8 de setembro de 2023

 O quanto uma pessoa pode se machucar pelos próprios atos?

Era o que se perguntava quando digitou o nome na busca do Facebook. Artista. Atriz. Direção de peça. Texto por. Aparentemente a mulher tinha uma expertise que não ela não tinha, não entendia e tinha vários entraves de iniciar em.

Não só isso, a voz dentro de si sussurrava, para incomodar mesmo. Ela tem muito mais. Tudo aquilo que você não tem. Nunca terá. As fotos no álbum aberto revelavam uma vida equilibrada, de alimentação e interesses, tudo o que também culminariam em brilho para os olhos dele. Como poderia competir com estabilidade e conhecimento?

E pondo que nem existia de fato uma competição.

Mas ela escolhera cavar mais, encontrar as primeiras interações e datas recuavam em muitos meses. Sereia. Deusa. Riu sozinha. Considerando o pouco que conhecia acerca dele, os elogios retomavam toda uma conceção de épicas gregas.

Apaixonou mais um pouquinho.

E doeu mais um tanto, de novo.


4 de setembro de 2023

Relato de um sonho, by her.

 --... e aí você veio me perguntar_

-- O quê?

-- Calma, deixa eu terminar!

Ele deu um passo a mais em direção a ela, com os braços mais frouxos ao lado do corpo, divertindo-se com os dedos trêmulos dela. Ela estava nervosa. Nervosa porque estava falando com ele.

-- Você me perguntou se eu tinha lidos os textos.

Ele riu meio desleixado. Não por causa do conteúdo do sonho que interrompia a todo instante, numa tática barata de sedução; mas porque sabia que sorrir e rir a deixaria mais nervosa. Gostava da sensação de estar cercando sua presa.

--  E você tinha lido?

-- Não sei. Acho que não. Mas você estava alegre e me abraçou e eu perguntei se você estava bem e você_

-- Eu?

-- Tentou me beijar.

-- E no sonho eu consegui?

Ela só meneou a cabeça, de um lado para o outro, e sorriu infimamente.

-- Nem no sonho.

Houve uma brecha de discurso. Uma brecha que ele queria agarrar só pelo prazer de vê-la ficar ainda mais desestabilizada. Por causa dele. Perguntaria se na vida real ela o deixaria beijá-la.

Sim, certo?!

15 de junho de 2023

Ela gostou dele.

 -- Eu não te entendo. -- Ele ri, meio incrédulo, desacreditando que ela realmente o estava recusando. -- Tá eu e você aqui e eu tô te oferecendo o que você quer.

-- Você tá me oferecendo um beijo.

-- Posso te dar mais que um beijo.

--  Aí que tá. Eu quero mais que um beijo seu... entende?! Não é justo.

Ele se afasta para olhá-la melhor. A maquiagem densa sobre os olhos, estes que brilham para ele em alguma súplica que não pôde prever. Logo ele, que pré via tudo sobre elas.

-- O que é que não está justo pra você aqui?!

--  Pra você é só mais uma, mas aí pra mim eu não quero ser só mais uma.

--  E ainda faz poesia. Muito linda.

--  E ainda não torna a situação justa e eu... -- ela não consegue mais segurar o olhar para ele. -- E eu não quero sofrer de novo.

--  Sofrer? Achei que era sobre tesão.

--  Era. Foi sobre tesão. Lá, no começo. Mas aí... aí você foi ganhando um outro espaço, não sei se a temática das aulas, se você no seu ponto de expertise, mas foi. E não é só sobre tesão. Ou um beijo específico.

--  É sobre o quê, então?!

--  É sobre você idealizado por mim e eu te querer pra mim.

Ele se aproxima mais, segurando-a pelos ombros de modo que ela permita que os dedos masculinos escorram pelos braços.

--  Me conta como.

--  Quero ter sua atenção só para mim.

--  Você já tem grande parte da minha atenção para você.

--  O tempo todo. Quero ter as respostas certas para suas perguntas. Quero fazer as perguntas que você quer ouvir e aquelas outras que não pensou sobre. E aí falar com você. Ter você falando para mim.

--  Parece que você quer uma palestra minha, isso sim -- e ri, meio debochado.

--  Uma, duas, todas... Quero que você olhe para mim o tempo todo.

--  Você não quer mesmo só um beijo...

É uma constatação dolorida, para ela. Não era mais sobre um beijo (ou uma transa).

--  Eu queria que fosse sobre tantos outros beijos. E por isso, hoje, não pode acontecer.

7 de junho de 2023

 A minha vida é uma piada clichê de uma fanfiction bem má-ô-meno. Daquelas em que a menina de coque comendo maçã entra na Starbucks para pedir um latte e esbarra no amor da vida dela.

A diferença é que não teve coque, nem latte, nem Starbucks, nem amor da minha vida.

O que teve mesmo foi uma sala de aula com pessoas estranhas, ele lá na frente, e eu do outro lado. Foi como os poemas épicos, para fazer alusão a um dos livros que lerei por ele. Os poemas em que a voz de quem canta tais versos primeiro suplica às ninfas para que o inspirem.

A voz. dele.

A inteligência dele.

O quão ciente de si ele é e está ali, diante de todos. Todas.

Como disse, patética. A minha vida, não a dele.