25 de janeiro de 2017

Saudade de casa?

Sei que era para ser uma pergunta de fácil resposta, mas é tão dúbia quanto a oportunidade. Se por "casa" você se refere ao estabelecimento em que moro agora, não, não sinto saudades. Mas se tiver qualquer resquício de "lar"... O lar fica longe. Longe - ali onde meus pais moram sob a construção física do único lugar em que conheci até a idade adulta, e com as únicas pessoas que sempre estiveram comigo desde o meu nascimento.
E antes dele - além de mim mesma.
Mas, por favor, não adentremos em tais assuntos. Deixo-o com o benefício da dúvida e eu com a amargura da duplicidade da resposta.

20 de janeiro de 2017

e de Austen não houve nada

Direciono você, querida,
para além de nós dois, postos dentro desse limite específico - e físico -, querendo na verdade borrar-nos para depois da margem e não ficarmos presos à ela. Quem dera eu poder te levar para depois de nossos seres, poder te ver crescer, expandir e ocupar toda a dimensão não linear, etérea, de nossos corpos, ver as ramificações incessantes e incontroláveis de sua mente e poder, uma única vez que me deixasse, te ver criar.

Vejo por dentro do seus olhos que a todo instante tem um fio de pensamento que se desmembra em ideia e então cada fio e cada pena se juntam e se recriam em combinações infinitas envolta do mesmo cerne. Não há pergunta sobre "o que". São tantas coisas, tantas imagens, tantas sensações que são espelhadas nas íris de seus olhos que me pego pensando se algum dia realmente suas ideias já foram transmitidas por elas.

(Ou se chegam até ali e refletem-se para dentro de seu cérebro, em todas as constatações fisiológicas que devo assumir, em todas as faíscas de pensamentos que você me faz assumir - mas não me permite realmente conhecer).


I want to trip inside your head 

Spend the day there… 
To hear the things you haven’t said 
And see what you might see
- Miracle Drug,U2 -

3 de janeiro de 2017

Olliver

A primeira vez em que te vi
o oceano você era para mim.

Não é metáfora.
Não foi amor.

Foi apenas eu descrevendo
seus olhos
menos dentro e mais para fora.

Ondas me prendiam.
Ondas me arrastavam.

A força imponente das águas
que me forçavam a mergulhar
fundo
muito fundo
a ponto de eu poder observar seu pensamentos.

Porém

não fundo o bastante
para entre os meus dedos
emaranhar seus sentimentos.