Poder-se-ia, pois,
na eternidade de um eco
ser o seu nome.
Forte no começo
e ondas a se propagarem.
O som se cala
E ondas continuam.
Somente
seu nome
no silêncio da eternidade.
29 de abril de 2016
6 de abril de 2016
Lembranças - lágrimas - da Madrugada
Por muito tempo o desejo único era que, diante de circunstância iguais de crescimento, o ser humano também se parecesse. E não é que veio a ser todo ao contrário?
Queria saber quais sãos as memórias que o cercam para entender qual síntese fez sentido dentro de você. O que eu lembro eram das noites dele sentado na minha cama me contando de novo a história do Pequeno Polegar, e só mais uma vez. Lembro das histórias da hora de escovar os dentes e como era difícil pronunciar "micróbio", e que ele me ajudava a alcançar a pia porque nem as pontas dos pés me davam a vantagem de ficar maior que louça.
Ele escovou seus dentes também? Porque ele bem que tentou me ensinar, mas acho que preguiçosa era minha condição desde nova.
Estávamos ambos sentados diante da imensa mesa de madeira, virada para a estante cheia de livros. Livros de nomes difíceis, enciclopédias com imagens curiosas. Primeiro o B, depois o R... como? Érre. Difícil esse daí, hein? Mas aprendi. BRUNA eu escrevi por todos os lugares, inclusive no couro do carro com giz de cera branco. A letra torta de quem acabara de decorar a sequência, mas tentei dizer que não fora eu.
Vai que ele acredita? Não acreditou.
E tinha a tarde no parquinho e ele desenhou um rosto na areia. Desenhou não. Moldou. Queria fazer igual, ter aquela habilidade de poder criar rostos que eu quisesse. E tinha você me contando sobre os moldes das nuvens e, que coisa!, como eles se assemelhavam aos cavaleiros de bronze de Cavaleiros do Zodíaco!
Ele chegava do trabalho e eu tinha que me esconder. Era a hora da judiação - em que vocês vinham ao meu encontro para fazer cócegas (cosquinhas lá em casa), e justo na época em que eu acreditava ser capaz me esconder debaixo do edredom. Azar o meu, sempre fui encontrada.
O que me remete muito à lembrança é o fato de nunca ter compreendido o que ele fazia: sabia que era Física, mas a única física que eu conhecia era a da educação. Logo, meu pai era professor de Educação Física na UNESP (que também não sabia o que era, apenas que era a escola do pai). A quem me perguntava a profissão dele, a resposta era dada na lata - e dono da UNESP.
Ele nos levava para comer lanche naquela lanchonete que hoje é loja de tinta. PIN. Vamos lá no Pin comer. Sim, vamos. Eu confesso que não gostava muito: os bancos fixos ao chão não me permitiam chegar perto do balcão.
Não me lembro de estudos, não me lembro de números. Lembro da enciclopédia Barsa em seus vinte e tantos volumes; da noite em que ele e mamãe me ajudaram a fazer a pesquisa sobre frutos com os volumes Barsa e eu só estava na 2ª série... Dormi sobre as páginas e eles continuaram por mim. Na 2ª série acho que descobri que escrever era bom. Tinha aquela redação sobre como fora meu dia e usei folha de fichário verde com a cara do Mickey estampada - para, no dia seguinte, ouvir da professora que estava incompleto (Poxa! Foi frente e verso!).
Houve brigas. Algumas me machucam até hoje só de lembrar e eu era tão nova naquela em específico. Devo tê-lo magoado também - ele percebeu que a pequena dele era egoísta e materialista aos 9-10 anos.
Outras memórias criadas me atingiram com o passar dos anos. Descobri o leve desespero paterno ao ver a filha escolher filosofia - e sei que outras aflições o enlaçam quando me vê aqui, ainda perdida, insegura e medrosa.
Dela as lembranças são resumidas em sentimentos: colo, carinho, companhia, amor. AMOR. O cuidado diário. A preocupação maternal eterna. Intrínseca. Inata. As mãos dadas até a padaria, e como eu era menor! Tinha que esticar tanto o braço para cingir seus dedos! Os trabalhos escolares e desenhos colados nas paredes do quarto, as caixas de giz de lousa compradas, os lápis de cores, os gizes de cera, gizes de pastéis... cadernos, papéis, glitter, cola, tesoura, borracha, canetas, estojos e brincadeiras.
Ela me deixava brincar a tarde inteira de loja, de supermercado, professora; comprava os bichos de pelúcia para mim e todos eram meus cachorros. Ela cedia o lençol para as minhas cabanas: em cima da minha cama, no meio da cozinha, no canto da sala. Cedia as cadeiras, os prendedores, as toalhas.
