22 de agosto de 2011

Mr Freddie Mercury is dying

Como deve ser, meu caro, descobrir algo que vai te levar à morte? Viver tantos anos já sabendo que tudo o levará para um fim doloroso e que degrine seu corpo a cada dia?! Como deveria ter sido?!
Não, não sou uma fã sua, e nem nunca fui, mas a exposição diária de sua música levou-me a curiosidade de descobrir como morreu. Não gostei. Não sei se o que eu li é verdadeiro, mas a imagem feita por mim de você deitado em sua cama com o seu amado, sem forças nem ao menos para alisar os pêlos de seus adorados gatos, me causa um grande desconforto.
Vejo-o ali, deitado em seu leito, incosciente, sem contato direto com essa realidade, sem ter como avisar que precisa ir ao toillet, sentindo a vitalidade esvair-se do seu corpo. O que te veio à mente?! Os seus shows?! Suas performaces?! Sua voz?! Sua banda, amigos, gatos?! Ou o grande "e se...?".
Eu não sei, nem o conheço - de nenhuma forma, mas me imagino sentada ao pé de sua cama, sua colossal cama, e você bem no meio dela, com travesseiros grandes, brancos e fofos, e aquele em que eu vejo não me parece nenhum pouco com quem eu costumei a ver no Live in Wimbley, 1986 (e a este assisto no carro do meu namorado). Você já não ostenta mais o bigode e nem o porte, está magro, a voz fraca (que mentira!, você nem ao menos tem força para falar agora), cara limpa.
Queria que falasse comigo, me dissesse e segredasse como foi, como é, se dói, se passa... Ou até mesmo, de repente, confortá-lo - de alguma forma. Estico a minha mão em sua direção, receosa em tocar-lhe a pele e descobrir que seu corpo já não consegue mais mantê-lo aquecido, porque, para mim, este é o sinal da vida, os 36º centígrados constantes do corpo humano. Já sei o final disso tudo, pois o vejo com os olhos de 20 anos depois, mas não queria que fosse assim. Você merecia ver sua legião de fãs se alastrar por outras duas décadas depois do novembro de 91 e ver como sua voz se perpetuou.
Você me olha e sei que não me reconhece - e nem poderia. Você não pertence mais a este lugar, fisica e mentalmente falando. Sorri-me, ou assim gosto de pensar, pois ver um ínfimo esforço para sorrir a um estranho parece-me como um último reflexo de vida. Não sorria, apenas tente; não gaste comigo suas últimas forças e o pouco de vitalidade que lhe resta. Sou uma estranha em uma fantasia - de todas, não era esta qual gostaria de ter; o seu leito e seu último suspiro são criações em que eu não gostaria de ter feito.
Mas ambos estamos aqui.
Acho que você gosta de mim, pois seus olhos opacos vidram em minha imagem e isso faz-me sentir querida neste contexto, nesta cena. Acho que para você é melhor ter a mim aqui do que alguém conhecido porque em mim a sua partida não doerá, apenas vai deixar milhares de incompreensões - e nada mais digno a um compositor, não é?! Afinal, a inspiração é assim. Às vezes. Não vou chorar, não vou remoer, nem ao menos comentar. Ver-me aqui deve ser tranquilizador para você uma vez que, comigo aqui, você pode simplesmente partir, sem deixar mais nada além de uma partida.
Aproximo-me de sua cabeceira e, mesmo diante da vontade de me deitar ao seu lado, sei que não devo fazê-lo. Aqui é o seu lugar e não o meu. Seus olhos - apenas os seus olhos e nenhuma outra parte de seu corpo - se viram para mim. Acho que agora, se pudesse, você me xingaria - e acho que eu riria de você e você riria comigo, ou até mesmo de mim. Se assim fosse possível, seria um sinal de que há vida contigo e que jamais iria embora. A vida, eu digo.
A minha mão repousa sobre a cama e sinto o leve toque da sua sobre a mim, e as minhas certezas se concretizam. Sempre soube que a sua pele reagiria em frio em contato com a minha. Você agora já se foi e a minha fantasia fica aqui comigo.
Você nem ao menos existe mais.

Bring it back bring it back,
Don't take it away from me,
Because you don't know
What it means to me. 
("Love of my life", Queen).

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