31 de dezembro de 2015

Ladi Di

O telefone tocava insistentemente. Chamada seguida de chamada, sem tempo notável. Parecia uma chamada longa e única que penetrava no seu sonho e ele atendia e diziam coisas horríveis. O susto de se ver acordado com o pesadelo o levou até a cozinha, descalço mesmo, com a perda de calor dos pés para o piso gelado. Aquela dor de cabeça leve porém insistente, como se tentasse alertá-lo de que era algo mais profundo e quase esquecido. Escolheu o copo comprido já em cima da pia e o encheu de água gelada. Tomou tudo em um gole só, apoiou as mãos sobre a pia e encarou o granizo ainda com a vista meio desfocada. Olhou seu reflexo então no vidro da janela e depois para o céu escuro daquela madrugada. Uma noite tão linda e ele acordado, com pesadelos, descalço e dor de cabeça. Estranho que havia no prédio da frente alguns cômodos ainda com luzes acesas, salas com televisões ligadas e pessoas paradas, em pé, diante delas. A dor de acbeça aumentou e ele apressou os passos até o telefone. Outras luzes lá fora começaram a se acedenrem rapidamente e ele quis correr até o telefone e atender aquela única chamada longa. O salto da boca ao dizer alô e não reconhecer a voz do outro lado da linha. Senhor. Chamavam-no de "senhor", perguntando se aquele era o número certo e as paredes rodavam em torno dele de uma forma não lógica e o deixavam tonto, nauseado, e tinha aquela sensação de falta de ar e dor na boca do estômago como se algo o pressionasse ali com muita muita força. Queria vomitar, queria correr para o banheiro, ajeolhar no ladrilho e enfiar a cabeça na louça até quase sentir a água bater na ponta de seu nariz e queria levar consigo o telefone para não perder o time da confissão daquela madrugada, uma confissão que sua mente já entendia e seu coração pulava em negação. O acidente não fora culpa dela mas, que coisa, aconteceu mesmo assim. O culpado não era ela e estava sendo operado naquele mesmo instante com grandes chances de se recuperar e voltar para sua casa feliz e ver seus parentes felizes e continuar sua vida medíocre - enquanto toda a matéria dela estava fadada ao abstrato.
Ela, agora, seria essência.
Lembrança.

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