13 de janeiro de 2013

o último canto de Sereia

Tinha o mar e tinha o som das ondas quebrando e elas quebravam no pé dela. Nem tinha Sol, daqueles de fazer por franzir a cara e esconder os olhos. Mas estava claro, iluminado.
- Isso tudo daqui parece paraíso.
- E por que não haveria mesmo de ser, Sereia?
E tinha ela, de cabelos molhados, pequena, olhos enormes. A voz suave, de canto, serenata, daquelas em que a gente canta baixinho na esperança de só o amado escutar.
- Como tu sabe meu nome?
- Sei de cor cada nome que escolhi.
Sereia se afastou e aí percebeu que não conseguia se manter longe daquela criatura estranha, tão menina, tão frágil e tão do mar. Aquela voz de certeza e compreensão, não havia linha de tempo linear que fizesse Sereia não entender quem era a criatura.
A criatura era sua mãe.
- Então eu morri de verdade.
- Pois veja tu mesma - e a criatura menina tocou, com as pontas dos dedos, o coração de Sereia e este nem doeu. Sereia encontrou uma marca, um marco de tiro de amor. Sim, estava morta.
- Mãezinha... por que teve de ser assim?!
O toque dela em seu rosto trouxe-lhe conforto, um tal deste que Sereia sentiu que poderia estar viva ou morta, ali não mais importava, estava em paz.
- Tu me pediu antes mesmo de ser carne. Me pediu para ser Sereia e me pediu para que eu fosse tua mãe. Protegi tu a vida inteira, mas não posso confinar uma alma a uma vida inteira se esta alma me pediu a eternidade comigo. Tu mesma quis vir a vida e senti-la na intensidade. Eu apenas permiti, pequena Sereia.
A criatura se mesclava em claridão e opalescência e se aproximava e se tocava em Sereia e a chamava, dando a mão, pegando pelos cabelos como se fosse niná-la.
- Dei a tu meu guardião para que ele a amasse mais que a tu e a ele e que cumprisse todos os destinos. Não se avexe, menina, venha caminhar com tua mãe.
Iemanjá estendeu as mãos e criatura menina pois então era mulher. Os cabelos negros e tão negros que Sereia logo viu a semelhança - eram, pois, os cabelos dela mesma - e viu os olhos grandes e o sorriso familiar. Conhecido, decorado, materno.
Sereia decidiu por enfim caminhar e seguir o que há muito havia pedido para Iemanjá.

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