-- Eu não te entendo. -- Ele ri, meio incrédulo, desacreditando que ela realmente o estava recusando. -- Tá eu e você aqui e eu tô te oferecendo o que você quer.
-- Você tá me oferecendo um beijo.
-- Posso te dar mais que um beijo.
-- Aí que tá. Eu quero mais que um beijo seu... entende?! Não é justo.
Ele se afasta para olhá-la melhor. A maquiagem densa sobre os olhos, estes que brilham para ele em alguma súplica que não pôde prever. Logo ele, que pré via tudo sobre elas.
-- O que é que não está justo pra você aqui?!
-- Pra você é só mais uma, mas aí pra mim eu não quero ser só mais uma.
-- E ainda faz poesia. Muito linda.
-- E ainda não torna a situação justa e eu... -- ela não consegue mais segurar o olhar para ele. -- E eu não quero sofrer de novo.
-- Sofrer? Achei que era sobre tesão.
-- Era. Foi sobre tesão. Lá, no começo. Mas aí... aí você foi ganhando um outro espaço, não sei se a temática das aulas, se você no seu ponto de expertise, mas foi. E não é só sobre tesão. Ou um beijo específico.
-- É sobre o quê, então?!
-- É sobre você idealizado por mim e eu te querer pra mim.
Ele se aproxima mais, segurando-a pelos ombros de modo que ela permita que os dedos masculinos escorram pelos braços.
-- Me conta como.
-- Quero ter sua atenção só para mim.
-- Você já tem grande parte da minha atenção para você.
-- O tempo todo. Quero ter as respostas certas para suas perguntas. Quero fazer as perguntas que você quer ouvir e aquelas outras que não pensou sobre. E aí falar com você. Ter você falando para mim.
-- Parece que você quer uma palestra minha, isso sim -- e ri, meio debochado.
-- Uma, duas, todas... Quero que você olhe para mim o tempo todo.
-- Você não quer mesmo só um beijo...
É uma constatação dolorida, para ela. Não era mais só sobre um beijo (ou uma transa).
-- Eu queria que fosse sobre tantos outros beijos. E por isso, hoje, não pode acontecer.