Foi no meio de todo o barulho que a música deveria não ser e somado às tantas conversas conjuntas que deveriam sobreporem-se à música que os fonemas de um nome chegou aos meus ouvidos. Parecia que todos sussurravam os sons daquelas letras juntas e que seus olhos me contavam que algo estava para acontecer.
Você foi embora muito cedo. Você foi a minha paixão platônica aos 9, 10 anos e minha aventura aos 18. Achei que ficaria, que a última noite não seria de fato a última apesar de eu contar isso para todos os meus amigos. Não poderia dar o braço a torcer quanto a realmente estar ficando com a única menina que deixei se aproximar naquela fase em que a gente repele a própria mãe. Mas você se foi. Deu-me o último beijo, a última olhada nos olhos do banco do co-piloto do meu carro e eu não tive inteligência o suficiente para entender que era um adeus.
Bobo como fui, cri cegamente que haveria em breve um novo encontro.
Isso há mais de 10 anos.
Corri para a rua para frouxar o colarinho de uma camisa sem botões abotoados. O modo como todos fofocavam sobre a sua vida me fez acreditar que se materializaria diante dos meus olhos ali naquele segundo. Mas que jeito?
Do mesmo jeito como meu coração bate a menor menção do seu nome.
Faz tempo, entende? Fez muito tempo e eu me sinto aquele garoto que pedalou até a mansão do seu avô para te ajudar a estudar. O suor, a palpitação, o fôlego cortado, os dedos trêmulos. Lembro-me do segurança me julgando pelo chinelo, rosto com suor sujo de pó e a bicicleta velha. Tirou os óculos escuros e me mediu de cima à baixo, comunicou-se com alguém, os portões se abriram e ele mandou eu pedalar, se tivesse coragem.
Eu morria de medo do seu avô.
Foi só em casa que eu descobri que a minha paranoia era verdade: você estava voltando. Celada em uma caixa de tom escuro e com aquele anel de noivado já preso ao dedo. Acidente grave à parte, achei que teria uma última chance de ver seus olhos castanhos e descobrir quais sardas foram aderidas com o tempo.
Quis o acidente de carro na ironia do destino levasse seus pais quando era criança, seu avô na idade adulta e hoje você.
A palpitação é a mesma.
A mesma de quando te vi pela última vez.
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