15 de junho de 2023

Ela gostou dele.

 -- Eu não te entendo. -- Ele ri, meio incrédulo, desacreditando que ela realmente o estava recusando. -- Tá eu e você aqui e eu tô te oferecendo o que você quer.

-- Você tá me oferecendo um beijo.

-- Posso te dar mais que um beijo.

--  Aí que tá. Eu quero mais que um beijo seu... entende?! Não é justo.

Ele se afasta para olhá-la melhor. A maquiagem densa sobre os olhos, estes que brilham para ele em alguma súplica que não pôde prever. Logo ele, que pré via tudo sobre elas.

-- O que é que não está justo pra você aqui?!

--  Pra você é só mais uma, mas aí pra mim eu não quero ser só mais uma.

--  E ainda faz poesia. Muito linda.

--  E ainda não torna a situação justa e eu... -- ela não consegue mais segurar o olhar para ele. -- E eu não quero sofrer de novo.

--  Sofrer? Achei que era sobre tesão.

--  Era. Foi sobre tesão. Lá, no começo. Mas aí... aí você foi ganhando um outro espaço, não sei se a temática das aulas, se você no seu ponto de expertise, mas foi. E não é só sobre tesão. Ou um beijo específico.

--  É sobre o quê, então?!

--  É sobre você idealizado por mim e eu te querer pra mim.

Ele se aproxima mais, segurando-a pelos ombros de modo que ela permita que os dedos masculinos escorram pelos braços.

--  Me conta como.

--  Quero ter sua atenção só para mim.

--  Você já tem grande parte da minha atenção para você.

--  O tempo todo. Quero ter as respostas certas para suas perguntas. Quero fazer as perguntas que você quer ouvir e aquelas outras que não pensou sobre. E aí falar com você. Ter você falando para mim.

--  Parece que você quer uma palestra minha, isso sim -- e ri, meio debochado.

--  Uma, duas, todas... Quero que você olhe para mim o tempo todo.

--  Você não quer mesmo só um beijo...

É uma constatação dolorida, para ela. Não era mais sobre um beijo (ou uma transa).

--  Eu queria que fosse sobre tantos outros beijos. E por isso, hoje, não pode acontecer.

7 de junho de 2023

 A minha vida é uma piada clichê de uma fanfiction bem má-ô-meno. Daquelas em que a menina de coque comendo maçã entra na Starbucks para pedir um latte e esbarra no amor da vida dela.

A diferença é que não teve coque, nem latte, nem Starbucks, nem amor da minha vida.

O que teve mesmo foi uma sala de aula com pessoas estranhas, ele lá na frente, e eu do outro lado. Foi como os poemas épicos, para fazer alusão a um dos livros que lerei por ele. Os poemas em que a voz de quem canta tais versos primeiro suplica às ninfas para que o inspirem.

A voz. dele.

A inteligência dele.

O quão ciente de si ele é e está ali, diante de todos. Todas.

Como disse, patética. A minha vida, não a dele.