Lembro daquela noite em que passei muito mal. Como eu já odiava vomitar a noite toda: e ela acordava, segurava meu cabelo, minha testa e me pedia para fazer força. Arrumava meus cabelos depois, escovava meus dentes e me colocava para dormir junto dela, expulsando papai do lugar dele. A febre aferida. A dor de ouvido curada. A diarreia intermitente.
Ai, como criança é bixenta!
Mas ela sempre estava ali.
Teve uma época em que eu não conseguia dormir à noite: me batia o medo de perdê-los naquela madrugada! E ela vinha até mim, na cama, e me ajudava a dormir. E não é que ainda cabemos na cama de solteiro juntas?
Aonde ela fosse, eu estava junto. Hoje entendo que era a necessidade: ela tinha que me levar junto. Mas eu era a companheira: médico, vó, loja, padaria, supermercado, tia Dete, buscar o Danilo... eu estava lá, esperando para que voltássemos para casa.
Para mim, tudo se convergem em um único ponto: a mão dada.
Você entende a bondade e o amor que ela transborda? Ela é rainha, cuidadora do reino, das pessoas. Rainha dos sentimentos humanos e conhecedora de boas intenções somente. Olhá-la, hoje, me remete a uma única constatação: deveríamos, ambos, ser mais como ela. A rainha dos teimosos (você, eu, papai).
A facilidade da comunicação com ela. Se com ele há os rodeios e o medo, com ela é o contrário: é na lata, é na hora, é da forma que vier - e ela me entende, e quando não, se esforça. Ela presta atenção; faz tanta coisa ao mesmo tempo, mas presta atenção. E presta atenção em mim. Sabe exatamente como sou e eu nunca precisei listar nada. Ela me vê sem o físico, enxerga bem no fundo e muitas vezes nem precisei abrir a boca para ela saber como eu me sentia.
Esse elo eu não sei você entende. Nem eu entendo, mas faz sentido.
Você e eu já a magoamos também. Sem querer, propositalmente, sem jamais perceber.E pedimos milhares de desculpas sinceras em meio a alguns choros.
Dela eu lembro sempre de carinho sincero.
Pois bem, eu só queria entender porque somos tão diferentes. Se o fato de você ser o primogênito é o coeficiente determinante na nossa conta; se a sua sintaxe é de outros elementos. Do que você se lembra? O que foi construído em você?
Queria saber quais sãos as memórias que o cercam para entender qual síntese fez sentido dentro de você. O que eu lembro eram das noites dele sentado na minha cama me contando de novo a história do Pequeno Polegar, e só mais uma vez. Lembro das histórias da hora de escovar os dentes e como era difícil pronunciar "micróbio", e que ele me ajudava a alcançar a pia porque nem as pontas dos pés me davam a vantagem de ficar maior que louça.
Ele escovou seus dentes também? Porque ele bem que tentou me ensinar, mas acho que preguiçosa era minha condição desde nova.
Estávamos ambos sentados diante da imensa mesa de madeira, virada para a estante cheia de livros. Livros de nomes difíceis, enciclopédias com imagens curiosas. Primeiro o B, depois o R... como? Érre. Difícil esse daí, hein? Mas aprendi. BRUNA eu escrevi por todos os lugares, inclusive no couro do carro com giz de cera branco. A letra torta de quem acabara de decorar a sequência, mas tentei dizer que não fora eu.
Vai que ele acredita? Não acreditou.
E tinha a tarde no parquinho e ele desenhou um rosto na areia. Desenhou não. Moldou. Queria fazer igual, ter aquela habilidade de poder criar rostos que eu quisesse. E tinha você me contando sobre os moldes das nuvens e, que coisa!, como eles se assemelhavam aos cavaleiros de bronze de Cavaleiros do Zodíaco!
Ele chegava do trabalho e eu tinha que me esconder. Era a hora da judiação - em que vocês vinham ao meu encontro para fazer cócegas (cosquinhas lá em casa), e justo na época em que eu acreditava ser capaz me esconder debaixo do edredom. Azar o meu, sempre fui encontrada.
O que me remete muito à lembrança é o fato de nunca ter compreendido o que ele fazia: sabia que era Física, mas a única física que eu conhecia era a da educação. Logo, meu pai era professor de Educação Física na UNESP (que também não sabia o que era, apenas que era a escola do pai). A quem me perguntava a profissão dele, a resposta era dada na lata - e dono da UNESP.
