem a propagação de ideias, as reflexões de olhadas para fora da janela. Vim aqui para contar uma história, a história de alguns dias deles, dos olhares deles sobre eles e dessa sincronicidade de energia que os mantêm, como pessoas individuais, como grupo, como profissionais.
A luz acende.

- Tá acordada ainda?
- Não consegui dormir. Muita coisa acontecendo...

- Muitas coisas acontecem, gata, até nos sonhos. Tenta dormir que amanhã vamos para um lugar muito legal.
Um copo de chocolate. De leite de soja. De achocolatado orgânico. Gelado.

- Ao menos que queira uma opinião o que está escrevendo.

Eles todos estão curiosos.
Ao longo desses dias eles perceberam a minha visão de mundo e meu ponto quase de autocrítica. Eles temem o que eu vejo.

Sou quase o Darth Vader da Casinha.

 

E este meu eu está assim, também achando que é o Darth Vader.

(05/12/13)

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