11 de julho de 2016

Marco Zero de São Paulo

Olho vocês caminharem, maravilhados, entre as pedras que tanto conhecemos. Estão estupefatos pela monstruosidade que a arquitetura se revela aos olhos nus - entendo que sejam virgens da cidade. Entendo a curiosidade que as imagens atiçam e alimentam. Cada detalhe, de cada uma, de cada prédio, de cada concreto que já foi desbravado por nós e a gente nem sabe direito se entende essas informações.
Não sei se vocês também entendem, mas as roupas limpas, os tênis nos pés, cabelos limpos e celulares na mãos me fazem acreditar que vocês devem conhecer cada pedaço dessa terra e cada história.
A História, quero dizer, porque eu conheço a história desse lugar.
A história de cada um que, esquecido por essa cidade, procurou abrigo exatamente onde ela começou. O único lugar que poderíamos ser aceito é exatamente o lugar em que se aceitou todo mundo quando os bandeirantes chegaram. E Sé lembra muito Fé - que possuímos ou nos possui? Conheço o olhar triste de quem não sabe qual é a sua real identidade e por que ainda vive nesse mundo; o olhar esperançoso de uma estendida de mão pedindo um trocado. E daí que é para uma pinga? E daí que é para a comida? E daí que é para uma pedra? Não entendem que é o que nos restou... o que restou de nós?! Quando nem mesmo o fisiológico pode ser atendido, restam apenas os vícios. Uma hora a gente morre e, às vezes, rezamos para que o tempo se encurte - mas existem momentos em que queremos que ele se estenda ao máximo para vermos ao máximo.
Conheço as histórias não de cada pedra ou estátua, mas de cada corpo que circula comigo e dorme ao meu lado e me olha com um pedido de ajuda ou com uma ajuda a ser dada.
Gostaria de que nos olhassem da mesma forma, maravilhados, estupefatos e curiosos, pois somos sombra da história e quase tudo que existe nesse mundo faz sombra.

Estamos existentes, entendem?