Ele nos levava para comer lanche naquela lanchonete que hoje é loja de tinta. PIN. Vamos lá no Pin comer. Sim, vamos. Eu confesso que não gostava muito: os bancos fixos ao chão não me permitiam chegar perto do balcão.
Não me lembro de estudos, não me lembro de números. Lembro da enciclopédia Barsa em seus vinte e tantos volumes; da noite em que ele e mamãe me ajudaram a fazer a pesquisa sobre frutos com os volumes Barsa e eu só estava na 2ª série... Dormi sobre as páginas e eles continuaram por mim. Na 2ª série acho que descobri que escrever era bom. Tinha aquela redação sobre como fora meu dia e usei folha de fichário verde com a cara do Mickey estampada - para, no dia seguinte, ouvir da professora que estava incompleto (Poxa! Foi frente e verso!).
Houve brigas. Algumas me machucam até hoje só de lembrar e eu era tão nova naquela em específico. Devo tê-lo magoado também - ele percebeu que a pequena dele era egoísta e materialista aos 9-10 anos.
Outras memórias criadas me atingiram com o passar dos anos. Descobri o leve desespero paterno ao ver a filha escolher filosofia - e sei que outras aflições o enlaçam quando me vê aqui, ainda perdida, insegura e medrosa.
Dela as lembranças são resumidas em sentimentos: colo, carinho, companhia, amor. AMOR. O cuidado diário. A preocupação maternal eterna. Intrínseca. Inata. As mãos dadas até a padaria, e como eu era menor! Tinha que esticar tanto o braço para cingir seus dedos! Os trabalhos escolares e desenhos colados nas paredes do quarto, as caixas de giz de lousa compradas, os lápis de cores, os gizes de cera, gizes de pastéis... cadernos, papéis, glitter, cola, tesoura, borracha, canetas, estojos e brincadeiras.
Ela me deixava brincar a tarde inteira de loja, de supermercado, professora; comprava os bichos de pelúcia para mim e todos eram meus cachorros. Ela cedia o lençol para as minhas cabanas: em cima da minha cama, no meio da cozinha, no canto da sala. Cedia as cadeiras, os prendedores, as toalhas.
Lembro daquela noite em que passei muito mal. Como eu já odiava vomitar a noite toda: e ela acordava, segurava meu cabelo, minha testa e me pedia para fazer força. Arrumava meus cabelos depois, escovava meus dentes e me colocava para dormir junto dela, expulsando papai do lugar dele. A febre aferida. A dor de ouvido curada. A diarreia intermitente.
Ai, como criança é bixenta!
Mas ela sempre estava ali.
Teve uma época em que eu não conseguia dormir à noite: me batia o medo de perdê-los naquela madrugada! E ela vinha até mim, na cama, e me ajudava a dormir. E não é que ainda cabemos na cama de solteiro juntas?
Aonde ela fosse, eu estava junto. Hoje entendo que era a necessidade: ela tinha que me levar junto. Mas eu era a companheira: médico, vó, loja, padaria, supermercado, tia Dete, buscar o Danilo... eu estava lá, esperando para que voltássemos para casa.
Para mim, tudo se convergem em um único ponto: a mão dada.
Você entende a bondade e o amor que ela transborda? Ela é rainha, cuidadora do reino, das pessoas. Rainha dos sentimentos humanos e conhecedora de boas intenções somente. Olhá-la, hoje, me remete a uma única constatação: deveríamos, ambos, ser mais como ela. A rainha dos teimosos (você, eu, papai).
A facilidade da comunicação com ela. Se com ele há os rodeios e o medo, com ela é o contrário: é na lata, é na hora, é da forma que vier - e ela me entende, e quando não, se esforça. Ela presta atenção; faz tanta coisa ao mesmo tempo, mas presta atenção. E presta atenção em mim. Sabe exatamente como sou e eu nunca precisei listar nada. Ela me vê sem o físico, enxerga bem no fundo e muitas vezes nem precisei abrir a boca para ela saber como eu me sentia.
Esse elo eu não sei você entende. Nem eu entendo, mas faz sentido.
Você e eu já a magoamos também. Sem querer, propositalmente, sem jamais perceber.E pedimos milhares de desculpas sinceras em meio a alguns choros.
Dela eu lembro sempre de carinho sincero.
Pois bem, eu só queria entender porque somos tão diferentes. Se o fato de você ser o primogênito é o coeficiente determinante na nossa conta; se a sua sintaxe é de outros elementos. Do que você se lembra? O que foi construído em você?
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