Eu preciso contar uma coisa, mas só entre você e eu, tudo bem?
Ó: não me apaixonei.
Achei que seria incrível, como me lançar numa piscina fria em pleno calor derradeiro. Como comer aquele prato, daquele restaurante que fomos apenas algumas vezes. Como quando pisei em Dublin pela primeira. Quando aportei em Londres pela primeira vez. Em Porto. Em Barcelona. Em Madrid.
E não foi.
Lá no fundo -- e nas bordas também --, achei que era para isso que eu tinha nascido. (Afinal, todo mundo nasce para alguma coisa, não é?!). Mas acho que nem é isso também. Lembra de quando eu te contava que achava que não tinha lugar no mundo para mim?
Pois é. Parece que não tem mesmo.
Parece que meu fardo é não explodir -- nem por dar aula, nem por estar com alunos, nem para tentar voltar a me envolver com escrita. Parece que enquanto alguns -- muitos, pelo o que tenho visto -- nasceram para algo, eu nasci para ser fardo. Daqueles desengonçados, pesados, desajeitados, que não cabem direito aqui e nem ali e nem em outro lugar, que vai ficando pelas beiradas e bordas com o que tem porque é o que tem.
Eu não queria ser o que tem, sabe?
Queria explodir.
Queria acordar feliz e sentir que faço algo incrível.
Mas todo dia eu acordo querendo continuar dormindo porque ali as coisas acontecem. No sonho, eu conheci a Coreia do Sul e estudo italiano em Madrid. Falo coreano, entendo de finanças e, ainda, conheço o Vettel -- e de quebra faço entrevista em inglês na Mercedes. No meu sonho, eu sou empregável para eles, tenho algumas coisas que eles querem.
Aqui... sabe, não tem nada.
Então, no fim, eu só queria mesmo te perguntar uma coisa:
quando que acaba?
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