30 de janeiro de 2013

romance às avessas

Estão vendo aquela mulher ali do outro lado? Eu sei que vocês estão imaginando o que aconteceu, que ela se apaixonou e caiu em maldições de circunstâncias ilusórias, sempre procurando fiascos nos pequenos atos humanos e sentimentais do rapaz diante de todo o descaso que ele fez.
E aí chegou aquele ponto em que disseram a ela que merecia sim algo mais digno, que a respeitasse, que a amasse, que a venerasse pela pessoa linda que ela é. Só esqueceram de dizer que seria um cara, um homem e talvez demorasse uns cincou ou sete anos.

Mas ela interpretou tudo aquilo perfeitamente bem: encontrou quem a amasse, venerasse e não visse a hora dela surgir pela porta. Encontrou um belo schnauzer, e depois veio o poodle, o lhasa apso, yorkshire terrier e aí ela descobriu os vira-latas.

Ela adotou uns três, e, de fato, todos eles a amavam, idolatravam e tratavam do jeito que ela merecia. E foi nesse meio todo que ela, de repente, tinha noventa anos e dez cachorros, fora os outros que já haviam falecido.

Esses romances da vida que acontecem talvez por uma brecha de interpretação.

13 de janeiro de 2013

o último canto de Sereia

Tinha o mar e tinha o som das ondas quebrando e elas quebravam no pé dela. Nem tinha Sol, daqueles de fazer por franzir a cara e esconder os olhos. Mas estava claro, iluminado.
- Isso tudo daqui parece paraíso.
- E por que não haveria mesmo de ser, Sereia?
E tinha ela, de cabelos molhados, pequena, olhos enormes. A voz suave, de canto, serenata, daquelas em que a gente canta baixinho na esperança de só o amado escutar.
- Como tu sabe meu nome?
- Sei de cor cada nome que escolhi.
Sereia se afastou e aí percebeu que não conseguia se manter longe daquela criatura estranha, tão menina, tão frágil e tão do mar. Aquela voz de certeza e compreensão, não havia linha de tempo linear que fizesse Sereia não entender quem era a criatura.
A criatura era sua mãe.
- Então eu morri de verdade.
- Pois veja tu mesma - e a criatura menina tocou, com as pontas dos dedos, o coração de Sereia e este nem doeu. Sereia encontrou uma marca, um marco de tiro de amor. Sim, estava morta.
- Mãezinha... por que teve de ser assim?!
O toque dela em seu rosto trouxe-lhe conforto, um tal deste que Sereia sentiu que poderia estar viva ou morta, ali não mais importava, estava em paz.
- Tu me pediu antes mesmo de ser carne. Me pediu para ser Sereia e me pediu para que eu fosse tua mãe. Protegi tu a vida inteira, mas não posso confinar uma alma a uma vida inteira se esta alma me pediu a eternidade comigo. Tu mesma quis vir a vida e senti-la na intensidade. Eu apenas permiti, pequena Sereia.
A criatura se mesclava em claridão e opalescência e se aproximava e se tocava em Sereia e a chamava, dando a mão, pegando pelos cabelos como se fosse niná-la.
- Dei a tu meu guardião para que ele a amasse mais que a tu e a ele e que cumprisse todos os destinos. Não se avexe, menina, venha caminhar com tua mãe.
Iemanjá estendeu as mãos de criatura menina pois então era mulher. Os cabelos negros e tão negros que Sereia logo viu a semelhança - eram, pois, os cabelos dela mesma - e viu os olhos grandes e o sorriso familiar. Conhecido, decorado, materno.
Sereia decidiu por enfim caminhar e seguir o que há muito havia pedido para Iemanjá.

6 de janeiro de 2013

Daquele que Esqueceu

Eu não me meto com as coisas da Igreja e nem digo respeito aos sermões do Padre. Simplesmente não o faço porque meu conhecimento é pouco sobre todo esse universo e minha fé é um filhote, ainda. Mas conheço alguns preceitos, uns tais conceitos que acredito ser de Deus (sim, eu acredito Nele).
Acredito que se foi nos dado a percepção de que em grupo é melhor, então Deus disse "amai e respeitai ao próximo" através do filho. E foi isso o que Jesus disse, que devemos amar o próximo como a si mesmo. Ponho estas linhas, pois, para trazer os fatos para perto da Igreja, o âmbito de reunião da religião (aqui, no caso, a católica). A Igreja católica é o lugar para ser traduzido as palavras e os mecanismos de Deus, o que Ele espera de nós e o que nós esperamos Dele. E eis que nesse meio, surge a figura de um rapaz que maltrata, desrespeita e desmerece o próximo.
Não quero falar sobre a mudança de religião e nem do ato que eu julgo imoral de permanecer como trabalhador num ambiente em que você desacredita. (Qual seria a credibilidade deste trabalho?). Mas quero apontar a falha como ser humano que trabalha na Igreja. Ele já agrediu, já desafiou e já mostram-se exemplos e mais exemplos de manipulação - óbvio, para que seu desejo fosse atendido.
Não falo do Padre. Falo de outro, daquele que conseguiu atrapalhar o equilíbrio de uma paróquia, que esqueceu de respeitar em reciprocidade e esqueceu que também é humano e também está sujeito a muito (podendo ser este bom ou ruim).
E trazemos então para um exemplo de empresa. Empresa é trabalhar em grupo - nenhuma quer saber de um cara que não consegue lidar com o outro. Empresa é cooperativismo. É somar e multiplicar, sempre ajudando, sempre unindo forças pelas bases para se estruturar o topo. E pode ser assim ali, na Igreja. Se você não consegue ao menos tratar seu companheiro de equipe, um cara que você depende para realizar tal serviço, como vai poder chegar a um cargo de liderança em que terá de coordenar e motivar um grupo inteiro?
Credibilidade de trabalho não diz respeito apenas ao que você faz, mas muito a quem você é.

E quem seria ele então?!

O bem maior, o bem maior... Deus é o bem maior dentro da Igreja, e devemos visar este bem maior, nos esquecendo do particular para cooperar no grupal. Na Igreja é assim, estamos todos lá na busca de respostas, de força e até mesmo apenas por estar, mas, em nenhum momento o que um quer atrapalha o que o outro pretende.

Deveria ser assim, a Empresa, a Equipe, a Igreja e o Padre controlando os meios para o bem maior.
Mas não foi.