Besteira mesmo foi me ver naquela situação, meio ao desespero, meio à incredulidade, em que você, voluntariamente, se pôs e - pior! - não me incluiu.
- Estou exausta, é só isso.
O pijama amarrotado, uma meia de cada pé, os esmaltes dos dedos pelas metades e um brinco faltando na orelha. "Estava me incomodando", você me disse depois. Fazia anos que eu não via suas orelhas com um único brinco ausente. Fazia anos que você aportou nessa cidade e me tornou dependente dessa amizade - então, por favor, alimente meu vício.
- Você precisa descansar. Largar o pé e deixar que as coisas fluam um pouco sem você.
E de todas as pessoas no mundo, você era a última que eu achei que diria tais palavras. Você, a preguiçosa, a desleixada, a chorona pelos cantos porque o mundo não era bom o suficiente para sua falta de prática e vontade. Ah!, os lamentos sarcásticos com resquícios de uma mágoa mais profunda. Mas, ainda com os olhos apáticos, sem sorriso de brincadeira, sem tons irônicos e sem movimentar as mãos que estavam escondidas entre as pernas, você me deu a resposta. Precisava fazer, precisava fazer qualquer coisa, desde que o verbo se mantivesse e os predicados se seguissem pela cascata de peças de dominós.
- Estou exausta - você repetiu para mim, com um leve semblante menos petrificado e mais humano que a sua ânima lhe deu ao tocar meus dedos em seus joelhos, e o medo que me acometeu me fez desejar sua exaustão para os demais dias de nossas vidas desde que você estivesse viva o suficiente para então assim poder se sentir.
- Então se sinta assim, exausta.
<3
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