Os Meros Detalhes Dela.
Existem nela séries e séries de detalhes em que muito me chamam a atenção – a minha tão especializada atenção, de que nada sabe sobre presenciar detalhes, que apenas nota ao todo sem me instigar a mais nada, sem precisar destrinchar esse todo para me persuadir.
Persuasão é algo que me convida – nela. A ela. Por ela. Arrasto-me sobre aquele corpo de formas que sinto sobre meus dedos mesmo sem antes tocá-las. Dedilho sua pele, sua cintura, acompanho seu donaire com uma faminta vontade de possuí-lo para mim. Sinto seu cheiro, sinto seu gosto – ela tem gosto de café. De chocolate amargo. De morango mergulhado em doce. De tequila, sal e limão.
Ela tem gosto de olhar de lince, de Capitu – e talvez ela me traia sem saber que eu a vejo. A persuasão escorre deliberada pelos lábios, boca, palavras, e ela me persuade a ficar estagnado neste momento, neste peculiar momento em que a espreito dentre a multidão.
Ela caminha, foge, persegue, vira, retorna, desiste e dança... ah!, e como me dança. Leva-me daqui a ali, em passos firmes, machucando o chão com seus saltos, seus passos concisos. A coerência escorre pelos dedos, me matando de longe, com tiros de sedução e charme – sua boca, sua tão formosa e rubra boca. Sorrindo sem a mim. Sorrindo não para mim.
A boca sorri muito, mas são as séries de detalhes que me fazem perspicaz para os seus traços. Não aprendi a lê-la, mas a decifrá-la. Ela fala bonito, argumentando, afirmando, sem nunca perguntar – mas eu decifro suas narrações, posso capturar em minhas mãos a carne sem armadura, sem cascos, toda traumatizada.
Posso feri-la com meus dedos.
Posso machucá-la com meus beijos.
E ela me maltrata. Marca-me em fogo e em brasa em cada beijo distribuído a amores inventados... Sei que nela está guardado a mim ainda – e disso ela não pode se desvencilhar.
Não quer largar.
Os olhos, marcados em traços pretos, são castanhos, de castanhos mais escuros, mais capazes que aos meus. Os meus não atraem. Os dela me cativam. Não consigo. Não desvio nem para sorver do meu Scott. Não desvio nem quando ela some – sinto sua presença, sua lascívia ardendo contra minha vontade.
A posse.
A diferença está na posse – ela nunca quis me possuir, me chamar de seu. Sempre dizia em estar e sentir-se minha: companhia, amada, cara amiga. E o tempo que passou desproporcional para nós dois me fez decifrá-la – e ardem de dor a cada aproximação.
São meros detalhes de sua desdenha perante a mim. Ela ficou charmosa, desenvolveu suas belezas e talvez eu mate uma por uma, tornando-a, assim, desta cruel maneira, crua.
Acredite em mim, ela é linda assim – em seu puro estado natural, uma menina medrosa, desprotegida, que chora à noite nas suas controvérsias de sentimento. Amo-a assim; desejo-a em qualquer condição.
Você me arde, querida, arde a minha alma em ciúme quando brinca deste jeito com os meus ânimos, quando dança de ventre e sorrisos com outros, aproximando seu corpo até o ponto em que eu bem conheço: exato limite do atordoamento. Não nota que eles também a querem?!, deitar o seu corpo, que eu bem já decorei em suas formas e simetria, sobre uma cama de motel qualquer?! Eu a levo para casa, deixo-a em seu portão e espero-a entrar (todas as madrugadas em que você se atreve a cortar meus dedos em suas andanças noturnas. Um shot de tequila para animar, um outro para degustar e só mais um para esquecer – e temo que seja a mim).
Ela sai de noite em noite, procurando-me. E ela não encontra. Não percebe que estou sempre aqui, apoiado nos bares mais próximos para acudi-la em suas bebedeiras – as tantas em que espero ansioso e que nunca chegam. O controle é nato, não pode escorregar.
(E quando escorrega, chora e se ausenta para mim).
Fique. Capitu, fique. Aceito. Condeno-me. Mas aceito. E deixe-me aqui, à paisana, fingindo a todo instante que não é por você que meus olhos se persuadem a uma saudade e ao ato de comprimir o que senti tanto por você.
E aqui, comigo em minha face, ainda arde o estalo de seus dedos violentamente enciumados.
(bruvollet 23/06/2011)
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